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Financiamento a empresas encolhe em R$ 123 bi em 2015

12/11/2015 às 11h05


O acesso das empresas brasileiras a novos recursos afunilou em 2015, comprimido pela atividade econômica fraca e a cautela de bancos e investidores. Considerando o crédito bancário, as captações no mercado de capitais e os empréstimos intercompanhia, dados compilados pelo Valor mostram que os recursos levantados pelo setor corporativo não financeiro nos três primeiros trimestres do ano caíram cerca de R$ 123 bilhões em relação ao ano passado, uma retração nominal de 7,6%. No mesmo período de 2014, os recursos totais concedidos às empresas cresceram 4,1% e em 2013 esse saldo se expandiu em 10,6%.


Com a aversão ao risco e a preferência por operações mais seguras, os bancos diminuíram as concessões de crédito às empresas em 4,8% nos nove primeiros meses do ano em relação ao mesmo período de 2014, de acordo com dados do Banco Central (BC). João Morais, economista da Tendências, ressalta que essa queda nominal é significativa e lembra que, incluindo a inflação na conta, o cenário se mostra ainda mais restritivo, com as concessões às empresas registrando recuo real de 11,7%. "O crédito está derretendo", afirma Morais.


Wermeson França, economista da LCA Consultores, afirma que essa retração é bem ilustrada pelo comportamento das linhas de capital de giro, ligadas ao ritmo de atividade das empresas. As concessões na modalidade caíram 8,1% entre janeiro e setembro em relação ao mesmo intervalo de 2014. "A confiança do empresário e do consumidor está em um nível muito baixo e os bancos evitando risco", afirma.


O enxugamento é ainda mais expressivo no mercado de capitais. O alto retorno exigido pelos investidores por conta da disparada no risco país inviabilizou muitas operações. As captações de empresas brasileiras não financeiras no mercado doméstico, tanto em renda fixa quanto via ações, entre janeiro e setembro caíram 29,2% em 12 meses até setembro, segundo a Anbima, associação que representa o mercado de capitais. Somados, o crédito bancário e as captações locais caíram 6,6% no acumulado dos três primeiros trimestres, para R$ 1,340 trilhão.


O financiamento externo também fechou por conta da alta no prêmio de risco do país e do risco cambial. A última emissão de bônus de uma empresa brasileira não financeira foi em junho, e o saldo das captações externas em renda fixa e variável entre janeiro e setembro é 77,6% menor que o do ano passado, segundo a Anbima.


Os empréstimos intercompanhia, de subsidiárias que captam com suas matrizes no exterior, acompanharam esse quadro e caíram 15% no acumulado de janeiro a setembro em relação ao mesmo período do ano passado. Entre 2013 e 2014, essas operações cresceram 11,3% considerando os três primeiros trimestres. Morais, da Tendências, lembra que algumas companhias estrangeiras trazem recursos para as subsidiárias brasileiras para investir localmente por conta dos juros altos, e não para uso na atividade produtiva, mas mesmo essas operações ficaram menos comuns por conta do risco cambial.


Juntas, as captações de empresas não-financeiras no mercado de capitais externo e os empréstimos intercompanhia somaram US$ 45,6 bilhões entre janeiro e setembro deste ano, valor 40,6% menor que o observado no mesmo período de 2014. Convertendo os valores pela taxa Ptax média do período, a queda é um pouco menor, de 16%, por conta da desvalorização da moeda brasileira.


A retomada do crédito ao setor corporativo está ligada ao desempenho econômico e, por isso, as perspectivas não são animadoras. A expectativa é que tanto oferta quanto demanda continuem fracas em 2016, com possibilidade de reação só em 2017 se houver recuperação da confiança de empresas e consumidores e estabilidade política.


"Só [haverá recuperação do crédito] em 2017, quando houver um cenário de reação da atividade", diz Morais, da Tendências. O economista projeta que as concessões de crédito às pessoas jurídicas com recursos livres caiam 10,8% em 2015 e 3,2% em 2016 em termos reais. "Para voltar aos níveis de 2014 demorará anos", afirma.


No curto prazo, as condições tendem a seguir restritivas. A pesquisa trimestral de condições de crédito do BC, publicada na semana passada, mostra que no terceiro trimestre a percepção das instituições financeiras consultadas sobre demanda e oferta de crédito seguem ruins.


Do lado da oferta, os indicadores do BC que variam de 2 a 2 de acordo com a percepção sobre a variável ficaram negativos para todas as categorias. O índice de condições de oferta para as grandes empresas ficou em 1,08 no terceiro trimestre e em 0,94 para as micro, pequenas e médias, ante 0,50 e 0,38 no mesmo período de 2014, respectivamente


A demanda segue escassa, já que muitas empresas reduziram os planos de investimentos e evitam se alavancar mais. O índice de demanda das grandes empresas ficou em 0,50, ante 0,29 no terceiro trimestre de 2014. No caso das micro, pequenas e médias empresas, o índice alcançou 0,52, de 0,12 um ano antes. Para o quarto trimestre, a expectativa dos bancos é que a demanda das grandes empresas volte para 0,29 e o das pequenas piore, para 0,55.


A piora tanto na demanda quanto na oferta, especialmente para micro, pequenas e médias empresa é particularmente preocupante, acrescenta França, porque esse segmento tem poucas alternativas de financiamento.



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