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Moody's ameaça cortar nota do Brasil

10/12/2015 às 11h24


A Moody's deixou o Brasil mais perto de perder o grau de investimento por mais uma agência de classificação de risco, o que pode restringir a aplicação de alguns investidores globais no país. Ontem, a agência colocou a nota do país atualmente em "Baa3" em revisão para possível rebaixamento, citando a deterioração da economia e o cenário político conturbado. Mauro Leos, vice-presidente e analista sênior da Moody's, afirmou ao Valor que a alta incerteza política provocada, entre outros motivos, pelo início do processo de impeachment tem impacto na soberana porque dificulta a aprovação de medidas de ajuste fiscal essenciais para colocar a dívida pública em trajetória de queda. O impeachment da presidente Dilma Rousseff, segundo ele, ainda não é o cenário considerado mais provável, mas a agência está levando em conta tal possibilidade.


Apesar disso, Leos disse que a principal motivação para colocar a nota em revisão não foi política. Conforme justificou, o ponto mais relevante foi a rápida deterioração de praticamente todos os indicadores econômicos.


Questionado se o início do processo de impeachment teria servido de gatilho para a ação, Leos disse que não e afirmou que "a revisão [para possível corte] busca responder à questão de se a economia e o quadro fiscal vão melhorar.


Obter a resposta ficou mais difícil por conta do cenário político".


Antes da decisão, a nota soberana do Brasil tinha perspectiva estável. A avaliação denominada "revisão para possível rebaixamento" é diferente da "perspectiva negativa", já que a decisão sobre o rating tende a ser mais rápida, em até três meses. No caso da perspectiva negativa o período para análise é mais longo, entre 12 e 18 meses.


Segundo Leos, a Moody's decidiu colocar a nota em revisão e não em perspectiva negativa porque "todos os indicadores [econômicos] estavam indo na direção errada". Por conta disso e do imbróglio político, era necessário reavaliar o futuro dos indicadores de atividade do Brasil, já que as últimas projeções da agência estão, agora, sob o risco de não se concretizarem. "Os números provavelmente vão ser piores que o esperado.


Queremos agora ter uma avaliação mais precisa do que pode acontecer com os números", disse.


A expectativa da Moody's, segundo Leos, é que nesse período de revisão o orçamento de 2016 seja aprovado, o que, segundo ele, será o "ponto de partida" para a análise da agência da trajetória fiscal e econômica do país.


Leos disse ainda que a agência está considerando em sua análise a possibilidade de haver um engessamento político no Brasil. "Há problemas políticos reais. Há problemas econômicos reais. Há problemas fiscais reais.


Esses problemas estão levando a déficits e taxas de endividamento [público] maiores. Para resolver isso, o governo precisa ter um plano e para ter um plano precisa de apoio no Congresso", disse Leos. "Os problemas políticos vão complicar. Ficará mais difícil o Congresso entrar em acordo sobre as medidas e isso pode atrasar a consolidação fiscal. Pode levar a uma paralisação política".


Na nota em que comunicou a colocação do rating em revisão, a Moody's disse que o primeiro fator que motivou a decisão foi a "deterioração rápida e significativa das tendências macroeconômicas e fiscais, e reduzida possibilidade de reversão dessas tendências nos próximos 2 a 3 anos". Leos afirmou que a agência esperava recuperação mais sólida da economia em 2018 e agora essa projeção está sob risco. "É possível, mas não sabemos", disse.


Durante a revisão, a Moody's irá avaliar "a capacidade e disposição das autoridades de colocar a política fiscal de volta aos trilhos, restaurar o crescimento econômico e conter e reverter os índices de endividamento".


Isso, segundo a agência, exige vontade e consenso político. "A situação política tornou-se cada vez mais complicada. O início do processo de impeachment contra a presidente este mês lança ainda mais dúvidas sobre a possibilidade de cooperação entre o Congresso e o Executivo para a aprovação de medidas significativas de consolidação fiscal em 2016, deixando pouco espaço para que se combata as tendências de piora fiscal no médio prazo", diz o comunicado da agência.


O Brasil perdeu o grau de investimento pela Standard & Poor's em setembro, quando a nota foi cortada de "BBB" para "BB+". Procurada ontem, a S&P não fez comentários. Em webcast em setembro, a diretora de ratings soberanos da América Latina, Lisa Schineller, disse que o impeachment não seria o principal fator para definir uma revisão de nota do Brasil, mas sim a execução de políticas fiscais, a trajetória de crescimento da economia e a condução da política monetária de forma eficiente. Na semana passada, a diretora de risco soberano da Fitch Ratings, Shelly Shetty, disse, por e-mail, que a agência continua a acompanhar a evolução dos fatos e avaliar como os recentes acontecimentos vão ter impacto sobre a ação política, a trajetória fiscal do Brasil, o desempenho económico e qualidade de crédito soberano, não fazendo ontem comentários extras. (Colaboraram Chrystiane Silva e Felipe Marques)



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