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Consumidor troca banco por Concessionária
21/06/2007 às 13h18
jornal Valor Econômico 20/06/2007 Marli Olmos e Claudia Facchini | |
Com a proliferação do crédito, que pode ser obtido hoje em qualquer setor, desde uma concessionária de veículos até uma loja de sapatos, o consumidor consegue encontrar formas de endividamento cada vez mais criativas. Ela foi até a Primo Rossi e vendeu a sua picape S-10, ano 2001, por R$ 22,5 mil. Com este dinheiro comprou, à vista, o material de construção para o apartamento. E ainda saiu da concessionária Volkswagen com um carro novo - um Fox, de R$ 35 mil, que pagará em 60 prestações de R$ 900. Obter dinheiro em lojas de carros, uma modalidade que o mercado já apelidou de "troca com troco", tem se tornado cada vez mais comum, segundo o gerente de vendas da Primo Rossi, Marcos Leite. "Muitos querem fugir das taxas do cheque especial e sabem que podem encontrar em uma concessionária taxas de juros mais baixas ", afirma. No caso de Rosa, a agência bancária iria lhe cobrar uma taxa de 4% ao mês se ela contratasse o empréstimo de R$ 22,5 mil para a obra. No financiamento do carro (na modalidade leasing), ela conseguiu juros muito mais magros: 1,18% ao mês. Eu prefiro pagar o material da obra à vista na esperança de obter preços melhores, mas está difícil porque as lojas de construção preferem empurrar a venda parcelada", explica a dentista. Somente nos três primeiros meses do ano, a carteira de financiamentos de veículos alcançou o volume total de R$ 66,9 bilhões, 23,3% mais do que em igual período do ano passado. O crescimento nesse setor superou o do mercado financeiro. O crédito destinado às pessoas físicas no período somou R$ 204,5 bilhões, segundo dados do Banco Central. A Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef), estima que o total de recursos a serem liberados pelo sistema financeiro vai crescer de 20% a 25% este ano. Segundo dados do Banco Central a taxa de juros média anual cobrada em financiamentos de veículos no primeiro trimestre ficou em 31,2%, índice mais baixo até que a do crédito consignado (32,4%). Os financiamentos de outros bens atingem taxa média de 55,4%. Já no caso do crédito pessoal, a média foi de 55,4% e no cheque especial, 140,8%. O consultor especializado Às montadoras interessa mais aumentar a produção e ganhar escala do que obter receitas com a cobrança de juros. No varejo de eletrônicos ou mesmo de vestuário, o crediário acaba sendo uma fonte extra de lucros. As lojas ganham com os juros e não só com o produto que vendem, o que pode gerar conflitos de interesse. "O brasileiro percebe e não gosta disso", afirma Foganholo. "Já num financiamento de carros ele fica com a idéia de cobrança de juros mais justa", completa. Uma das armas do comércio em geral são os planos sem juros. No entanto, como nada é de graça, muitos consumidores desconfiam que os juros estejam embutidos no preço à vista, principalmente nos planos mais longos, em 10 ou 12 vezes. As varejistas garantem que não fazem isso e recusam-se a conceder descontos para pagamentos à vista. O jeito é pechinchar. Nos planos com juros as taxas podem ser salgadas, dependendo do setor e, principalmente, do índice de inadimplência, que é um componente importante na formação da taxa de juros. Nas lojas de vestuário, como a Renner e C&A, os juros nos planos de 0 + 8 vezes chegam a 4,99% ao mês. Já a rede de material de construção C&C parcela em 24 meses com juros mensais de 1,49%. Nas concessionárias, é possível dividir o pagamento em 60 vezes a 1,28% ao mês. Mas a inadimplência nos financiamentos de automóveis, que gira em torno de 3%, também é mais baixa do que em outros segmentos, como vestuário ou eletrodomésticos, bens que não são tomados de volta caso o cliente não pague por eles. "Para a Renner, o parcelamento com juros é uma mais uma ferramenta para aumentar as vendas", afirma Segundo o presidente da Volkswagen, Thomas Schmall, há um ano os financiamentos acima de 36 meses contemplavam 34% das vendas de automóveis da marca. Este ano 49% dos carros Volks são vendidos em planos de financiamento de mais de 36 meses. Na Fiat, os automóveis vendidos em planos de financiamento ou leasing já somam 64% do total e destes 78% são feitos com prazos acima de 36 meses. Segundo o diretor de marketing da C&C, Mauro Flório, a rede oferece as mais variadas formas de pagamento. Fica a critério do freguês. A varejista, por exemplo, parcela em cinco vezes com dois meses de carência para dar fôlego ao cliente. No varejo, acrescenta, o crédito tem ainda um outro efeito colateral. Como as grandes cadeias têm mais capital de giro e fôlego financeiro para parcelar os pagamentos do que os pequenos comerciantes, elas conseguem ampliar a participação de mercado. Para o presidente da Citroën, Sérgio Habib, as vendas de veículos crescem à medida em que os prazos de financiamento e a confiança do consumidor aumentam. Hoje é possível adquirir um automóvel em até 72 meses. "O carro é um bem durável e o brasileiro compra quando acha que amanhã ele vai estar melhor", afirma. O ritmo das vendas tem surpreendido os próprios dirigentes das montadoras. O volume acumulado no ano já é 24% maior do que há um ano. Junto com a estabilidade econômica, as taxas de juros mais atraentes elevaram a oferta de planos de financiamento mais longos para automóveis. O quadro favorece a venda dos carros mais caros. "Boa parte dos compradores de carros médios em 48 meses hoje é a mesma que comprava um popular em 24 meses há dois anos, quando os juros estavam mais altos", diz Habib, da Citröen. |