Adriana Cotias e Carolina Mandl | De São Paulo 04/05/2011
Valor Econômico - SP
Domingos de Abreu, vice-presidente do Bradesco: compra de carteiras de crédito com garantia do desconto em folha de pagamento tem acelerado crescimento do banco no consignado
Os grandes bancos de varejo estão avançando no mercado de crédito consignado, aquele com desconto das parcelas em folha de pagamento, e tomando mercado que antes era ocupado por instituições menores. O espaço foi aberto com a retração dos bancos de pequeno e médio porte a partir de medida do Banco Central, em dezembro, que exigiu mais capital das instituições que operam no segmento. As operações com desconto em folha de Itaú, Bradesco e Santander no primeiro trimestre cresceram acima da média do mercado.
Enquanto os dados do BC apontaram crescimento das operações de consignado de 3,3% no primeiro trimestre e de 23,6% em 12 meses, a fotografia dos grandes bancos mostra ritmo mais intenso. O Bradesco avançou 7,4% em relação a dezembro e 40,3% na comparação com março do ano passado, levando seu estoque a R$ 16,1 bilhões, em boa medida por conta da compra de carteiras. O Santander teve expansão de 6,3% no trimestre e de 25% em 12 meses, a R$ 10,2 bilhões. Já o Itaú avançou 8,2% de dezembro até março e 28,2% em 12 meses, indo a R$ 6,9 bilhões, só contando operações próprias.
"Estamos aproveitando algumas lacunas de mercado que se abriram no ambiente competitivo. Temos espaço no balanço para isso", diz Marcelo Linardi, superintendente de crédito consignado do Santander. A instituição tem um índice de Basileia, que mede a capacidade de emprestar (alavancagem), de 22,7%, enquanto o mínimo exigido pelo BC é de 11%.
Dentro do chamado pacote de medidas macroprudenciais, o BC duplicou o capital mínimo necessário para os bancos emprestarem recursos às pessoas físicas em prazos superiores a 24 meses. No consignado, isso passou a valer para operações acima de 36 meses. "Podemos oferecer aos clientes prazos mais longos, algo que nem todos podem", diz Linardi.
A capacidade dos bancos de menor porte de gerar operações de crédito consignado vinha da venda de carteiras para as grandes instituições. Com isso, renovavam o fôlego para continuar emprestando às pessoas com desconto direto na folha de pagamento. Porém, depois dos problemas com o PanAmericano, as instituições maiores reduziram as compras de carteira e passaram a focar mais na originação própria de empréstimos. Essa não é uma das modalidades prediletas de crédito para os grandes bancos, já que constantemente sofre alguma forma de interferência governamental.
"Estamos recuperando nossa posição nesse mercado", comenta o diretor corporativo de controladoria do Itaú Unibanco, Rogério Calderon. Ele explica que, por conta da participação relativamente menor do banco nesse segmento, nem a originação foi afetada pelas medidas de aperto ao crédito. Já na carteira de ve ículos, área em que a instituição é líder, os desembolsos no trimestre caíram 30% quando comparados ao período entre outubro e dezembro, e, 15% sobre o primeiro trimestre de 2010, somando R$ 6,2 bilhões.
"Enquanto os bancos de pequeno e médio portes perderam fôlego com as medidas do BC, as grandes instituições estão com folga no balanço para emprestar", diz João Augusto Salles, economista da Lopes Filho.
O Itaú botou o pé no freio na compra de carteiras de consignado de outros bancos - recuo de 12,4% no trimestre - e, segundo Calderon, aguarda o início dos registros desses contratos na Central de Cessão de Crédito (C3) para voltar a adquirir ativos gerados por terceiros mais intensamente.
Já o Bradesco manteve a política de comprar créditos de outros bancos, estratégia que tem lhe proporcionado atalhos para crescer num segmento que contribui para manter a inadimplência do portfólio de pessoa física sob controle. Em 12 meses, os créditos de consignado adquiridos aumentaram 82,7%, indo a R$ 6,5 bilhões (avanço de 8,8% no trimestre). "Reduzimos o prazo das operações adquiridas, mas seguimos bastante efetivos", disse o vice-presidente, Domingos de Abreu, na teleconferência de resultados.
Os bancos de grande porte não negam que o crescimento da carteira de consignado também tem um objetivo claro, principalmente em tempos de alta da taxa de juros: conter a inadimplência. "Estamos buscando crescimento nas carteiras de menor inadimplência. É uma estratégia. Para isso, estamos atrás dos funcionários das empresas que são nossas clientes", diz Linardi, do Santander. "Esse é um produto importante para um banco que quer ganhar espaço no mercado. Hoje, a população já está mais consciente sobre os tipos de crédito e quando devem ser usados. Pelos custos mais baixos, o consignado tem sido bastante buscado."
Outro terreno que os bancos de grande porte têm invadido é o de crédito para pequenas e médias empresas, acrescenta Salles. A car teira do Santander, por exemplo, cresceu 27,7% em relação a março do ano passado. Ante o saldo de dezembro, a alta foi de 2,6%, indo a R$ 39,2 bilhões. O crescimento não deve parar por aí. Durante a teleconferência com analistas, o presidente do banco, Marcial Portela, informou que está finalizando uma plataforma (tecnológica) para facilitar a concessão de crédito a esse tipo de companhia.
O Itaú também tem mostrado apetite nessa área e a carteira de pessoa jurídica cresce em ritmo maior do que a de pessoa física: o estoque avançou 28,8% na comparação anual e 3,5% no trimestre, chegando a R$ 86 bilhões. Já o Bradesco tem imposto, neste ano, velocidade maior na faixa de grandes empresas (avanço de 5,3% no trimestre), embora, em 12 meses, micro, pequenas e médias apresentem expansão mais consistente (19%), com ativos de R$ 87,7 bilhões.
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