Em documento divulgado ontem, o FMI diz que uma crise política
séria foi provocada, entre outros fatores, pela ampla investigação envolvendo a
estatal do petróleo, empresas privadas que prestam serviços a companhia e vários
políticos. Outras fontes da turbulência são as "alegações de irregularidades
no financiamento da campanha das eleições presidenciais de 2014" e uma
"análise do Tribunal de Contas da União (TCU) questionando as contas fiscais
do ano passado", avalia o Fundo.
"A interação da crise econômica e política alimentou a incerteza, o que
levou a confiança empresarial e do consumidor a mínimas históricas, minando
adicionalmente a atividade econômica atual e futura", afirma o Fundo. Na
terçafeira, a instituição cortou a estimativa para o PIB brasileiro de uma
retração de 1,5% para uma contração de 3% neste ano. Para o ano que vem, o
Fundo espera retração de 1%.
Para o FMI, embora fatores externos como a queda dos preços de commodities expliquem
parte da contração da atividade, os fatores domésticos são o maior peso sobre a
economia. "O Brasil entrou em meados de 2014com grandes desequilíbrios
macroeconômicos, por causa do diagnóstico de que a desaceleração desde 2010
havia sido causada pela falta de demanda suficiente", observa o texto.
Com a inflação bem acima da meta do Banco Central, houve uma
mudança de políticas "apropriada", para evitar uma crise econômica
mais severa, diz o FMI. A instituição cita o aumento dos juros e o ajuste
fiscal, para conter pressões inflacionárias e estabilizar a trajetória da dívida
pública. Ao mesmo tempo, surgiu uma crise política séria, de acordo com o
Fundo. "O Brasil precisa continuar os esforços para a consolidação fiscal
de modo a estabilizar a dívida pública, enquanto reduz a inflação
elevada", afirma o relatório.
O documento também diz que o enfraquecimento mais recente do real deve dar
algum alívio aos setores comercializáveis da economia (influenciados
diretamente pelo câmbio). O câmbio mais desvalorizado barateia exportações e
encarece importações.
Na divulgação do Panorama Econômico Regional, o diretor para o Hemisfério
Ocidental do FMI, Alejandro Werner, disse que no seu cenário central "o
sistema político chega a alguns acordos" para restabelecer metas fiscais
que apontem para sinais de consolidação fiscal para frente. Isso abriria espaço
para o começo de uma recuperação na segunda metade do ano que vem, quando as
condições monetárias tendem a estar menos apertadas. |