Correspondentes bancários especializados no crédito consignado querem ser reconhecidos como corretores financeiros. Ao contrário das casas lotéricas e dos estabelecimentos comerciais conveniados aos bancos, os correspondentes do consignado não fazem qualquer tipo de movimentação financeira, só atuam na captação de clientes e na tramitação de documentos para a liberação dos empréstimos. "São dois trabalhos distintos que não podem ser comparados", argumenta Edward Magalhães Loures, dono da promotora de vendas Super Money que atua no segmento há 8 anos. "O correspondente bancário atua como um posto de atendimento, tem horário de funcionamento, seus empregados tem jornada de trabalho, mexem com dinheiro e até correm risco de assaltos", explica o dono da Super Money. "O corretor financeiro não faz nada disso, como um corretor de imóvel, ele não tem horário de trabalho, aproveita a oportunidade de fechar um negócio seja que hora for." À frente da recém-criada Associação Brasileira de Correspondentes Bancários - que terá em breve o nome mudado para Associação Brasileira dos Corretores Financeiros -, Loures apresentará um anteprojeto de lei para regulamentar o ofício ao deputado mineiro Carlos Willian (PTC), que já se comprometeu com a causa da nova categoria. O deputado pretende realizar uma audiência pública na Casa para discutir o assunto. Os correspondentes bancários do consignado formam hoje um exército sobre o qual faltam estatísticas no país. A operação explodiu a partir de 2004, depois que 44 bancos firmaram convênio com o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) para oferecer empréstimo com desconto em folha para aposentados e pensionistas. Nos últimos anos, esses correspondentes chegaram até as cidades mais isoladas do interior do país, garantindo renda extra para inúmeras famílias. Só a promotora de vendas Super Money, que é conveniada a 18 bancos, tem 360 correspondentes ligados a sua estrutura em três Estados (Minas Gerais, Espírito Santo, Goiás), além do Distrito Federal. Cada correspondente, tem, em média, seis promotores em campo buscando tomadores de empréstimo. São quase 4 mil pessoas trabalhando para atingir a produção mensal de R$ 12 milhões para a Super Money. Segundo dados do Banco Central do ano passado, existem 76,4 mil correspondentes operando no país. O BC, porém, não sabe informar quantos deles atuam só com tramitação de documentos. A estimativa do setor é de que um número perto de 40 mil correspondentes se encaixem nessa categoria. O que, a grosso modo, leva à estimativa de que essa nova categoria dos corretores financeiros já conta com cerca de 240 mil profissionais espalhados pelo país. Dezesseis bancos com atuação no crédito com desconto em folha mandaram representantes para um almoço promovido ontem, em Belo Horizonte, pela associação dos correspondentes. A maioria deles vê com bons olhos a iniciativa dos correspondentes e acredita que o movimento poderá resultar numa melhor ordenação do setor, com avanços em discussões sobre o controle de fraudes, o patamar justo de comissionamento e a fidelidadade dos correspondentes aos bancos. "Isso vai provocar uma discussão sobre as mudanças necessárias", aposta o presidente do banco Semear, Élcio Azevedo. Num filão extremamente disputado, os correspondentes do consignado fecham com o banco que pagar mais. Para garantir contratos, há bancos pagando até 18% de comissão em empréstimos de 36 meses para beneficiários do INSS. "Muita gente que não é profissional entrou nesse negócio para ganhar dinheiro, mas a grande festa já passou, é hora do ajuste do segmento, sobreviverá os que trabalham com seriedade, comprometidos com a perenidade da atividade", argumenta Edward Loures. Ele quer que a associação dos corretores financeiros possa atuar como um órgão de auto-regulamentação respeitado, a exemplo do que acontece hoje com o Conar, o conselho de auto-regulamentaçãao da propaganda. "É preciso regular esse contrato de corretagem financeira, garantindo o direito à comissão, sua forma de pagamento, as responsabilidades do corretor", argumenta a advogada Eduarda Cotta Mamede, que assessora a associação. "Do jeito que está, o corretor pode ser responsabilizado pelo que acontece na execução do contrato, o que não ocorre com os corretores de seguros, valores e imóveis." Com a regulamentação da função de corretor financeiro, os correspondentes do consignado querem principalmente ficar longe de demandas como equiparação salarial à categoria dos bancários e pagamento de adicional de segurança, causas que já começam a chegar aos bancos e às empresas que atuam como suas parceiras. |