O
recuo do PIB no terceiro trimestre levou a uma correção no mercado futuro de
juros ontem, após a alta verificada nos últimos dias. A taxa do contrato de
Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2017 caiu de 15,8% para 15,74%,
enquanto o DI para janeiro de 2021 recuou de 15,95% para 15,8%. O PIB do
terceiro trimestre
caiu 1,7% em relação ao segundo trimestre, uma retração acima da média das projeções
dos analistas apurada pelo Valor Data, que era de 1,3% no período.
Para o economista-chefe da Garde Asset Management, Daniel Weeks, o resultado
fraco do terceiro trimestre e a revisão para baixo do PIB dos trimestres
anteriores deve levar a uma piora das projeções para a atividade para ano que
vem, mas não será suficiente para compensar o aumento das expectativas de inflação.
"Apesar do PIB mais fraco, a
desancoragem das expectativas pode levar o BC subir os juros ano que vem",
diz.
Weeks afirma que a ata do Copom deve trazer um cenário mais claro sobre a visão
do BCe a opinião divergente entre os diretores. Na última reunião, dois
diretores votaram a favor de uma alta de 0,5 ponto percentual da taxa Selic,
que foi mantida em 14,25%. "Se ficar claro que a divergência foi apenas
por uma questão de 'timing', aumenta as chances do BC subir os juros em
janeiro", diz.
O estrategista chefe do Banco Mizuho do Brasil, Luciano Rostagno, chama atenção
para um conhecido problema da economia brasileira, a indexação, que, segundo
ele, tem limitado o repasse da deterioração econômica aos preços. "O PIB
caiu a uma taxa anualizada de 7% [no terceiro trimestre], mas a inflação
continua acima de 10%
[em doze meses]. E com uma inflação nesse patamar não dá para se descartar mais
aperto monetário", diz.
Rostagno reforça o coro dos economistas que veem a ausência de perspectiva de
ajuste das contas públicas como principal entrave para o BC hoje na gestão da
política monetária. Para Rostagno, o BC precisa ser "bastante
transparente" na ata, deixando claro que se não houver melhora "substancial"
na perspectiva para o ajuste fiscal a instituição vai ser obrigada a agir
elevando os juros. "Os impactos do imbróglio fiscal sobre as expectativas
de inflação precisam estar muito claros na ata", diz. O estrategista do
Mizuho ainda não mudou sua projeção e espera que a taxa Selic fique estável em
14,25% até o fim do próximo ano, mas admite que as chances de um aumento em
2016passaram a ser consideradas, devendo esperar a ata para reavaliar o
cenário.
Para a economistachefe da Arx Investimentos, Solange Srour, o problema da
inflação é a falta de uma âncora fiscal e de credibilidade, depois de o IPCA
ter ficado acima da meta nos últimos anos.
A economista destaca que o BC deve deixar claro na ata qual o horizonte em que
vislumbra a convergência da inflação para a meta, se será no meio de 2017 ou
apenas ao fim desse período. Além disso, é esperado que a autoridade destaque
qual o seu objetivo para a inflação em 2016, se buscará evitar que o IPCA
ultrapasse o teto da
meta, de 6,5%, no ano que vem, algo que foi tratado apenas no último discurso
do diretor de política econômica, Altamir Lopes, mas não consta em nenhum
documento do BC. "Acho que se o BC formalizar isso, facilitaria a
ancoragem das expectativas de inflação para 2017."
Para Solange, isso seria um sinal "hawkish" (inclinado ao aperto
monetário) que reforçaria a aposta na alta de juros, conforme a sinalização no
comunicado divulgado ao fim da reunião do Copom na semana passada. A questão
fiscal e a probabilidade de novas altas nos preços administrados no ano que vem
são outros elementos que o BC pode usar como argumentos na ata para sinalizar
aumento de juros, afirma a diretora da área de macroeconomia e política da
Tendências Consultoria, Alessandra Ribeiro. "Apesar de o motivo por trás
disso ser fiscal e o BC estar de certa forma sobrecarregado, não dá para [o BC]
apenas assistir à alta dos preços", diz.
Já o economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, afirma que o hiato
do produto (distância entre o PIB potencial e o PIB efetivo) está em terreno
desinflacionário, o que aponta inflação de preços livres mais baixa nos próximos
trimestres. E esse cenário permite a manutenção da Selic em 14,25% nas próximas
reuniões do Copom.
"Não acreditamos que o movimento de desancoragem [da inflação] para 2017
tenha vida longa, dada a forte retração da demanda doméstica", explica o
economista em relatório.
Para Weeks, o avanço das investigações da Operação Lava-Jato podem levar a uma
piora da percepção de risco, com impacto no câmbio e no ajuste fiscal, que
ficaria comprometido, e seria mais uma pressão para o BC subir a taxa de juros.
Ontem, o dólar caiu 0,73%, fechando a R$ 3,8569, depois de dois pregões consecutivos
de alta, acompanhando o movimento no exterior. Dados mais fracos da economia
americana trouxeram dúvidas sobre a possibilidade de o banco central americano
subir os juros neste mês, dando suporte à recuperação das moedas emergentes.
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