No entanto, afirmou que recebeu o apoio de Bolsonaro nos episódios mais críticos. “Nos momentos decisivos, já aconteceram duas ou três vezes, em que o presidente me apoiou. Em momentos decisivos ele me apoiou. Aconteceu agora, há dois meses, quando houve aquele veto. Não poderíamos deixar o dinheiro da crise da saúde virar aumento de salários.”
A entrevista ocorreu após o ministro se reunir com Bolsonaro e de um encontro com o relator da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Pacto Federativo, o senador Márcio Bittar (MDB-AC). Segundo Guedes, o projeto é um dos caminhos para abrir espaço no Orçamento para mais investimentos em obras. Bittar também é o relator do Orçamento de 2021.
Guedes disse que a equipe econômica estuda o que poderá ser remanejado de recursos orçamentários para que se possa fazer mais investimentos. Ele disse ver com naturalidade que alguns ministros pressionem por mais gastos, mas destacou que é seu dever alertar o presidente de que é preciso ter responsabilidade fiscal e cumprir o teto de gasto. “É natural que ministros digam que se gastou R$ 700 bilhões pode gastar R$ 720 bilhões”, afirmou. “Também é natural que eu alerte que não podemos furar o teto.”
Segundo Guedes, durante a reunião da semana passada com os presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), havia o entendimento de que se poderia remanejar recursos que sobraram de duas MPs em torno de R$ 15 bilhões de recursos que foram repassados a Estados e municípios mas que não foram utilizados. Essa conversa começou quando presidentes da Câmara e do Senado admitiram que havia sobra de recursos. “Há um pedaço que pode e outro que não pode.”
Segundo apurou o Valor, no encontro com Bolsonaro, Guedes apostou no apelo popular do auxílio emergencial para tentar convencer o presidente a reforçar o compromisso com o teto de gastos. Além de recorrer a um tom didático, o ministro teria explicado que “não há espaço fiscal para tudo”.
De acordo com fontes, ao sugerir que Bolsonaro terá que escolher as prioridades, Guedes acredita que vencerá a disputa sobre o teto. Em conversas reservadas, o ministro teria afirmado que, embora o presidente esteja satisfeito com a agenda de viagens para inaugurar obras – o que tem potencial para torná-lo mais competitivo na disputa presidencial de 2022 -, ele sabe que foi o pagamento do auxílio emergencial que garantiu o aumento da sua aprovação.
Guedes frisou que existem formas de aumentar o investimento público, destacando que ele cai a cada ano porque as despesas obrigatórias estão subindo. Nesse cenário, ele destacou que o governo mudou o regime fiscal, que começou a trabalhar com juros mais baixos. Além disso, está convidando a iniciativa privada para a realização dos investimentos. “Se fizermos o Pacto Federativo, o chão não sobe e liberamos espaço [para gastos em investimentos].”
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