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Liberação do FGTS pode melhorar crédito e destravar consumo

Levantamento do SPC Brasil e de lojistas mostra que 38% das pessoas que vão sacar o fundo pretendem usar o dinheiro para pagar dívidas

Fonte: GAZETA DO POVO - 13/03/2017 às 11h03

Analistas já veem a possibilidade de o FGTS contribuir para a retomada do consumo, ainda que num segundo momento. Após o uso inicial dos recursos para a redução da inadimplência, uma melhora do perfil do crédito pode favorecer a abertura de novas linhas de financiamento.
 
Dos R$ 43,6 bilhões disponibilizados, nem tudo será sacado, dizem os profissionais, ao justificar que a ajuda positiva dos recursos será mais significativa mais adiante. “Supondo que sejam sacados R$ 31 bilhões e considerando o resultado do PIB de 2016 (R$ 6,266 bilhões), o recurso corresponde a 0,5% do PIB. Esse impacto é relativamente pequeno”, reconhece o economista Alex Agostini, da Austin Ratings. “A grande relevância dessa verba é que ajuda a melhorar a solvência das famílias”, destaca.
 
Para a economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thaís Zara, “a retomada dos níveis de consumo deve ser percebida mais ao longo do ano, se valendo da combinação entre a melhora do perfil do tomador e a queda dos juros básicos da economia”.
 
Levantamento do SPC Brasil e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) com as pessoas que pretendem sacar os fundos mostra que o dinheiro deve ser destinado ao pagamento de dívidas em 38% dos casos. Entre as classes C, D e E, essa parcela sobe para 44%. “Esse dinheiro (das contas inativas do FGTS) pode ajudar o cidadão afetado pela crise a limpar o nome e recuperar seu crédito”, avalia o presidente do SPC Brasil, Roque Pellizzaro Junior. “Reduzir a inadimplência traz um impacto positivo sobre a economia, o que resulta em menores taxas de juros cobradas ao consumidor”, acrescenta.
 
“O volume entre R$ 30 bilhões a R$ 35 bilhões que o governo estima que será sacado das contas inativas do FGTS tem elevado potencial de reduzir a inadimplência das famílias”, corrobora o economista João Morais, da Tendências Consultoria. Ele lembra que o montante representa 23% das dívidas em atraso registradas pelo Banco Central na carteira de pessoa física em dezembro. “É portanto bastante relevante para provocar redução nos calotes”, avalia.
 
A eventual redução da inadimplência, afirma Agostini, traria repercussões positivas sobre a oferta de crédito no País, consequentemente influenciando a atividade econômica. “Poderia ocasionar em uma redução da Provisão para Devedor Duvidoso (PDD), dando mais fôlego e melhorando o caixa dos bancos, que por sua vez teriam condições de oferecer empréstimos com taxas melhores”, disse. Para ele, a medida tem potencial para criar uma dinâmica positiva na economia, favorecendo o consumo mais adiante.
 
O economista Ricardo Faria, da Lopes Filho & Associados, concorda que a liberação dos recursos do FGTS pode ter algum reflexo nos juros cobrados pelos bancos, mas por um fator diferente à redução do PDD. “A quitação de dívidas é ótima para a saúde financeira dos bancos e terá algum impacto na inadimplência, mas o efeito disso sobre os juros acaba sendo marginal. A competição entre as próprias instituições pode influenciar mais as taxas”, afirmou, explicando que parte dos consumidores atualmente sem acesso a crédito poderá voltar ao mercado em busca de financiamentos e que as instituições podem disputar essa carteira de clientes. Para Faria, mais relevante na redução do custo de financiamento no País é o processo de corte da Selic, já em curso.
 
Estoque de crédito
Thaís Zara, da Rosenberg, alerta que diante do estoque de crédito no País, mesmo que a totalidade dos recursos inativos seja destinada ao pagamento de dívidas, a inadimplência ainda deverá recuar mais para que os efeitos sejam mais significativos sobre as taxas.
 
Dados do Banco Central mostram que, quando descontados empréstimos imobiliários, o endividamento total das famílias brasileiras no acumulado de 12 meses encerrados em dezembro ficou em 23,6% da renda anual, com comprometimento da renda para o pagamento de dívidas contraídas no Sistema Financeiro Nacional (SFN) em 19,1%. O economista Alex Agostini, da Austin, afirma que, para uma recuperação mais robusta do consumo, o endividamento das famílias deveria recuar para níveis menores. O primeiro semestre de 2007 foi citado como exemplo.
 
À época, o endividamento total das famílias estava em torno de 20% da renda anual, com comprometimento médio da renda em 17,4%, de acordo com Agostini. O cálculo do BC leva em conta o total das dívidas dividido pela renda no período de 12 meses e incorpora os dados da Pesquisa Nacional de Amostragem Domiciliar (PNAD) contínua e da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), ambas do IBGE.
 
Pela Medida Provisória 763/2016, que autorizou a iniciativa, tem direto a retirar o saldo das contas inativas o trabalhador que pediu demissão ou foi demitido por justa causa até 31 de dezembro de 2015. O cronograma de saques é escalonado, dividindo os trabalhadores pelo mês de aniversário e começando pelos aniversariantes de janeiro e fevereiro. Os saques começaram na sexta-feira (10).

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