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Juro maior pode beneficiar banco médio

24/11/2015 às 09h40


Com o crédito estagnado e o ambiente econômico desfavorável, os bancos brasileiros de médio porte tiveram mais um trimestre de resultados pouco animadores. Há quem veja, porém, uma luz no fim do túnel, ainda que a perspectiva de curto prazo permaneça negativa. A avaliação de analistas é, que como os preços do crédito para empresas subiram de forma generalizada e a farta liquidez de empréstimos vinda dos bancos públicos vem secando, abriu-se um espaço que pode ser ocupado pelas instituições menores. "O aumento dos spreads de crédito nos últimos 12 meses permitiu aos bancos médios se tornarem mais competitivos em um universo mais amplo de empresas", afirma Alcir Freitas, analista sênior da agência de risco Moody's.


Com custo de captação mais alto que o dos grandes bancos, os médios tinham dificuldade em competir com as taxas menores, capitaneadas pelos públicos, nos anos anteriores. No período mais recente, fontes de captação no mercado de capitais ficaram mais caras, levando as empresas a procurar o crédito bancário com mais frequência.


A questão, porém, vai ser como emprestar, mesmo com um spread melhor, sem esbarrar na inadimplência trazida pela retração da economia. Essa cautela foi evidente no terceiro trimestre, período em que a carteira de crédito dessas instituições ficou praticamente do mesmo tamanho. O estoque de operações de empréstimos das sete instituições financeiras de capital aberto encolheu 0,7% entre junho e setembro, encerrando o mês em R$ 55,4 bilhões. No mesmo período, a carteira dos grandes bancos cresceu 3,4%.


Mesmo sem o avanço do crédito, o lucro das instituições de médio porte aumentou na maioria dos casos, porém muito mais por receitas tributárias extraordinárias do que pelo desempenho da operação financeira. Ao contrário dos grandes bancos, que se valeram do efeito contábil positivo do aumento da alíquota da CSLL sobre o estoque de créditos tributários nos balanços para reforçar as provisões contra calotes, algumas dessas instituições deixaram esse efeito inflar seus resultados.


Juntos, os sete bancos médios de capital aberto tiveram lucro contábil de R$ 289,5 milhões, ante R$ 120,6 bilhões em igual período de 2014. Entre os que tiveram melhoras mais expressivas estão Banco Pan, que reverteu prejuízo, Daycoval e Sofisa. Já o Indusval ainda amarga as consequências do calote da Ceagro, trading de grãos com quem tinha uma joint venture, e é o único do grupo a dar prejuízo.


"O cenário para 2016 é de um espaço menor para crescimento das margens com despesas de provisão aumentando. Os bancos médios sentem esse cenário com mais força, por terem menos oportunidades de diversificar sua receita para serviços", diz o analista Samuel Torres, da Fator Corretora.


O elevado volume de créditos baixados para prejuízo no trimestre, aqueles que o banco desistiu de cobrar, chamou atenção em algumas dessas instituições. O Pine, por exemplo, tirou do balanço 1,5% do total de sua carteira de crédito, que estava em atraso. No segundo trimestre, o índice de baixas era de 0,1%. No ABC Brasil, 0,9% da carteira de crédito foi baixada para prejuízo no terceiro trimestre. Boa parte desses créditos, afirmou o banco, estava relacionada a empresas envolvidas na Operação Lava-Jato, da Polícia Federal.


A saída dos créditos ruins do balanço ajudou a melhorar a inadimplência de algumas dessas instituições, na comparação com o segundo trimestre. No Pine, o índice caiu de 1,8% para 1,2%. No ABC, de 1,3% para 0,7%. Apesar dos índices menores do que a média do sistema financeiro, as instituições seguem mais vulneráveis que os grandes bancos a uma piora no cenário econômico, por terem carteiras de crédito mais concentradas, segundo um analista.


Se não conseguirem retomar o crédito, a rentabilidade dos bancos médios tende a se manter em patamares baixos. Entre os listados em bolsa, apenas o ABC Brasil conseguiu manter retornos sobre o patrimônio superiores à Selic nos últimos trimestres.


Os bancos argumentam que os baixos retornos foram o preço de uma estratégia conservadora, que preservou a manutenção de recursos em caixa contra uma eventual piora nas condições de mercado. A expectativa é que as instituições de capital aberto consigam atravessar a crise sem problemas mais severos de liquidez.


A diversificação das fontes de captação desses bancos calcada na distribuição de letras de crédito imobiliárias (LCI) e do agronegócio (LCA) para pessoas físicas também é citada como um fator que mitiga os efeitos da crise atual no balanço das instituições. Os bancos também procuraram reter mais recursos em caixa e recomprar dívidas consideradas caras, como bônus em dólar negociados no exterior.



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