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Inadimplência piora em maio

Fonte: VALOR ECONÔMICO - 29/06/2017 às 10h06

A inadimplência no crédito livre para empresas teve uma forte alta em maio, de 5,6% para 6%, concentrada nas operações de capital de giro, mostram estatísticas divulgadas ontem pelo Banco Central (BC). A piora no indicador não chegou a provocar uma deterioração na carteira mais ampla de empréstimos dos bancos, mas, mesmo assim, a inadimplência total do mercado subiu de 3,9% para 4,0% ­ e o índice chegou ao maior percentual da série histórica, iniciada em março de 2011.

 

O repique na taxa de inadimplência representa mais um desafio à recuperação do mercado de crédito, que ainda registra taxas mensais negativas de variação e tem se mostrado muito frágil justamente nas operações com pessoas jurídicas. Enquanto isso, a pesquisa trimestral feita pelo BC com os bancos mostra que o crédito para empresas não deve apresentar melhora nos próximos meses. Já o crédito às famílias dá aceno de melhora, com destaque para o segmento imobiliário.

 

Em maio, o crédito bancário apresentou retração de 0,2% ante o mês imediatamente anterior, para R$ 3,065 trilhões. Em 12 meses, a retração é de 2,6%. Diante de desempenho abaixo do esperado, o BC reviu, de 2% para 1%, a sua projeção para a expansão do crédito bancário na economia em 2017. Em termos reais, no entanto, o mercado caminha para o terceiro ano de firme contração.

 

Olhando os calotes com recursos livres, a taxa subiu de 5,7% para 5,9%, ficando na média do ano. Como no ano passado, as empresas seguem com inadimplência recorde, de 6%, enquanto as famílias apresentam taxa média de 5,9%, a mesma vista em outubro do ano passado. Com recursos direcionados, a taxa total está estável em 2,2%, mas em patamar historicamente elevado.

 

Para o BC, no entanto, esse movimento não traz preocupação e é condizente com a recessão dos últimos dois anos. Segundo o chefe adjunto do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Fernando Rocha, a inadimplência segue em níveis relativamente baixos, não obstante a recessão, sugerindo que os padrões de concessão de crédito estão mais robustos.

 

"O Brasil passou por dois anos de contração significativa da atividade, e é de se esperar que a inadimplência ande com o ciclo", disse Rocha. "O ponto é que as taxas são baixas e encontram o setor bem provisionado e o sistema bem capitalizado."

 

Apesar do desempenho ruim da inadimplência, os juros bancários seguem em baixa, voltando a patamares que não
eram vistos desde meados de 2015. Segundo Rocha, esse era um movimento esperado, em linha com o ciclo de política monetária. A Selic caiu de 14,25% em outubro do ano passado para 10,25% ao ano atualmente e há mais quedas pela frente.

 

Outro fator que pode estar influenciando a queda de juros é o efeito composição, uma vez que novas regras para o rotativo do cartão de crédito já derrubaram as taxas da modalidade em mais de 40% em apenas dois meses.

 

No mês passado, o juro médio de todo o sistema caiu em 1 ponto, para 29,2% ao ano. As taxas com recursos livres cederam 2,5 pontos, para 46,8%. Para as pessoas físicas, a queda foi ainda mais acentuada, de 4,5 pontos, para 63,8%. No fim de 2016 essa taxa rodava a 74% ao ano. O juro também recua para as empresas, que pagaram, em média 25,9% ao ano em maio, contra 26,3% em abril.

 

No cartão de crédito rotativo, agora limitado a 30 dias, a taxa do chamado pagador "regular", que paga ao menos o mínimo da fatura, fechou o mês em 247,5%, vindo de 297,7% em abril e 431,1% em março. Abril foi o primeiro mês da nova regulação. O cliente que migrou do rotativo para o parcelado paga 160% ao ano, pouco acima dos 158,5% que desembolsava em março. Para o cliente "não regular", que não efetuou nenhum tipo de pagamento, o
juro ficou em 445%.

 

A queda dos juros do mercado reflete a redução do spread bancário, que mede a diferença entre a taxa de captação e aquela cobrada do tomador final. O spread médio cedeu de 22,3 pontos em abril para 21,2 pontos no mês passado. Essa queda é puxada pela retração do spread nas opções das pessoas físicas, que saiu de 31 pontos para 28,8 pontos. Já o custo do dinheiro para os bancos teve alta de 7,9% para 8% ao ano.

 

O nível de provisão do sistema oscilou marginalmente, mas segue elevado em termos históricos. Algo que pode ser explicado pela inadimplência e pelo movimento de deterioração na qualidade das carteiras de crédito nos últimos dois anos. Os bancos públicos mantêm 5,7% da carteira em provisão, os privados nacionais têm índice de 9,4% e os estrangeiros trabalham com 6,6%.

 

O BC também apresentou revisões para o desempenho do crédito livre e direcionado. Com recursos livres, a carteira deve fechar 2017 estável, ante previsão anterior de aumento de 2%. Em 12 meses, a contração está em 3,7%. Para o direcionado, a estimativa é de alta de 1%, ante estimativa anterior de 2%, sendo que esse segmento apresenta recuo de 1,5% nos 12 meses até maio.
 

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