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Cresce aposta de que ciclo de aperto está próximo do fim

10/07/2015 às 14h44

A alta abaixo do esperado do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de junho abriu espaço para o Banco Central se preparar para encerrar o ciclo de aperto monetário, na avaliação de analistas. O resultado do indicador favorece a continuidade do processo de queda das expectativas de inflação para 2016, o que reforçou a expectativa de que o processo de elevação dos juros pode estar mais próximo do fim.

Para o ex-diretor do Banco Central e sócio da Mauá Capital, Luiz Fernando Figueiredo, o BC não está muito longe de encerrar o ciclo de alta da taxa básica. Para ele, o "teto" para a Selic neste ano é de 14,5% hoje, a taxa está em 13,75%. Contudo, o cenário mais provável, segundo Figueiredo, é de uma alta de 0,25 ponto percentual na reunião do Copom de julho e outra de 0,25 em setembro, encerrando o atual ciclo de aperto com a Selic em 14,25%.

As condições monetárias mais restritivas devem se refletir em importante desinflação da economia entre 2015 e 2016, diz Figueiredo, embora ele não veja o IPCA em 4,5% ao fim do ano que vem. Na opinião de Figueiredo, o trabalho do BC de levar a inflação para o centro da meta (de 4,5%) esbarra em algumas dificuldades, como a inércia inflacionária e a indexação da economia, e por isso exigiu um aperto mais forte. "O choque de administrados é muito intenso e não pode se espalhar para o restante dos preços", diz.

Em junho, o IPCA subiu 0,79% ante um avanço de 0,74% registrado em maio, mas ficou abaixo da média de 0,84% estimada por 14 consultorias e instituições financeiras consultadas pelo Valor Data.

"Nesta semana, o Boletim Focus mostrou queda da mediana da projeção para inflação para 2016 de 5,50% para 5,45% e acho que podemos continuar vendo esse movimento de alívio", afirma Flavio Serrano, economista sênior do Besi Brasil.

No pregão da BM&F, os contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) refletiram a crescente expectativa na possibilidade de os juros básicos subirem um pouco menos que o previsto. Isso se refletiu em baixa das taxas futuras de prazo mais curto. No contrato DI com vencimento em janeiro de 2016, a taxa projetada recuou de 14,12% para 14,06%. No DI com prazo em janeiro de 2017, a taxa caiu de 13,72% para 13,66%.

A economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, afirma que as expectativas inflacionárias hoje já se mostram mais ancoradas, dado o ganho de credibilidade do BC, e uma interrupção do ciclo de alta de juros não comprometeria o processo de convergência da inflação para o centro da meta, de 4,5%. "O BC já tem espaço para interromper o ciclo de alta dos juros, dado o tamanho do aperto monetário que já foi feito e o efeito cumulativo que ainda está para se materializar", diz.

Além disso, o enfraquecimento da atividade econômica abre espaço, segundo Zeina, para o BC desacelerar o ritmo de alta de juros na próxima reunião do Copom. "Acho que o BC pode interromper a alta de juros e manter o discurso mais duro, destacando que, se for preciso, ele subiria a Selic novamente", afirma a economista da XP.

A recente alta do dólar, segundo Zeina, não deveria influenciar a decisão de política monetária no curto prazo, embora a tendência de depreciação do câmbio deve ser considerada no momento em que o BC for cortar a taxa de juros.

Já para David Beker, chefe de economia e estratégia para Brasil do Bank of America Merrill Lynch (BofA), o BC deve manter o ritmo de alta da taxa de juros em julho e deixar a "porta aberta" para um possível último aumento da Selic em setembro.

No cenário do BofA, a Selic encerra o ano em 14,25% ao ano, mas para Beker ainda há dúvidas em relação à comunicação que a autoridade monetária deve adotar depois da reunião de julho.

Para o economista, ainda há incertezas relevantes presentes no cenário, como inflação de curto prazo em nível elevado e possibilidade de aumento da taxa básica de juros pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano) em setembro. Beker diz acreditar que a decisão do BC ainda depende dos próximos dados de atividade e preços e, por isso, a autoridade monetária não deve deixar claro que o ciclo de aperto terminou.




     


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