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Quando há inflação de 10% é melhor trabalhar para reduzi-la, diz Volpon
09/12/2015 às 10h21
Quando há uma inflação de 10%, é melhor trabalhar para reduzi-la, porque essa pressão "começa a desorganizar d tal maneira [a economia] que isso tem impacto negativo sobre o próprio crescimento", afirmou ontem o diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central (BC), Tony Volpon.
Segundo ele, esse foi um dos principais fatores que o levaram a votar por um aumento da Selic de 0,50 ponto percentual na reunião mais recente do Comitê de Política Monetária (Copom), ao lado da alta das expectativas inflacionárias. No encontro, o Copom, por seis votos a dois, decidiu manter a Selic em 14,25% ao ano.
Volpon falou rapidamente com jornalistas depois de participar de evento fechado à imprensa com pesquisadores do Peterson Institute for International Economics (PIIE), um centro de estudos em Washington. Os motivos para o seu voto foram um dos temas em discussão, disse ele.
Com uma inflação que supera 10%, "trabalhar para efetivamente trazer a inflação para baixo vai ser alguma coisa que de fato vai ajudar o crescimento até no curto prazo", afirmou Volpon.
No atual cenário, não valeria a ideia de que, no curto prazo, "é possível deixar a inflação correr um pouquinho mais" para ter um "crescimento um pouquinho maior". Ele ressaltou que esse "trade off" não existe no longo prazo. A questão é que, com uma inflação superior a 10%, nem no curto prazo ele existiria.
Na reunião do Copom do fim de novembro, Volpon e o diretor de Organização do Sistema Financeiro do BC, Sidnei Corrêa Marques, votaram por uma alta de 0,50 ponto da Selic. "Mas, lendo a ata, ficou claro que todo o comitê está engajado em entregar a inflação mais próxima possível de 4,5% em 2016 e certamente em 4,5% em 2017", afirmou Volpon, para quem deverá haver uma desinflação importante em 2016.
Segundo ele, o Copom deveria ter "ajustado a postura monetária" na reunião anterior devido a fatores como a superação do nível de 10% da inflação acumulada em 12 meses e a alta das expectativas. Para o próximo encontro do Copom, será necessário analisar os "fatos e os dados" para avaliar qual a decisão mais adequada.
A política monetária continua ativa, potente e efetiva, não havendo um quadro de dominância fiscal no Brasil, defendeu Volpon.
Para ele, se o país enfrentasse esse problema, seria algo muito nocivo para investimentos em renda fixa, e o mercado mostraria reações como "prêmios muito grandes na parte longo da curva de juros, níveis de volatilidade implícita do câmbio muito altos", com a moeda se desvalorizando com força e as expectativas de inflação em alta expressiva. Esses movimentos ocorreriam porque haveria o risco de se "perder dinheiro pelo descontrole da inflação" ou por algum "evento de reestruturação de dívida", disse. "Mas nada disso é verdade no Brasil. As curvas não estão nesses níveis e as expectativas ainda são de queda de inflação nos próximos anos."
Segundo ele, a questão da dominância fiscal foi um dos temas discutidos no Peterson Institute. A economista Monica de Bolle, uma das pesquisadores do centro de estudos, tem defendido a ideia de que o Brasil enfrenta esse problema. As contas públicas estariam em tamanha desordem que o BC perderia a capacidade de controlar os preços e fazer política monetária, nota ela. Num quadro de dominância fiscal, se a autoridade monetária eleva os juros, crescem os gastos financeiros do setor público, piorando ainda mais a situação fiscal. Isso contamina a percepção de risco, pressionando o câmbio e o mercado de títulos.
Para Volpon, porém, esse não é o caso do Brasil. "Nós não estamos em dominância fiscal e o mercado não espera que o Brasil entre em dominância fiscal", avaliou Volpon. "Não que as dificuldades fiscais não atrapalhem política monetária, nós descrevemos isso na ata, mas a política monetária continua ativa, potente e efetiva para controlar a inflação e vai continuar a fazer isso."
Volpon afirmou ainda que "o processo de ajuste da economia está em curso, apesar das dificuldades". Segundo ele, uma das questões que precisam ser ajustadas é a relação entre preços livres e administrados, que já voltou aos níveis de 2011. Outro ponto é a evolução do custo unitário do trabalho em dólar ajustado pela produtividade, disse ele, notando que esse indicador, "muito importante em termos de competitividade da economia e da indústria, já retornou aos níveis de 2009. "Ninguém nega que há várias dificuldades no cenário, mas o processo de ajuste está caminhando."
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