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Meta, por ora, é conseguir chegar a 2016
30/11/2015 às 10h59
A possibilidade de o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDBRJ), abrir amanhã o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff eleva ainda mais a tensão política, o que pode ocorrer sem prejuízo da racionalidade exigida para a avaliação de três importantes informações econômicas com divulgação prevista para esta semana e que vão sintetizar, na prática, o primeiro ano do segundo mandato presidencial de Dilma Rousseff o primeiro do quarto mandato do Partido dos Trabalhadores (PT) no Palácio do Planalto.
Nesta segunda-feira, o Banco Central apresentará o resultado consolidado das contas públicas em outubro e nos primeiros 10 meses do ano. Não será bom. Amanhã, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicará o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) do país no terceiro trimestre deste ano e, na quinta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) detalhará a ata do encontro realizado na semana passada.
Das contas públicas consolidadas é esperado mais um déficit primário, confirmando indicações da arrecadação de tributos federais e os dados do governo central; o PIB de julho a setembro deve recuar 1,3% sobre o trimestre anterior, na projeção média de 17 economistas entrevistados pelo Valor Data; e a ata do Copom talvez esclareça porque o Banco Central manteve a Selic inalterada em 14,25%, mas impôs viés de alta para a reunião do colegiado marcada para janeiro ao mudar substancialmente o comunicado dirigido ao mercado.
Ainda não está claro se o Brasil passará tranquilamente de ano mas, se não passar, não será por falta de dedicação aos extenuantes testes de um "intensivão" de democracia inspirado em conceitos mínimos. A saber: nas democracias os Poderes se respeitam, a Justiça funciona e o bem público é do cidadão. Quando essa estrutura política funciona, a econômica tende a dar melhores resultados. Esforços e propósitos coletivos são maximizados e, os dissensos, minimizados.
É compreensível que essa leitura pareça generosa demais diante de tanta falcatrua reportada. Mas é inegável a importância histórica deste momento. Pela primeira vez, aqui se registra a prisão concomitante de um empresário, um banqueiro e um senador da República. Por justa causa ou injustamente, os três compartilham o mesmo destino por atropelar leis, avançar sobre o erário ou proteger quem optou por esse descaminho.
Para lidar com tudo isso com um mínimo de seriedade, o Brasil cursa um "intensivão" que pode até resultar em doutorado, mas vai demorar. O aprendizado é longo. E, até lá, ao brasileiro talvez seja solicitado acostumar-se às consequências da corrupção alheia. Essa desconfortável possibilidade vem sendo cogitada por profissionais do mercado financeiro para quem a operação Lava-Jato tem um desfecho moroso demais para conter as sequelas econômicas de tanto desvario..
De certo, sabe-se que a fragilidade do sistema judiciário brasileiro ainda muito circunstancial faz eco em todo o mercado financeiro. Sem dúvida impacta o risco do país e a disposição de por aqui se investir no curto prazo.
O momento evidencia que nem todo juro compensa desassossego.
Não há dúvida de que o ajuste da economia brasileira será demorado. O juro seguirá elevado por muito tempo. Mas, no longo prazo, que a faxina ética, moral e também de procedimentos operacionais e contratuais de serviços e obras trarão resultados positivos quase ninguém duvida. Neste momento, porém, há riscos. E parte deles deriva de incerteza combinada com a taxa de crescimento zero ou negativo por um bom tempo, desequilíbrio fiscal, inflação alta, desemprego em ascensão, baixo nível de confiança e governo com índice de popularidade de 1 dígito.
Isoladamente, esses vários ingredientes desagregadores do bem-estar social dizem pouco. Juntos, contudo, podem patrocinar uma convulsão. Mas não se apresse a avaliar a probabilidade disso ocorrer antes de o Brasil estar de pé, recuperar a capacidade de crescer, depurar suas leis e avaliar melhor seus governantes. Não necessariamente nessa ordem.
Depauperado, o Brasil precisa agora é de soluções urgentes e não de debates ideológicos ou estritamente político partidários.
O Brasil precisa fechar suas contas e chegar a 2016. E a presidente parece ter consciência dessa necessidade.
Depois de passar o fim de semana em Paris e participar da instalação da Conferência Internacional do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU) CoP21, Dilma Rousseff embarcou rumo ao Brasil nesta segunda-feira.
A presidente tem muito a fazer amanhã, terça, um dia de arromba no Congresso Nacional. Para dar curso a decisões que tomou na sexta, Dilma cancelou visitas oficiais ao Vietnã e ao Japão que ocorreriam na sequência da passagem pela França, e deverá definir, neste começo de semana, quem será o parlamentar a assumir a liderança do governo no Senado, posto ocupado até a semana passada, por Delcídio do Amaral (PTMS), detido pela Polícia Federal por tentar atrapalhar as investigações da Lava-Jato.
A presidente tem muito a fazer amanhã, terça, um dia de arromba no Congresso Nacional. Para dar curso a decisões que tomou na sexta, Dilma cancelou visitas oficiais ao Vietnã e ao Japão que ocorreriam na sequência da passagem pela França, e deverá definir, neste começo de semana, quem será o parlamentar a assumir a liderança do governo no Senado, posto ocupado até a semana passada, por Delcídio do Amaral (PTMS), detido pela Polícia Federal por tentar atrapalhar as investigações da Lava-Jato.
Nesta manhã, sai o decreto que bloqueia R$ 10 bilhões do Orçamento deste ano e permite à presidente cumprir uma determinação do Tribunal de Contas da União (TCU). O Orçamento de 2015 deveria ter sido votado pelo Congresso na semana passada, mas as prisões do líder do governo no Senado e do banqueiro André Esteves, presidente do BTG Pactual, levaram ao adiamento de sessões no parlamento. E lá está o Orçamento pendente.
Não é novidade o Orçamento da União empacar no Congresso em dezembro.
Historicamente, na marca do pênalti, o documento é votado e aprovado, ponto! Desta vez é mais complicado e Dilma estará no Brasil para negociar diretamente com os aliados a aprovação do Orçamento e evitar um déficit superior a R$ 100 bilhões por agregar às contas os recursos envolvidos nas 'pedaladas fiscais'.
Angela Bittencourt é repórter especial e escreve às segundas-feiras. E-mail: angela.bittencourt@valor.com.br
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