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Santander vê espaço para crescer como ‘bantech’
Lucro do banco aumentou 9,4% no quarto trimestre, para R$ 3,7 bi, em linha com o esperado
Fonte: Valor Econômico - 05/02/2020 às 03h02O setor financeiro vai se beneficiar da recuperação da economia, apesar do aumento da competição provocado por mudanças regulatórias e tecnológicas. Esse foi o cenário traçado pelo presidente do Santander Brasil, Sergio Rial, indicando que o crédito poderá crescer pelo menos 10% neste ano.
“Vai haver acomodações importantes, umas a favor e outras contra, mas o Brasil crescendo é estruturalmente positivo para a indústria financeira”, disse ontem o executivo ao ser questionado por jornalistas sobre o que esperar para o resultado do Santander em 2020.
As ações dos bancos estão pressionadas neste começo de ano, refletindo o pessimismo dos investidores sobre o impacto que as fintechs terão sobre os negócios das instituições tradicionais. Com o Santander, não tem sido diferente. As units do banco caíram ontem 1,86%, para R$ 42,78. Desde o início de janeiro, acumulam queda de 9,99%.
“Alguns analistas começam a fazer recomendações em cima de uma expectativa sobre a capacidade da gestão [dos bancos] de navegar num ambiente mais desafiador, mais conturbado, mais competitivo”, afirmou Rial.
Para o executivo, é inegável que os bancos terão de aprender a lidar com isso, mas ao mesmo tempo ainda existe um potencial inexplorado no mercado brasileiro. A adesão a serviços financeiros é muito pequena no país.
As declarações vão na mesma linha do que disse anteontem o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. “Os bancos no futuro não vão fazer tudo. Mas a torta será muito maior, porque a bancarização vai aumentar”, afirmou.
A aposta de Rial é que haverá uma aproximação entre bancos e fintechs nos próximos anos, com os primeiros tendo que buscar uma estrutura de custos mais leve e as novas empresas precisando encontrar o caminho da rentabilidade. O Santander vem tentando se preparar para isso construindo o que o executivo batizou de um “bantech”, ou uma mistura dos dois mundos. “O grande desafio de instituições como a nossa reside na sua transformação cultural. Sair desse pseudolegado que se chama banco, com tudo de bom e de ruim que tem, e transformar a experiência do consumidor em algo que gere valor”, afirmou.
Os resultados do ano passado mostram uma fotografia dessa reformulação em curso. O Santander teve lucro líquido de R$ 3,726 bilhões no quarto trimestre, aumento de 9,4% frente ao mesmo período e 2018. O número veio em linha com o esperado por analistas.
A margem financeira bruta aumentou 6,4% no mesmo intervalo, para R$ 12,241 bilhões. A alta, porém, veio do maior volume de crédito e do foco no varejo, já que o spread médio do banco recuou. “Na nossa visão, isso é resultado do processo gradual de reprecificação que está ocorrendo no Brasil, com as originações de crédito se dando em taxas muito menores que há dois ou três anos”, disseram analistas do Bradesco BBI.
O Santander fechou dezembro com R$ 432,5 bilhões em sua carteira de crédito ampliada, com alta de 5,8% no trimestre e de 11,8% em relação a dezembro de 2018. Todos os segmentos cresceram, inclusive o de grandes empresas, impulsionado pelos setores de energia, infraestrutura e consumo.
Os desafios na transição almejada pelo executivo ficaram mais evidentes nas receitas de serviços, que cresceram apenas 1,7% no quarto trimestre, para R$ 4,803 bilhões. E também no avanço de 3,5% das despesas operacionais, para R$ 5,678 bilhões.
Segundo Rial, a estratégia para reduzir despesas não virá de um programa de demissões ou do fechamento de agências, mas de um uso mais eficiente de dados. “Estamos entrando nas vísceras da organização para entender como as coisas são manufaturadas”, disse.
Ao mesmo tempo, o Santander pretende consolidar, neste ano, os novos negócios que lançou desde o fim de 2018 – como a Ben, de vouchers de alimentação, e a emDia, de recuperação de dívidas. Rial, entretanto, não descartou a possibilidade de o banco entrar em mais segmentos, como uma operação de microfinanças para pequenos produtores rurais.
No fim de 2019, o banco também adquiriu a fatia de 30% que ainda não tinha da Return, gestora de recuperação de créditos. (Colaborou Álvaro Campos)