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O BC e seus dilemas
Fonte: COLUNA NO GLOBO - 08/06/2016 às 11h06O economista Ilan Goldfajn se comprometeu ontem, durante a sabatina no Senado, a levar a inflação para o centro da meta. Disse e repetiu. Pode parecer o cumprimento da mais simples das suas tarefas, mas nos últimos cinco anos isso não aconteceu, nem ocorrerá este ano. Pela projeção que ele mesmo fazia no Itaú, nem no fim de 2017 se chegará a 4,5%.
Ilan falou também de crescimento, como decorrência da melhora geral da economia que poderá ser conseguida com ajuste fiscal e inflação na meta. “Estou certo que esse objetivo poderá ser conquistado por meio do funcionamento harmônico e complementar das instituições brasileiras. É amplamente registrada na literatura econômica a importância do fortalecimento das instituições para o crescimento econômico sustentável”, disse.
O economista explicou como é importante manter a inflação na meta para absorver os “choques” que sempre acontecem. Ressaltou que estava feliz em voltar ao setor público, como forma de retribuir ter estudado em universidade pública.
O discurso estava perfeito, mas o grande debate lá no Senado foi sobre se alguém que vem de banco — e a senadora Vanessa Grazziotin chegou a falar que o Itaú era o banco que ele dirigia — poderia ser presidente do Banco Central. Primeiro era preciso explicar que ele não dirigia o Itaú. A função de economista-chefe é totalmente distante do trabalho de administração de recursos, aplicações financeiras, de operação do banco. É o setor de análise e estudos. Segundo, e isso foi dito por alguns senadores, nos 13 anos petistas vários diretores do BC foram recrutados no mercado e o presidente do Banco Central dos dois mandatos de Lula fora anteriormente presidente de um banco estrangeiro. Política não é mesmo a arte da coerência.
Uma proposta da neo-oposição foi a de que houvesse uma quarentena de entrada como tem a de saída. Ilan explicou que, ao sair, é preciso ter a quarentena porque o funcionário teve acesso a informações que precisam perder a validade. Ao entrar, explicou, não faz sentido, porque não há informação do setor privado que o setor público não possa saber. Se o Banco Central é o órgão regulador e fiscalizador dos bancos, evidentemente sabe da situação das instituições financeiras. Um completo nonsense essa ideia.
O senador Cristovam Buarque, como sempre, levantou uma questão relevante sobre qual é o nível ótimo das reservas cambiais. Elas estão altas e isso é um seguro, mas o custo de carregá-las é muito elevado. Ilan disse que esse assunto tem sido debatido e não há consenso. Que neste momento é importante ter reservas neste nível de 20% do PIB do país, mas que, em outro momento, quando não houver a crise vivida agora, pode ser bom retomar o debate sobre o nível ótimo de reservas. O fato é que o Brasil sempre teve falta de dólar nas crises e o fator cambial foi um enorme complicador. É uma tranquilidade não ter também escassez de dólar.
Muitos senadores falaram dos altos juros brasileiros e dos spreads elevados. E este é mesmo um insistente problema em todos os governos. Mas nada funcionou no país para reduzir esse diferencial entre o custo de captação e empréstimo que chega a níveis bizarros em algumas modalidades de crédito. O governo Fernando Henrique tentou ampliar as informações sobre as taxas de diferentes bancos achando que isso incentivaria a competição e as derrubaria. Não funcionou. O governo Lula tentou com o consignado reduzir a taxa para alguns segmentos, isso ampliou o acesso ao crédito, mas aumentou a parte do mercado que não é afetada pela política monetária, criando mais uma dificuldade para o Banco Central. É um desafio para qualquer presidente do BC trabalhar para que o spread bancário seja menor do que os níveis praticados no país.
Ilan, aprovado ontem por 56 a 13 e uma abstenção, assumirá o Banco Central com problemas graves de curto prazo. A inflação está muito acima do teto da meta, e a recessão é a pior da nossa história. O presidente do Senado, Renan Calheiros, ao proclamar o resultado, defendeu a autonomia do Banco Central e com estabelecimento de mandato. Nem Ilan tinha ido a tanto. Ele defendeu a autonomia e disse que mandato deveria ser discutido quando o país estivesse preparado para isso.
(Com Alvaro Gribel, de São Paulo)