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Desafio do BC será ancorar expectativas
20/10/2015 às 10h25
O maior desafio para o Banco Central neste momento em que cogita adiar a convergência da inflação para o centro da meta em 2017 é mostrar que continua comprometido em buscar a inflação mais próxima o possível do centro da meta em 2016, para evitar novas rodadas de piora nas expectativas de inflação.
Uma trajetória de convergência ao centro da meta mais crível contribui para reforçar a credibilidade do BC. Mas, no fim das contas, apenas a postura firme da política monetária poderá ancorar as expectativas. Por isso a definição da estratégia monetária é tida como fundamental.
Dados divulgados ontem no boletim Focus mostram uma nova rodada de deterioração nas projeções do mercado para 2016, que passaram de 6,05% para 6,12% em uma semana. As projeções estão mais próxima do teto da meta, de 6,5%, do que do seu centro, definido em 4,5%.
Mas, pelos cálculos públicos mais recentes do BC, a inflação em 2016 ainda está mais perto do centro da meta do que do teto do intervalo de tolerância.
A última projeção divulgada pelo BC, no Relatório de Inflação de setembro, apontava uma variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 5,3% em 2016. Ela toma como pressuposto a manutenção dos juros estáveis em 14,25% ao ano e taxa de câmbio de R$ 3,90, um pouco mais alta que o fechamento de ontem, de R$ 3,88.
O Banco Central tem acompanhado de perto a deterioração da projeções do mercado, mas sua leitura é de que elas foram influenciadas pela disparada do dólar, vista como permanente devido ao quadro fiscal. O tom pessimista é temperado pelo debate sobre uma suposta dominância fiscal, que o BC considera que está ocorrendo de forma descontextualizada.
Um estudo publicado pelo Banco Central em seu Relatório de Inflação mostra que as expectativas de inflação em prazos mais curtos, como 12 meses à frente, são fortemente influenciadas pela inflação corrente e pela depreciação cambial.
O estudo mostra que uma alta de 1% na taxa de câmbio leva a uma alta de 0,04 ponto percentual na expectativa de inflação 12 meses à frente. Cada aumento de 1 ponto percentual na inflação corrente leva a 0,2 ponto percentual na expectativa do mercado financeiro para o IPCA.
Em prazos de 12 a 24 meses, porém, as expectativas de inflação são menos sensíveis à taxa de câmbio e respondem com mais força à política monetária.
Uma alta de 1 ponto percentual nos juros leva a uma queda de 0,24 ponto percentual nas expectativas de inflação de mercado.
A alta das expectativas de inflação do mercado financeiro é um dado relevante porque afeta as projeções feitas pelo próprio BC, que tem os dados do boletim Focus como uma de suas variáveis. Mas, no fim, a estratégia de política monetária do Copom deve ser determinada pelas próprias projeções do BC.
Nos seus pronunciamentos em Washington, o presidente do BC, Alexandre Tombini, mencionou vários fatores que contribuem para baixar a inflação.
Um deles é a desaceleração mais forte do que a esperada do mercado de trabalho, que até o ano passado vinha mostrando certa resistência à desaceleração da economia. Outro é o câmbio que pressiona a inflação no curto prazo, enquanto que a recessão e o desemprego afetam preços num prazo mais longo.
O presidente do BC também lembrou que a crise fiscal pressionou os juros futuros, que em termos reais passaram de 7,4% para 8,5% entre meados de julho e a última sexta-feira.
Parte dessa alta representa maior prêmio de risco inflacionário, mas Tombini pontuou que, "de qualquer forma, representam condições financeiras mais apertadas que militam para baixar a inflação daqui por diante".
Os analistas do mercado também passaram a considerar menos provável a uma baixa de juros em 2016 que, se ocorrer, tende a ser mais tímida. Se isso ocorrer, haveria um aperto monetário mesmo com juros estáveis em 14,25% ao ano, pois a taxa real tende a subir com a queda da inflação.
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