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Programas de crédito e fidelidade poupam dinheiro do consumidor
Fonte: O GLOBO - 12/04/2016 às 11h04Se, como diria Platão, a necessidade é a mãe da invenção, não seria exagero afirmar que a crise é a mãe da busca por preços mais em conta. O cenário atual do Brasil mostra que todos buscam um desconto como podem, seja com programas de crédito, de fidelidade ou até de reembolso de impostos. E as empresas que atendem esses pedidos percebem que promoções e reduções de preço dão (bom) resultado para elas.
É o caso do Grupo Pão de Açúcar (GPA), que controla, entre outros, os supermercados Pão de Açúcar e Extra. Renato Camargo, Gerente de Fidelidade do GPA, destaca o momento oportuno desses tipos de programa tanto para o consumidor quanto para os comerciantes.
— Os clientes enxergam cada vez mais que programas de relacionamento são formas eficientes de conseguir descontos exclusivos, o que significa uma excelente opção em momentos financeiros instáveis — disse ele.
Entre os programas do grupo, estão o Clube Extra, em que clientes trocam pontos por vale compras, e o Pão de Açúcar Mais, que, além da troca de pontos por compras, dá também direito exclusivo aos descontos da rede para os associados ao programa, que vão de 10% a até 100%, dependendo do produto em questão. Agora, o Pão de Açúcar Mais começa a enviar cupons personalizados para as casas de seus clientes. Criado em 2000, ele foi o primeiro programa de fidelidade do varejo brasileiro. O Clube Extra surgiu mais tarde, em 2014.
Mas além de programas permanentes, há também aqueles de curto prazo, que vêm especialmente para ajudar o consumidor em tempos de crise. É o caso do #tamojunto, da Giraffas, rede brasileira de fast-food. A promoção, que começou na última segunda-feira, dia 4 de abril, e vai até 14 de junho, dá 25% de desconto a quem estiver acompanhado e pedir um prato ou sanduíche do cardápio “Campeões de Vendas”. A intenção é aproximar a marca do consumidor.
— Nós entendemos que este ano seria de grandes desafios tanto para a empresa quanto para o consumidor. Queríamos passar a imagem de estarmos perto deles, e então lançamos a promoção. Começamos na semana passada e já tivemos um resultado incrível, de cerca de 10% a 15% de volume de vendas a mais, dependendo da região — afirmou Ricardo Guerra, diretor de marketing da rede.
Apesar de, a princípio, parecer imprudente reduzir dessa forma os preços justamente em um momento de crise, Guerra afirma que até agora a atitude foi boa para os negócios, e que a perspectiva é que a situação se mantenha assim.
— A ideia é que as vendas cresçam, porque a pessoa vai à loja acompanhada. Portanto, ainda que caia o preço médio do prato principal, há também a bebida, sobremesa… Tem outros itens que compõem a nossa mesa. Então queremos compensar as coisas para que todos saiam ganhando, inclusive nossos franqueados, que são muito importantes para nós — afirmou.
NÚMEROS INDICAM AUMENTO NA ADESÃO
Os dados parecem apoiar essa tese. Pesquisa que abrange cinco das maiores companhias do segmento de fidelidade (Dotz, Grupo LTM, Multiplus, Netpoints e Smiles) e membros da Associação Brasileira das Empresas do Mercado de Fidelização (ABEMF) mostra que no ano passado o faturamento bruto de pontos delas cresceu 27,1% em relação a 2014. O faturamento foi de R$ 5,04 bilhões, e o total de inscritos foi de mais de 70 milhões de pessoas, crescimento de 20,7% comparado com 2014.
Outra pesquisa que dá força à teoria é a pesquisa feita pela Nox4Think e recomendada pela Dotz, que entrevistou 915 brasileiros em sete estados. A conclusão foi que 93% dos brasileiros selecionam melhor os gastos para sobreviver à crise econômica, focando mais em alimentação e medicamentos. Além disso, 60% mudou os hábitos de consumo. 26% chegou a concentrar as compras em locais onde é possível acumular pontos.
Uma dessas pessoas é o jornalista Roberto Augusto, que já é cliente do Dotz — programa que dá pontos a quem compra em um de seus comércios parceiros e dá ao consumidor a chance de trocar esses pontos por outros produtos — há sete anos, mas que só nos últimos tempos passou a realmente dar valor a seus pontos.
— Antes, eu juntava muitos pontos no cartão e nunca usava. Mas quando vi na minha fatura que eles iam expirar, decidi começar. Aí eu fiz recargas no celular, troquei por ingressos no cinema. Hoje eu mal deixo acumular, já gasto direto — diz ele. Roberto também mudou os lugares onde faz compras:
— Do fim do ano para cá, eu vi que o Prezunic aceita o dotz nas compras. Desde então, eu e a minha esposa sempre fazemos compras do mês lá. E eu sempre vejo diferença no preço — afirmou.
Alexandre Prado, consultor e especialista em finanças, afirma que esse hábito é comum nos dias de hoje:
— Isso ocorre, primeiramente, pelo aspecto psicológico. Ao aderir a um programa de fidelidade, as pessoas tem a possibilidade de consumir sem necessariamente botar a mão no bolso, e isso lhes dá uma sensação muito boa. Esse é o principal aspecto. Outro, mais consciente, é o de gerar benefícios financeiros mais sólidos. É isso que faz as pessoas aderem a um cartão de crédito com determinada bandeira pra poder tirar vantagens depois, por exemplo — diz.
PODER PÚBLICO TAMBÉM ENTRA NO JOGO
E a chance de faturar mais ao oferecer vantagens ao consumidor não é popular apenas entre empresas. Governos também estão aprendendo a dar vantagens para seus cidadãos. O estado de São Paulo, por exemplo, iniciou o programa Nota Paulista. Para estimular as pessoas a pedirem a nota fiscal quando compram algum produto, o governo estadual devolve até 20% do ICMS recolhido pelo estabelecimento. Os consumidores podem utilizar o dinheiro como crédito e até concorrer a prêmios em sorteios.
O Rio de Janeiro tem iniciativa parecida, com a Nota Carioca. Quem pedir a Nota Fiscal de Serviços Eletrônica (documento que substitui as notas impressas tradicionais) pode receber 10% do ISS pago. A quantia pode ser usada para abater o IPTU do seu imóvel ou como crédito, que será depositado na conta-corrente indicada pelo contribuinte.
Alexandre Prado afirma que, apesar dos intuitos diferentes entre empresas e governos, a estratégia é a mesma.
— Com os governos, é um programa de bonificação, e não de fidelidade. Mas, nos dois casos, o objetivo é dar uma vantagem para que se possa arrecadar mais posteriormente — conclui.