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Crise política atrasa ajuste fiscal, afirma BC

09/10/2015 às 13h32


O ajuste fiscal no Brasil ocorre numa velocidade mais lenta do que se imaginava devido a "dificuldades políticas", disse ontem o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini. Segundo ele, essa demora no ajuste das contas públicas "teve um impacto nos prêmios de risco e no câmbio", o que tornou mais difícil o processo de ancorar as expectativas de inflação.



O efeito positivo, afirmou Tombini, foi o de acelerar o ajuste do setor externo ­ uma referência ao impacto do real mais desvalorizado sobre as contas externas. Em evento em Lima, no Peru, Tombini também reafirmou a intenção de manter a política monetária atual para assegurar a inflação baixa num período em que a instituição enfrenta a forte depreciação do câmbio.



Depois de dizer que dificuldades políticas atrasam o aperto das contas públicas, Tombini disse que há "um
consenso crescente no país em torno da necessidade de o ajuste fiscal ser processado o mais rápido possível".



Num painel com presidentes dos bancos centrais de Chile, Colômbia, Peru e México, Tombini citou os ajustes em curso na economia brasileira. Ele destacou primeiro a mudança de preços relativos ­ fruto da desvalorização no câmbio. Isso tem contribuído para reduzir o déficit em conta corrente, que será neste ano bem menor do que no ano passado, segundo Tombini. Para lidar com a alta da inflação, houve um ajuste da política monetária, disse ele. Com o aumento dos juros, o BCfoi capaz de reancorar as expectativas de inflação para prazos mais longos, como para 2017, 2018 e 2019, afirmou Tombini.



O presidente do BCdestacou a magnitude da desvalorização do câmbio, observando, porém, que o repasse da depreciação para os preços é menor do que costuma ser. Tombini disse ainda que os preços de energia e
combustíveis estão subindo, mesmo com o declínio ou estabilidade dos preços de commodities. Há um impacto sobre a inflação, mas é algo positivo para o lado fiscal e para o setor de energia, afirmou ele.
Tombini voltou a indicar que os juros devem seguir nos atuais níveis por um bom tempo. "Nós vamos manter as condições monetárias por um período prolongado de tempo para atingir os nossos objetivos", afirmou ele.



Tombini disse que continuará como esforços para trazer a inflação próxima ao centro da meta. Nos 12 meses até setembro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 9,5%, bem acima do teto da banda de tolerância, de 6,5%.



Segundo ele, no relatório de inflação recém divulgado pelo BC, as projeções apontam para um indicador de 9,5% em 2015 e 5,3% em 2016. "Tombini repetiu que a depreciação cambial foi forte e se refletiu nas estimativas.



"Recentemente, em setembro, houve excessos nos mercados que tiveram a ver com a convergência da política fiscal para o orçamento de 2016", continuou. Segundo Tombini, o mercado não estaria agindo de acordo com as perspectivas para Brasil, pois estaria sendo "afetado por eventos políticos".



Em seguida, ele disse que o país também viveu um paradoxo, com a economia se desacelerando e o mercado de trabalho mais apertado. "Nós temos que lidar com condições monetárias mais apertadas no Brasil", disse.


Segundo ele, essa não é necessariamente uma orientação para o futuro, mas reflete os padrões atuais. "Nós vamos manter as condições monetárias por um período prolongado de tempo para atingir os nossos objetivos."


O presidente do BC disse ainda esperar que a inflação volte a cair, no futuro, e ressaltou a importância da
flexibilidade da taxa de câmbio. "A flexibilidade da taxa de câmbio é muito importante para lidar com a situação."


Tombini afirmou também que o Brasil é um país de economia aberta, "um grande país emergente", que sofre com os efeitos do que acontece no mundo, e ressaltou que o investimento estrangeiro continua chegando ao país.



Tombini disse ainda que não cabe apenas aos BCs lidarem com os desafios globais do momento, como o aperto nas condições monetárias globais e o recuo dos preços de commodities.
Em outro evento no Instituto de Finanças Internacionais (IIF), Tombini avaliou que a economia brasileira está muito menos exposta aos riscos na taxa de câmbio do que no passado. Segundo ele, essa situação "mais confortável" é resultado de políticas que foram implementadas para fortalecer a resistência na economia. "Em particular, o setor público tem sido um credor líquido em moeda estrangeira, desde 2007, como uma consequência da acumulação de reservas internacionais", afirmou o presidente do BC, ressaltando que essas reservas estão em US$ 370 bilhões.


Tombini está em Lima para participar da reunião anual do FMI, do Banco Mundial e dos ministros e presidentes dos bancos centrais do G­20. Num dos eventos, o presidente do Banco da Inglaterra, Mark Carney, elogiou a atuação do BC brasileiro. Segundo ele, Tombini e seus colegas operaram de modo claro, tomando os passos corretos, afirmando que o uso das reservas foi judicioso e efetivo.

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