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Inadimplência impulsiona a recuperação de crédito podre

26/04/2007 às 13h55

DCI - 26/04/2007                                         

Cada vez mais, os bancos estão tentando arrumar maneiras de diminuir suas perdas com inadimplência. Uma destas maneiras é investir em recuperação de crédito, principalmente aquele já considerado como prejuízo, vencido há mais de 180 dias. Até fevereiro, o saldo em carteira classificado no nível de risco H, de acordo com o Banco Central, totalizava R$ 26 bilhões. A maior parte, quase R$ 21 bilhões, estão nas mãos dos bancos nacionais públicos e privados. Já as operações vencidas há mais de 90 dias somavam R$ 28,139 bilhões.

De acordo com José Geraldo Girasol, diretor da Associação Nacional das Empresas de Recuperação de Crédito (Aserc), as empresas especializadas em recuperação de crédito costumam receber operações vencidas há mais de 70 dias. “Existem operações em que há a cobrança amigável, a cobrança judicial, e aquela com garantia real, que é a de mais fácil recuperação”, afirma.

Para o representante das empresas de recuperação de crédito, há ainda a necessidade de avanços neste tipo de serviço, pois a demanda deve aumentar nos próximos anos. “Com o advento da estabilidade econômica e o aumento do volume de crédito concedido, é importante que o setor de cobrança esteja preparado para atender a demanda de forma sustentável. Por isso, a importância de estar sempre investindo em tecnologia e recursos humanos”, afirma José Augusto Martins Mendes , presidente da Aserc.
Os bancos públicos sofrem mais com este tipo de perda. Até fevereiro, o saldo classificado no risco H estava em R$ 10,549 bilhões. “Temos algumas empresas trabalhando na tentativa de recuperar o nosso crédito vencido de longo prazo. Mas é algo muito complicado de reaver”, afirma Milton Luiz de Melo Santos, presidente da Nossa Caixa. De acordo com o presidente, o banco público paulista possui cerca de R$ 1,7 bilhão baixados em prejuízo.

Apesar do grande volume de operações em atraso, o crescimento do saldo nos bancos públicos tem sido em ritmo muito menos intenso do que nos bancos privados. Em relação às operações vencidas há mais de 180 dias, o crescimento em 12 meses foi de 4,1%. Já no caso das operações vencidas há 90 dias, o crescimento da carteira ficou em 7%.
Para Girasol, da Aserc, a tendência é que, com o contínuo crescimento do crédito, a inadimplência também aumente. “Isso faz com que o mercado de recuperação de crédito também se aqueça. Não no mesmo ritmo das concessões, mas estamos crescendo em um ritmo bastante acelerado”. Os números de associados demonstram bem como este mercado tem se tornado mais atraente. “Há sete anos, quando a nova administração assumiu a Aserc, nós tinhamos 17 associados. Hoje, nós já temos 80, e além da sede em São Paulo, nós abrimos um diretório regional no Rio de Janeiro , e estamos já estudando a abertura de outros escritórios em Belo Horizonte e no interior do Estado de São Paulo”.

Entre os bancos privados, a venda de carteira em prejuízo é uma prática comum. “Atualmente, os grandes bancos de varejo são os principais clientes das empresas de recuperação de crédito”, conta Girasol. Os bancos privados de capital nacional possuem um volume de R$ 10,1 bilhões classificadas no risco H pelo BC, um volume 38,3% maior que o registrado em fevereiro do ano passado. Já as operações vencidas há mais de 90 dias somavam R$ 14,6 bilhões em fevereiro, 35,4% mais que no mesmo mês em 2006.

Os bancos estrangeiros que atuam no Brasil possuem uma carteira menor em prejuízo, somando R$ 5,3 bilhões. Mas o aumento em 12 meses também foi expressivo, de 28,2%. Já as operações vencidas há mais de 90 dias fecharam fevereiro com um saldo de R$ 5,6 bilhões, um aumento de 23% em um ano. No entanto, este saldo está em queda em 2007. Desde janeiro, o saldo em atraso caiu 4,5%.

No ano passado, o banco Itaú utilizou o mecanismo para fazer uma espécie de limpeza em seu balanço. A instituição, ao final do primeiro semestre de 2006, possuía R$ 1,2 bilhão em crédito vencido há mais de 180 dias. Para aliviar o peso destes atrasos no resultado da instituição, a carteira foi vendida por R$ 185 milhões a uma empresas controlada pelo próprio Itaú.

Os bancos reclamam da legislação vigente no País . Na época, para justificar a operação, o Itaú alegava estar antecipando a adequação do Brasil às normas internacionais. No Brasil, um banco só pode lançar uma operação de crédito em prejuízo após 360 dias do vencimento. Em outros países, os próprios bancos determinam quais operações podem ou não ser recuperadas. As instituições financeiras acreditam que este seria o modelo ideal a ser implementado no Brasil.

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