O efeito positivo, afirmou Tombini, foi o de
acelerar o ajuste do setor externo uma referência ao impacto do real mais
desvalorizado sobre as contas externas. Em evento em Lima, no Peru, Tombini
também reafirmou a intenção de manter a política monetária atual para assegurar
a inflação baixa num período em que a instituição enfrenta a forte depreciação
do câmbio.
Depois de dizer que dificuldades políticas atrasam o aperto das contas
públicas, Tombini disse que há "um
consenso crescente no país em torno da necessidade de o ajuste fiscal ser
processado o mais rápido possível".
Num painel com presidentes dos bancos centrais de Chile, Colômbia, Peru e México,
Tombini citou os ajustes em curso na economia brasileira. Ele destacou primeiro
a mudança de preços relativos fruto da desvalorização no câmbio. Isso tem
contribuído para reduzir o déficit em conta corrente, que será neste ano bem
menor do que no ano passado, segundo Tombini. Para lidar com a alta da
inflação, houve um ajuste da política monetária, disse ele. Com o aumento dos
juros, o BCfoi capaz de reancorar as expectativas de inflação para prazos mais
longos, como para 2017, 2018 e 2019, afirmou Tombini.
O presidente do BCdestacou a magnitude da desvalorização do câmbio, observando,
porém, que o repasse da depreciação para os preços é menor do que costuma ser.
Tombini disse ainda que os preços de energia e
combustíveis estão subindo, mesmo com o declínio ou estabilidade dos preços de
commodities. Há um impacto sobre a inflação, mas é algo positivo para o lado
fiscal e para o setor de energia, afirmou ele.
Tombini voltou a indicar que os juros devem seguir nos atuais níveis por um bom
tempo. "Nós vamos manter as condições monetárias por um período prolongado
de tempo para atingir os nossos objetivos", afirmou ele.
Tombini disse que continuará como esforços para trazer a inflação próxima ao
centro da meta. Nos 12 meses até setembro, o Índice de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA) ficou em 9,5%, bem acima do teto da banda de tolerância, de 6,5%.
Segundo ele, no relatório de inflação recém divulgado pelo BC, as projeções apontam
para um indicador de 9,5% em 2015 e 5,3% em 2016. "Tombini repetiu que a
depreciação cambial foi forte e se refletiu nas estimativas.
"Recentemente, em setembro, houve excessos nos mercados que tiveram a ver
com a convergência da política fiscal para o orçamento de 2016",
continuou. Segundo Tombini, o mercado não estaria agindo de acordo com as perspectivas
para Brasil, pois estaria sendo "afetado por eventos políticos".
Em seguida, ele disse que o país também viveu um paradoxo, com a economia se
desacelerando e o mercado de trabalho mais apertado. "Nós temos que lidar
com condições monetárias mais apertadas no Brasil", disse.
Segundo ele, essa não é necessariamente uma
orientação para o futuro, mas reflete os padrões atuais. "Nós vamos manter
as condições monetárias por um período prolongado de tempo para atingir os
nossos objetivos."
O presidente do BC disse ainda esperar que a
inflação volte a cair, no futuro, e ressaltou a importância da
flexibilidade da taxa de câmbio. "A flexibilidade da taxa de câmbio é
muito importante para lidar com a situação."
Tombini afirmou também que o Brasil é um país de
economia aberta, "um grande país emergente", que sofre com os efeitos
do que acontece no mundo, e ressaltou que o investimento estrangeiro continua
chegando ao país.
Tombini disse ainda que não cabe apenas aos BCs lidarem com os desafios globais
do momento, como o aperto nas condições monetárias globais e o recuo dos preços
de commodities.
Em outro evento no Instituto de Finanças Internacionais (IIF), Tombini avaliou
que a economia brasileira está muito menos exposta aos riscos na taxa de câmbio
do que no passado. Segundo ele, essa situação "mais confortável" é
resultado de políticas que foram implementadas para fortalecer a resistência na
economia. "Em particular, o setor público tem sido um credor líquido em
moeda estrangeira, desde 2007, como uma consequência da acumulação de reservas
internacionais", afirmou o presidente do BC, ressaltando que essas reservas
estão em US$ 370 bilhões.
Tombini está em Lima para participar da reunião anual do FMI, do Banco Mundial
e dos ministros e presidentes dos bancos centrais do G20. Num dos eventos, o
presidente do Banco da Inglaterra, Mark Carney, elogiou a atuação do BC
brasileiro. Segundo ele, Tombini e seus colegas operaram de modo claro, tomando
os passos corretos, afirmando que o uso das reservas foi judicioso e efetivo. |