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Má qualidade de crédito pode elevar a inadimplência
A maior exposição do setor a maus pagadores com a contínua seletividade bancária em 2016 traz um novo temor de alta dos calotes ao segmento, agravado por recuperações judiciais dos clientes
Fonte: CONTÁBEIS - 24/03/2017 às 11h03As empresas de fomento mercantil (factorings) temem uma alta da inadimplência (calotes) em 2017. No ano passado, essas instituições foram impulsionadas pela maior seletividade das concessões dos bancos e taxas de juros mais competitivas no setor.
A expectativa dos especialistas entrevistados pelo DCI é de que o crescimento do segmento continue avançando até junho, mas talvez comece a desacelerar no segundo semestre deste ano.
As taxas divulgadas pela Associação Nacional do Fomento Comercial (Anfac) como referência para o preço dos créditos das factorings estão, atualmente, em 4,50% ao mês, patamar 0,18 ponto percentual menor do que os 4,68% ao mês alcançado em março do ano passado.
Segundo o professor da Saint Paul Escola de Negócios, Maurício Godói, as empresas diminuíram as taxas para aumentar a competitividade e o mercado das micro e pequenas empresas foi o principal impulsionador do fomento mercantil em 2016.
“O problema, porém, é que elas apenas recorriam às factorings porque estavam com limite estourado nos bancos e não compunham mais um perfil seguro”, comenta.
Nesse sentido, a demanda que determinou o crescimento mais significativo do fomento mercantil no ano passado reflete, no cenário atual, má qualidade das carteiras de crédito e “prejuízo” à avaliação de risco dessas empresas.
De acordo com o presidente do Sindicato das Sociedades de Fomento Mercantil e Factoring do Estado de São Paulo (Sinfac-SP), Hamilton de Brito Junior, apesar dos sinais que a economia dá de possível melhora até o final deste ano, o ambiente “ainda é uma incógnita” para as factorings.
“A demanda caiu como um todo, há menos títulos a serem negociados e a complicação maior é a quantidade de recuperações judiciais e o impacto que isso tem na qualidade do nosso crédito”, identifica.
De fato, apesar de os últimos dados da Serasa Experian apontarem queda de 25,8% nos pedidos de recuperação judicial em fevereiro frente igual mês do ano passado, a relação mensal aponta um aumento de 40,2%, de 82 requerimentos em janeiro para 115 registros no último mês.
“O problema é que nosso mercado é muito competitivo. Ninguém quer perder cliente bom, mas fica difícil decidir conceder o crédito nesse cenário nebuloso com altas frequentes de recuperação judicial”, pondera o presidente da Sinfac-SP e ressalta que, atualmente, “não há para onde avançar”. “Se a demanda está ainda menor para todo mundo, não temos o que fazer. É esperar para ver como o sistema financeiro reage até o final do ano”, acrescenta Hamilton.
Para o professor de ciências contábeis do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais de Minas Gerais (Ibmec-MG), Bruno Araújo, porém, “há esperança” de que o segmento acompanhe a retomada econômica. “As factorings suprem uma lacuna onde os bancos não querem chegar e isso deve continuar. Conforme a atividade volte, o fomento mercantil deve continuar a absorver esse espaço”, completa o professor.
Duplicatas Eletrônicas
Na intenção de amenizar os efeitos da eventual melhora de oferta bancária, outro ponto que as empresas de fomento mercantil passam a levantar é a agenda divulgada em dezembro de 2016, pelo atual presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, com medidas para desburocratizar o crédito.
“A criação das duplicatas eletrônicas como forma de regulamentar o produto para que não haja negociações em dois lugares diferentes dá muita segurança para o título”, afirma Hamilton de Brito.
O problema, porém, é que sem ter o Banco Central como regulador, as factorings ficariam fora dessa medida, dando maior lugar aos bancos. “Estamos fazendo um pleito com o BC para que isso não se torne um agravante para o nosso setor. É um ajuste já destinado e temos boas expectativas”, conclui o presidente do Sinfac-SP.