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Inadimplência inicia o ano em alta

16/01/2007 às 12h29

Jornal O Estado de S. Paulo 15/01/2007

Márcia De Chiara                                                                                    

O ano começa com a inadimplência do consumidor em níveis elevados e a perspectiva é de que o calote neste semestre supere os índices alcançados entre janeiro e junho de 2006. Em novembro, a inadimplência do consumidor acima de 90 dias, aquela que realmente pode provocar perdas, correspondia a 7,7% dos créditos a receber, segundo o Banco Central (BC). É a maior marca mensal desde agosto de 2003. Se o índice de novembro tiver se repetido no mês passado, dezembro de 2006 terá atingido o maior nível de inadimplência para um mês de dezembro desde 2002.

Crédito fácil, endividamento alto, prazos mais longos dos financiamentos e o reajuste de despesas compulsórias como matrículas escolares, condomínio e impostos de início de ano acima da inflação acumulada em 2006 são combustíveis para manter o calote num nível alto por um período mais longo, não apenas em março e abril, concordam os economistas. Em outros anos, nesses dois meses ocorreu o pico do calote. 'A inadimplência deve se manter alta por um período mais longo neste ano', diz o vicepresidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira. Para ele, o ano começa com índice de calote maior em quase um ponto porcentual ante o início de 2006.

Carlos Henrique de Almeida, assessor econômico da Serasa, empresa especializada em informações financeiras, diz que o primeiro semestre deste ano vai registrar inadimplência superior ante o mesmo período de 2006 por causa da expansão do crédito de quase 24% até novembro e dos juros ainda elevados, apesar da trajetória de desaceleração. Ele ressalva que o consumidor chegou ao final de 2006 numa situação melhor.

O economista se baseia no indicador de inadimplência do consumidor apurado pela Serasa, que fechou 2006 com alta de 10,3% ante 2005. No ano anterior, o acréscimo havia sido maior, de 13,5% ante 2004. Esse indicador nacional leva em conta os cheques devolvidos, carteira de crédito de financeiras e bancos, crediário de lojas, dívidas de cartão de crédito e títulos protestados. Ele frisa que o índice é construído a partir dos dados enviados pelas lojas e instituições financeiras e não há uma padronização dos dias de atraso. Isso explica, em parte, a divergência entre o indicador do BC e da Serasa.

De toda forma, ambos os economistas consideram que a inadimplência deve continuar num nível mais levado neste semestre, ante 2006. Normalmente, observa Ribeiro de Oliveira, a inadimplência recua a partir de abril, com o fim do pagamento das compras parceladas do Natal. Mas, neste ano, o financiamento foi esticado. Matrículas escolares junto com impostos e gastos com condomínios vão pressionar o consumidor.

Para uma inflação de 3,14% acumulada em 2006, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) subiu, em média, 6,5% para carros este ano, em São Paulo. O reajuste do seguro obrigatório, que também deve ser quitado até março, foi 11,13% maior.

Outra despesa compulsória, como condomínio predial, também deve ter um reajuste em março superior à inflação de 2006. Segundo o presidente da Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo (AABIC), Luiz Fernando Robotton, o aumento dos condomínios deverá girar em torno de 5% em razão do reajuste de 6% nos salários dos funcionários dos condomínios em 2006.

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