A desaceleração no ritmo de crescimento do crédito consignado nos últimos meses, após uma primeira fase de explosão das operações, não significa o esgotamento de seu potencial, apontam economistas e executivos de bancos e financeiras. Ainda que inferior ao nível registrado principalmente em 2004 e 2005, o crescimento tem sido expressivo: o volume de operações subiu 47,4% nos 12 meses encerrados em março, alcançando um volume de R$ 52,778 bilhões. O aumento do interesse dos grandes bancos de varejo pela modalidade é mais uma prova deste potencial. No início do ano, o Bradesco adquiriu o BMC, ampliando a concorrência no setor. Mesmo as operações para trabalhadores públicos continuam crescendo, com alta de 46,4% nos 12 meses encerrados em março e de 9,5% no ano.
Um nicho, porém, começa a ser explorado mais intensamente e, se desenvolvido, pode representar o próximo boom do crédito consignado: as operações para os funcionários de empresas privadas. A participação desse público ainda é pequena (12,59% do total em março de 2007) e cresce a passos lentos (era de 12% em dezembro de 2005).
"Os empréstimos consignados realmente cresceram muito, mas o segmento não está esgotado. Pouco menos de 13% desse montante estão destinados aos funcionários privados, ou seja, é um segmento ainda pouco explorado", afirma o analista da Tendências Consultoria Denis Blum, lembrando que o número de trabalhadores da iniciativa privada, com carteira assinada, é muito maior que o de funcionários públicos.
Para a professora do Instituto de Economia da Unicamp Maryse Farhi, o desenvolvimento do mercado de empréstimos consignados para a iniciativa privada poderia levar a um novo boom de crescimento, mas é preciso definir o custo de uma característica diferente que é a rotatividade dos funcionários. Se o risco é maior, a taxa de juros também vai nesta direção.
EMPREGO. "A oferta de empréstimos consignados não está condizente com o tamanho deste mercado, mas os bancos têm medo da falta de estabilidade no emprego. Se os bancos resolverem se arriscar, teremos um novo boom do consignado", acredita a economista.
O investimento de R$ 800 milhões na aquisição do BMC é a prova do potencial que o Bradesco vê no segmento, aponta o diretor-executivo do banco, Ademir Cossiello. "Não há dúvida deste potencial, temos todo um mercado a explorar que é o dos empréstimos para os trabalhadores privados", diz o executivo. Para ele, haverá uma mudança na composição do mercado consignado, com um aumento da parcela dos empréstimos destinada aos funcionários privados, mas o setor público deve manter sua importância.
No Bradesco, a previsão é de uma expansão dos empréstimos consignados em 2007 superior aos 25% estimados para o crédito como um todo. "O consignado vai continuar crescendo acima do mercado de crédito por um bom tempo", afirma.
O entusiasmo para novas operações no consignado também é compartilhado pelo superintendente nacional de empréstimos a pessoas físicas da Caixa Econômica Federal, Laércio de Souza. A modalidade corresponde a 60% da carteira de pessoa física do banco, atualmente em cerca de R$ 10 bilhões. O banco iniciou as concessões para trabalhadores privados, mas sua participação é de apenas 5% do total.
"O risco é diferente porque a rotatividade dos funcionários é maior, mas há espaço para crescer com mais vigor. Na Caixa, as taxas de juros são parecidas, mas o prazo oferecido é, no máximo, metade dos 72 meses permitidos para os servidores públicos", diz.
Com uma carteira de nada menos do que R$ 9,32 bilhões em março, o Banco BMG ainda vê o setor público como o principal foco de sua atuação no consignado. Do total de empréstimos, apenas R$ 500 milhões são destinados a funcionários de empresas privadas. "A concessão de empréstimos para aposentados e pensionistas se mantém entre R$ 800 milhões e R$ 900 milhões de novos contratos por mês. Temos muito mercado pela frente. A expectativa agora é que o governo de São Paulo libere empréstimos para os 1,2 milhão de servidores, hoje apenas com a Nossa Caixa. Além disso, há os estados do Ceará, Rio Grande do Sul, Pará, entre outros", explica o vice-presidente executivo do BMG, Márcio Alaor de Araújo.
POTENCIAL. Estratégia semelhante tem o diretor de consignação do Banco PanAmericano, Roberto Rigotto. Embora admita que a demanda por novos empréstimos está reduzindo no setor público, destaca que a entrada de novos tomadores de crédito está em 15%, ainda um forte potencial para as operações. O banco tem uma carteira de R$ 3,5 bilhões em consignado e esperar expandir este montante para R$ 4,5 bilhões no fim do ano.
A proposta de conceder empréstimos consignados para a compra de imóveis, lançada pelo governo em setembro do ano passado, lentamente começa a se tornar realidade. A Caixa Econômica Federal já fechou acordos com a Fundação dos Economiários Federais (Funcef) e com a Fundação Petrobras de Seguridade Social (Petros) para oferecer financiamento habitacional com desconto em folha de pagamento e estuda como estender o produto a outros trabalhadores.
O Bradesco também vai oferecer a modalidade. O produto já está disponível para os servidores públicos e o banco está buscando parcerias com empresas privadas, inicialmente com aquelas de que já é responsável pela folha de pagamento. As parcelas são fixas, segundo o diretor-executivo Ademir Cossiello, com taxas inferiores ao do crédito imobiliário do banco, de 12,5% ao ano.
Interessado em oferecer o produto a seus clientes, o vice-presidente executivo do BMG, Márcio Alaor de Araújo, está estudando parcerias com outros bancos para conseguir financiamento mais barato para essas operações. O Banco BMG fez uma pesquisa junto aos clientes e constatou que oito em cada dez querem ter uma casa própria. "Este será o grande mercado do consignado. Devemos lançar o consignado para a compra de imóveis em até 90 dias", diz.
No banco PanAmericano, a alternativa para um financiamento mais barato será o lançamento de caderneta de poupança, no segundo semestre. Atualmente, o banco oferece o Credimóvel, mas com prazo de até 60 meses para o pagamento. O diretor de consignação do PanAmericano, Roberto Rigotto, no entanto, acredita que a modalidade terá mais dificuldades de ser estendida aos trabalhadores da iniciativa privada. |