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Juros sobem se teto da meta de 2016 estiver sob ameaça
06/11/2015 às 10h23
O novo diretor de Política Econômica do Banco Central, Altamir Lopes, concedeu a sua entrevista inaugural no cargo com um discurso mais franco e direto, mas na essência não mudou nada na estratégia do Comitê de Política Monetária (Copom).
Um dos pontos mais importantes na comunicação do Banco Central é que, se o novo choque de aumento de impostos e de preços administrados ameaçar o cumprimento do teto da meta de inflação de 2016, de 6,5%, o Copom subirá os juros.
Altamir levou à apresentação do Boletim Regional uma frase pronta, discutida previamente com os demais membros do Copom, que diz que "o BC adotará as medidas necessárias para o cumprimento dos objetivos do regime de metas e para trazer a inflação à meta de 4,5% ao ano em 2017".
Na sessão de perguntas e respostas, ele ressaltou que segue válida a mensagem de manutenção dos juros em 14,25% ao ano por período suficientemente prolongado de tempo.
Na essência, é a mesma coisa que havia sido dita na ata do Copom, que saiu na semana passada, afirmando que "a política monetária deve se manter vigilante de forma a assegurar o cumprimento dos objetivos do regime de metas e a convergência da inflação para a meta de 4,5% no horizonte relevante".
No jargão do BC, vigilante significa justamente que o Copom voltará a subir os juros, se for necessário. A ata do Copom também continha a mensagem de que os juros estáveis em 14,25% ao ano por um bom tempo era a estratégia mais adequada.
Trazia, ainda, o aviso de que a política fiscal não seria impedimento para um eventual aperto monetário. Ontem, Altamir agregou um recado adicional: se necessário, o BC subirá os juros "independentemente do nível de atividade que se apresente". E acrescentou que o mandato do BC é cumprir a meta de inflação.
Assim, o BC procura esvaziar dois argumentos comuns entre economistas do mercado para sustentar a tese de que o BC está com as mãos atadas para subir os juros uma suposta dominância fiscal e que o Copom estaria mais preocupado com o hiato do produto do que com a inflação.
Duas semanas atrás, o Copom adiou o cumprimento da meta de inflação, de 2016 para 2017, diante da pressão inflacionária adicional criada pelas incertezas fiscais e por novas altas de tarifas. Naquele momento, a instituição recalibrou a sua função perda, adotando uma trajetória de convergência dainflação ao centro da meta que minimize a flutuação do produto.
Ontem, Altamir deixou claro que, revista a estratégia, a atividade econômica deixa de ser questão e toda a ênfase vai para a inflação. Assim, o Copom está disposto a pagar o custo de uma recessão mais profunda para atingir os seus novos objetivos.
Quais são eles? Altamir explicou o que já estava implícito na ata do Copom, quando dizia que uma eventual ação monetária seria para garantir os "objetivos do regime de metas" e que a inflação chegaria a 4,5% no "horizonte relevante da política monetária".
Por "objetivos do regime de metas", disse Altamir, deve se entender a inflação mais próxima o possível do centro da meta, de 4,5% em 2016, e dentro do intervalo de tolerância, ou seja, sem estourar o teto de 6,5%. Por "horizonte relevante", Altamir disse que deve-se entender "4,5% ao ano" em 2017.
Há duas mensagens nessa explicação: primeiro, horizonte relevante não é um alvo móvel, que muda ao longo do tempo, como alguns analistas econômicos vinham dizendo; segundo, horizonte relevante significa antes do fim de 2017, já que Altamir se referiu à inflação de 4,5% em 12 meses.
No discurso de Altamir, portanto, ficaram claros os dois comandos principais que podem fazer o BC mudar sua diretriz de manutenção de juros: a inflação ameaçar superar o teto de 6,5% nas projeções do Banco Central e qualquer risco ao cumprimento do centro da meta em 2017.
E quando o BC vai saber ao certo se será preciso apertar a política monetária?
Vai depender fundamentalmente da solução adotada para a política fiscal.
Quanto mais tempo se arrastar a incerteza, maior o impacto sobre a cotação do dólar e expectativas de mercado, afetando as projeções do BC. E, dependendo do remédio em termos de impostos e tarifas, maior a inflação. A Cide teria um impacto maior do que a CPMF, por exemplo. Será preciso ver o quanto disso vai sobrar para a inflação nas projeções oficiais do Copom.
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