Os bancos continuam apostando no crédito para consumo, principalmente através de suas financeiras e de parcerias com grandes redes varejistas. Dentre as modalidades voltadas para este fim, destaca-se o financiamento de veículos, principalmente através do leasing. Essa modalidade, de acordo com os dados do Banco Central, fechou o mês de fevereiro com um saldo de R$ 15,2 bilhões somente para pessoas físicas, um incremento de 63,3% no período de 12 meses. Somente em fevereiro, foram R$ 2,147 bilhões em novos contratos, contra R$ 1,804 bilhões no mesmo mês do ano passado, um salto de 33,98%.
A outra modalidade de financiamento de veículos, o Crédito Direto ao Consumidor, também apresenta forte crescimento. De acordo com os dados do BC, a carteira acumulada dos bancos chegou a R$ 65,275 bilhões em fevereiro, um avanço de 22,8% em 12 meses. Este ritmo de crescimento, entre as principais operações para pessoa física, só é menor que o registrado pelo crédito pessoal, em que grande parte também é voltado para o consumo. Nesta modalidade, o saldo em carteira chegou a R$ 83,386 bilhões, com um salto de 25,1% em 12 meses.
Para Rafael Euclydes de Campos Cardoso, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Leasing (Abel), este crescimento registrado nas novas operações fica dentro dos parâmetros esperados pela entidade. "No final do ano passado, fizemos uma projeção de crescimento de 30% para este ano. Nós sabemos que o mercado se aquece a partir do segundo semestre, mas só vamos poder discutir uma revisão dessa projeção após termos acesso aos números do primeiro trimestre".
Ele afirma que entre as pessoas físicas, o automóvel ainda tem a maior participação na carteira. "Até mesmo por conta do valor de um veículo, comparado aos outros bens que uma pessoa pode financiar através do leasing". Em fevereiro, os contratos com consumidores totalizaram R$ 1,719 bilhão, o que representa uma participação de mais de 70% do total.
Mas o financiamento tradicional continua merecendo atenção por parte dos bancos, e deve continuar crescendo em ritmo forte em 2007. De acordo com Dirceu Variz, diretor da Finasa, financeira controlada pelo Bradesco, o mercado deve continuar aquecido este ano. "Atualmente, temos uma carteira de aproximadamente R$ 16 bilhões, e esperamos um crescimento de 20% a 25% para 2007", afirma. Caso a projeção se confirme, a carteira da Finasa pode chegar a R$ 20 bilhões ao final deste ano.
Variz revela que a financeira, que atua somente através de concessionárias, pretende reforçar sua atuação em alguns nichos para continuar crescendo. "Nós já estamos nos estruturando para ter uma penetração maior junto ao público de alta renda, através de concessionárias que vendam carros de maior valor agregado e também de grandes negociadores", conta. Ele afirma ainda que o banco está estudando novas parcerias para colocar esta ação em prática, mas não quis dar maiores detalhes.
Captações de varejistas
As redes varejitstas também tentam se estruturar para este aumento do consumo. Na última sexta-feira, as Lojas Americanas registraram na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) uma emissão de debêntures de R$ 230 milhões. Trata-se da primeira operação do tipo oriunda de uma rede de varejo nos últimos dois anos. Assim como não houve lançamentos de debêntures do setor, os varejistas e demais empresas do comércio também não recorreram a securitização de recebíveis na forma de Fundos de Investimento em Direito Creditório (FIDC).
Na opinião de Eduardo Lisbôa Rocha, CEO da Boa Esperança Recebíveis, só empresas com fluxos de pagamentos pré-datados (cartão, cheque ou boleto) muito grandes podem gerar ativos possíveis de securitização. "Os maiores players, normalmente, já têm parcerias com financeiras, o que acaba inibindo a estruturação de FIDCs e debêntures".
Já para José Alexandre Freitas, sócio-diretor da Oliveira Trust, supermercados, varejistas e lojas de bens de consumo são potenciais originadores de FIDCs. "Geralmente as empresas do setor não são companhias abertas e o FIDC é um atrativo, pois elas acessam o mercado de capitais sem ter de abrir o capital", explica.
Segundo o executivo, ao menos duas empresas do setor realizaram consultas neste ano para ver a viabilidade da operação. "Com as quedas na taxa básica de juros (Selic), a formação de um FIDC fica mais atrativa". |