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Em 20 anos, crédito agrícola cresceu 3.000%; veja o que mudou
Governo afirma que produtor "não tem do que reclamar" sobre o financiamento da safra, mas admite fragilidade do seguro rural
Fonte: CANAL RURAL - 11/11/2016 às 09h11O crédito rural cresceu quase R$ 180 bilhões em 20 anos e, segundo o Ministério da Agricultura, o produtor não tem do que reclamar sobre o financiamento da safra. Para o setor produtivo, no entanto, ainda há muito o que avançar.
O crescimento de 3.000%, passou de seis bilhões em 1996 para mais de 185 bilhões em 2016. Ao mesmo tempo, o valor bruto da produção, que corresponde ao faturamento total dos produtores agropecuários do país, está cinco vezes maior, chegando a quase R$ 530 bilhões. Para o secretário de política agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller, o produtor brasileiro está bem atendido, já que pode contar com financiamentos com subvenção que garante juros abaixo da inflação.
“Na questão dos programas de financiamento, com certeza o Brasil não deixa a desejar com relação a nenhum país.
O ministro Blairo (Maggi) está muito envolvido em fortalecer cada vez mais a agricultura pra que ela possa continuar avançando. Sobre as taxas de juros, acho que o produtor não pode reclamar”, disse.
No entanto, para Benedito Rosa, que foi servidor do ministério da agricultura durante 30 anos e foi secretário de política agrícola do governo exatamente no ano em que o Canal Rural foi criado, o crescimento do volume de crédito é, em parte, fantasioso. Ele reforça que, na prática, o financiamento oficial atende apenas um terço do que o produtor realmente necessita.
Divergência
“A participação do governo se restringe ao volume de recursos com taxas controladas. O governo não tem nada que ficar dizendo que recursos livres de mercado somam tantos bilhões, que adicionados aos seus dá 200 e tantos, como diziam ministros anteriores. Isso não é uma prática de transparência e, na verdade, a taxa de juros controlados está um pouco abaixo de R$ 100 bilhões e quando se sabe que só para lavouras seria necessário o triplo disso”, falou Rosa.
O vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), José Mário Schreiner, também lembra que, mesmo com crédito disponível, os produtores têm cada vez mais dificuldade para conseguir os empréstimos.
“Chega-se ao ponto, hoje, de produtores que têm de 30 a 50 anos de histórico dentro de um banco, quando atinge 70 anos de idade, é ganhem como exigência o aval dos filhos pra que ele possam pegar um financiamento de mais longo prazo. Isso é um verdadeiro absurdo e um desrespeito com as pessoas que construíram uma história trabalhando, pagando em dia, e depois de 70 anos têm que calçar a cara e pedir aval para o filhos”, falou.
Exportações
Nos últimos 20 anos, as exportações do agronegócio passaram de US$ 21 bilhões para US$ 88 bilhões. De acordo com Neri Geller, o governo investiu, de 2006 para cá, aproximadamente, R$ 8 bilhões em políticas de garantia de renda, como o PGPM, que é o programa de garantia de preços mínimos.
Já Benedito Rosa argumenta que as políticas de apoio à comercialização foram maiores nas décadas de 1980 e 1990. “Ele atende alguns produtos, que têm maior poder de fogo político conseguem uma intervenção em momentos críticos de comercialização. Outros não conseguem e com relação aos pequenos produtores e à agricultura familiar, o governo criou uma PGPM específica pra esse setor, com aquisição, venda para o mercado institucional, que eu acho que foi um avanço sim”, disse.
O vice-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho) reconhece o avanço nas últimas duas décadas, mas ressalta que o governo precisa investir mais em garantia de renda. “Não interessa se você vai produzir bem, se o preço foi bom ou se teve uma intempérie que te quebre. Ou seja, ele te dá o empréstimo e depois toma o que você tem. Você pode ter levado 20 anos pagando uma terrinha que, de repente, se você teve três, quatro anos de frustração, você quebra e o Banco do Brasil vai tomar sua terra e dane-se. Não existe nada que dê segurança ao produtor”, completou.