A redução do teto dos juros do crédito consignado - que caiu de 2,72% para 2,62% ao mês para aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) - não é o melhor caminho para ampliar o acesso a essa modalidade de empréstimo, segundo a Associação Brasileira de Bancos (ABBC).
Para Renato Oliva, vice-presidente da entidade, os custos da operação de crédito é que deveriam ser abatidos. Em média, cada banco paga R$ 30 por ordem de pagamento a aposentado sem conta-corrente. No caso daqueles que têm conta, o custo cai para R$ 2. "A tendência é de desabastecimento da operação de crédito aos mais pobres, que não têm conta no banco. Não dá para emprestar R$ 70 e pagar R$ 30", diz Oliva.
Ele estima que um terço dos 20 milhões de aposentados que podem contratar consignado não têm conta bancária.
Segundo o Ministério da Previdência, o volume de operações de crédito consignado chegou a 18 milhões em maio, movimentando R$ 24,6 bilhões desde maio de 2004, quando foi criado. Mais de 7,9 milhões de pessoas recorreram ao empréstimo. Em maio, houve aumento de 1,04 mil operações em relação ao volume acumulado até abril, o que corresponde a R$ 1,191 bilhão.
Para Oliva, contudo, o ritmo de alta ainda é baixo e os juros em queda não necessariamente têm como conseqüência uma maior procura. "A contratação é pequena, 12 milhões de aposentados nunca pediram empréstimo. Eles podem estar sendo alijados por conta desse tabelamento", declara.
No entanto, na opinião de Miguel José de Oliveira, presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac), os bancos só tem a ganhar com a queda dos juros do consignado. "Esse é um tipo de empréstimo que tem risco zero, o que está sendo interessante para os bancos", diz. Segundo ele, as instituições financeiras perdem mais quando cobram juros altos pelo cheque especial - que tem risco maior de inadimplência - do que ao dar crédito consignado a um juro menor. Oliveira afirma que, apesar da tendência de queda, as taxas do consignado permanecem altas, em 30% ao ano.
A redução do teto foi anunciada pelo Conselho Nacional da Previdência Social nesta semana. Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal informaram que ainda não há previsão de redução dos juros em suas carteiras. Essas instituições já operam com taxas abaixo do teto: 2,3% ao mês para pagamentos em até 36 meses. Itaú, Bradesco e Citibank oferecem juros de 2,72% ao mês e terão que reduzir. |