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Samarco utilizou modelo mais barato e inseguro de barragem

08/12/2015 às 10h52


O modelo de construção usado pela Samarco na barragem que ruiu no interior de MG é considerado o mais inseguro de todos, segundo levantamento obtido pela Folha com base em dados de desastres internacionais.


Das 68 ocorrências graves com barragens que ocorreram entre 1910 e 2010, pelo menos 40% delas foram exatamente em barragens erguidas como a que ruiu um mês atrás em Mariana.


A tragédia mineira é considerada a mais grave da história em termos de quantidade de lama despejada no ambiente. E uma das piores do mundo em termos de vítimas.


Foram injetados na bacia do rio Doce mais de 40 bilhões de litros de lama, num acidente de causas ainda desconhecidas e com saldo até aqui de 15 mortos e quatro desaparecidos, além de uma matança de peixes e espécies aquáticas e terrestres. Os dejetos atravessaram mais de 500 km, pelo rio, até o mar.


A Samarco, controlada pela Vale e angloaustraliana BHP Billiton, é presidida por Ricardo Vescovi.


Para construir uma barragem que armazena os rejeitos que não viram produtos na mineração, as empresas podem erguer suas estruturas de quatro maneiras (veja quadro nesta página).


O tipo mais comum, e também o mais barato, é o chamado pelos engenheiros de "a montante". Ou seja, os vários "degraus" da barragem, que são erguidos à medida que a quantidade de rejeitos aumenta, são feitos contra o barranco ou a parede que dá toda sustentação à estrutura.


O mais seguro, e mais caro, é o tipo de construção "a jusante", quando os "degraus" da barragem vão se apoiando sobre eles mesmos, o que sustenta melhor toda massa de rejeito armazenada.


O terceiro tipo é uma espécie de mistura desses dois exemplos anteriores. O quarto modelo, considerado o mais moderno, é a construção das chamadas barragens secas, nas quais o rejeito é colocado em uma estrutura única construída previamente, como se fosse uma imensa piscina (veja quadro nesta página).


No caso da Samarco, a barragem que ruiu, segundo técnicos ouvidos pela Folha, é do mais tipo mais inseguro.


A explicação para o modelo escolhido no Brasil, que também é registrado em muitas outras empresas de mineração espalhadas pelo mundo, é principalmente econômica, segundo David Chambers, geólogo que estuda o impacto da indústria da mineração no mundo.


Para ele, se é verdade por um lado que as empresas de mineração investiram muito para aumentar suas produções de minério, o que melhorou o processo de extração, por outro elas fizeram isso de forma insustentável, tanto do ponto de vista ambiental quanto social e econômico.


"Do total de falhas e incidentes registrados desde 1990, 63% desse total está entre falhas sérias e muitos sérias", afirma Chambers.


Para ele, o aumento do número de grandes rupturas de barragens na última década atesta que as empresas optaram por correr mais riscos. O que acabou não valendo a pena, afirma o pesquisador.


Entre as sete grandes tragédias recentes, o prejuízo total para as responsáveis pelas barragens foi de US$ 3,8 bilhões. Uma média de US$ 543 milhões por falha.


Ele considera como grandes tragédias aquelas que mataram mais de 20 pessoas e lançaram no ambiente mais de 1 bilhão de litros de rejeitos. As apenas "sérias" mataram pessoas e lançaram mais de 100 milhões de litros de lama tóxica no ambiente.


"Nós projetamos, pelo ritmo dos dados que nós analisamos, 11 falhas muito sérias entre 2010 e 2020. Que custarão por volta de US$ 6 bilhões". O exemplo da Samarco reforça essa projeção.



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