"O Comitê nota que indefinições e alterações
significativas na trajetória de geração de superavit primários, bem como na sua
composição, impactam as hipóteses de trabalho contempladas nas projeções de
inflação e contribuem para criar uma percepção negativa sobre o ambiente macroeconômico.
Sobre o combate à inflação, o Comitê destaca que a literatura e as melhores
práticas internacionais recomendam um desenho de política fiscal consistente e
sustentável, de modo a permitir que as ações de política monetária sejam plenamente
transmitidas aos preços", acrescentou a instituição.
Os recados foram transmitidos pela autoridade monetária por meio da ata da
última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), ocorrido na semana
passada, quando a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, foi
mantida novamente inalterada em 14,25% ao ano.
No comunicado divulgado após o encontro, na semana passada, o BC já havia
admitido que não atingiria mais a meta central de inflação de 4,5% ao final do
ano de 2016, e informou que isso ocorreria somente dentro do "horizonte
relevante" da política monetária, ou seja, em até 24 meses até outubro
de 2017.
A inflação na meta central de 4,5% em 2016 era a principal promessa do
comandante do BC, Alexandre Tombini, mas foi abandonada. Pelo sistema de metas
de inflação vigente na economia brasileira, o BC tem de calibrar os juros para
atingir objetivos prédeterminados. Para 2015 e 2016, a meta central de
inflação é de 4,5%, mas o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que
serve de referência, pode oscilar entre 2,5% e 6,5% sem que a meta seja
formalmente descumprida..
Revisão da meta fiscal
A reunião do Copom, na qual a análise de que havia "incertezas" no
campo das contas públicas, aconteceu na semana passada, antes de o governo
confirmar a revisão da meta das contas públicas de um superávit, em 2015, para
um déficit de R$ 51,8 bilhões para as contas do governo o maior da história.
Essa revisão, a segunda da meta fiscal de 2015, foi anunciada somente nesta
semana pela equipe econômica.
Um déficit maior implica em mais recursos na economia, o que dificulta o
controle da inflação. O próprio BC avaliou, no passado, que quanto maior for o
esforço fiscal (economia para pagar juros da dívida pública e tentar manter sua
trajetória de queda, também conhecido como
"superávit primário" no Brasil), melhor é para o controle da inflação
– principal objetivo da autoridade monetária. Política de juros 'vigilante' "Nesse
contexto, o Comitê entende que, independentemente do contorno das demais
políticas, a política monetária [definição dos juros para conter pressões
inflacionárias] deve se manter vigilante, de forma a assegurar o cumprimento
dos objetivos do regime de metas e a convergência da inflação para a meta de
4,5% no horizonte relevante [até outubro de 2017]", informou a autoridade
monetária no documento divulgado nesta quinta-feira.
Inflação em patamares elevados
Segundo o Banco Central, o fato de a inflação se encontrar em patamares
elevados reflete, em grande parte, os efeitos de dois importantes processos de
ajustes de preços relativos na economia – realinhamento dos preços domésticos em
relação aos internacionais e realinhamento dos preços administrados em relação
aos livres. Até setembro, a inflação, medida pelo IPCA, somou 7,64%, o mais
elevado para o período desde 2003, quando atingiu 8,05%. Em 12 meses, avanço é
de 9,49%. Para todo este ano, a previsão do mercado financeiro é de que o IPCA
some 9,85% o maior patamar em 13 anos.
"O Comitê considera ainda que, ao longo de 2015, entre outros fatores,
esses ajustes de preços relativos na economia tornaram o balanço de riscos para
a inflação desfavorável. Nesse contexto, esses ajustes de preços fazem com que
a inflação se eleve no curto prazo e tenda a permanecer elevada em 2015, necessitando determinação e perseverança para
impedir sua transmissão para prazos mais longos. Ao tempo em que reconhece que
esses ajustes de preços relativos têm impactos diretos sobre a inflação, o
Comitê reafirma sua visão de que a política monetária pode, deve e está contendo os efeitos de segunda ordem deles
decorrentes", acrescentou o Copom, na ata de sua última reunião.
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