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Lucro 'concentrado' e dificuldades no Brasil: entenda o desafio do HSBC

10/06/2015 às 13h07

Dificuldades no Brasil fazem parte das razões pelas quais o banco britânico HSBC anunciou, nesta terça-feira (9), um pacote rigoroso de corte de gastos e mudanças de operações.

Ainda que as dificuldades enfrentadas pelo banco sejam bem maiores do que sua a situação em mercados específicos, o encerramento das atividades no Brasil e na Turquia foi incluído no plano estratégico enviado à Bolsa de Hong Kong e destacado por analistas e a mídia internacional.

O que está acontecendo com o HSBC, o segundo maior banco do mundo em termos de patrimônio? A resposta passa até por uma "crise de identidade".

Prejuízos e escândalos

Ao contrário da percepção de muitos, bancos não lucram o tempo todo. E o HSBC é um exemplo. Em fevereiro deste ano, o banco divulgou seus resultados para 2014, e o balanço mostrando queda de 17% nos lucros em relação a 2013 provocou calafrios no mercado - ainda assim, o lucro foi de US$ 18,7 bilhões.

Na época da divulgação dos números, o banco atribuiu a queda nos lucros ao pagamento de uma série de multas regulatórias impostas e de indenizações. Nos últimos quatro anos, o total desses pagamentos passou de US$ 11 bilhões.

Houve também arranhões na reputação do banco, sendo a mais recente o envolvimento do HSBC no esquema de evasão fiscal para clientes super-ricos usando o sistema bancário suíço, em uma lista que incluía centenas de brasileiros.

'Custo global'

Por pelo menos duas décadas, o HSBC baseou sua estratégia em uma presença em amplo número de países, algo bem exemplificado pelo slogan "O Banco Local e Global do Mundo" que marcou sua publicidade internacional.

No entanto, a chegada do diretor-executivo Stuart Gulliver, em 2011, deu início a uma mudança de posicionamento - mais especificamente a uma política de fechamentos de agências e demissões ao redor do mundo, que terá uma nova rodada nos próximos meses.

Especula-se que o número de demissões possa chegar a 50 mil nos mais de 70 países em que o HSBC hoje está presente. Tudo é parte de uma tentativa de cortar US$ 5 bilhões em gastos.

"O mundo ficou bem diferente depois da crise financeira global de 2008, e o setor bancário tem hoje mais dificuldades para obter lucros", explica Kamal Ahmed, editor de economia da BBC.

Situação no Brasil

O HSBC sacudiu o setor bancário brasileiro em 1997 ao comprar os ativos do Bamerindus, então sob intervenção do Banco Central.

Assumiu um portfólio de quase 1.300 agências (hoje reduzido para cerca de 850), carteiras de seguros, leasing e títulos de empresas.

Quase 20 anos depois, porém, o HSBC enfrenta dificuldades para competir com os demais bancos, de acordo com analistas de mercado: é apenas o sexto maior do Brasil em ativos e há quatro anos tenta se reestruturar, especialmente com a tentativa de venda da financeira Losango.

O HSBC não conseguiu conquistar espaço suficiente de concorrentes brasileiros como o Itaú e o Bradesco, e a situação se complicou em 2007, quando o gigante espanhol Santander comprou o antigo Banco Real.

No ano passado, o banco teve prejuízo líquido de R$ 549 milhões no Brasil, depois de lucrar R$ 411 milhões no ano anterior.

Mas, mesmo com os planos de vender suas operações no Brasil, o HSBC afirma que pretende manter presença no país "para atender aos clientes corporativos de grande porte em suas necessidades internacionais".

O eldorado da Ásia

O Brasil não é o único país em que o HSBC está reduzindo sua presença: mesmo na "matriz" Grã-Bretanha haverá cortes. Do número oficial de demissões, um terço (8.000) virá da força de trabalho britânica.

O banco enfrenta ainda uma queda de braço com as autoridades britânicas por causa da carga de impostos e já ameaçou mudar seu "quartel-general" de país caso não obtenha incentivos do governo. Na verdade, espera-se que o banco faça uma "volta às origens".

Fundado em Londres para servir como holding para a Corporação Bancária de Hong-Kong e Xangai, desde o século 19 opera no Sudeste Asiático.

No documento de 27 páginas enviado a investidores, o banco fez questão de ressaltar as possibilidades oferecidas pela Ásia.

E não é por menos: embora atualmente conte com apenas um terço da força de trabalho global de mais de 260 mil pessoas ao redor do mundo e tenha ativos bem menores que os controlados pelo HSBC na Europa, o continente foi responsável por 75% do lucro da instituição em 2014.

Menos humanos, mais máquinas

Os problemas enfrentados pelo HSBC não são exclusivos. Em especial um deles: a necessidade de adaptação a uma realidade em que as atividades bancárias ocorrem cada vez mais no ciberespaço ou de maneira eletrônica.

No Reino Unido, por exemplo, pagamentos com cartões superaram os feitos em dinheiro pela primeira vez em 2014. Isso explica a tendência mundial de fechamentos de agências e diminuição de pessoal na indústria bancária.



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