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Confiança

01/12/2015 às 11h32

Arrefeceu nos últimos dias a onda ou campanha em favor da troca do ministro da Fazenda. Menos mal, porque não fazia e não faz nenhum sentido propor uma mudança simplesmente para criar um fato novo.

Uma substituição nesse que é o principal cargo da gestão econômica do país não pode ocorrer sem que o novo ministro assuma algum tipo de compromisso. Se não for assim, trocar para quê?

A economia se deteriorou de forma muito rápida desde o início do ano. Nessa conjuntura de crise cada vez mais profunda, cabe a toda a sociedade discutir as obrigações de um eventual novo ministro da Fazenda. Tenho meus palpites. Em resumo, sua principal tarefa, além de cuidar do equilíbrio das contas públicas, e promover, seria a de restabelecer a confiança.

É impressionante o silêncio da classe empresarial produtiva a respeito desse assunto. A indústria encolhe mês a mês, o país perde cerca de 190 milempregos a cada 30 dias, há 9 milhões de pessoas desempregadas e a recessãoatinge 3%. Já se dá como certa uma queda do PIB (Produto Interno Bruto) de 2% no ano que vem. Apesar disso, não se move uma única palha para mudar a tendência.

Em vez disso, prepara-se a substituição de um ministro da Fazenda originário do mercado financeiro por outro também ligado ao mercado financeiro. Será que é hora de entregar o cargo a mais um ministro dessa área?

Claro que não. O novo ministro, se houver a troca, terá de representar os vários setores da economia. É muito importante, por exemplo, que ele olhe para agronegócios, comércio, serviços e em especial para a indústria, em processo de aniquilamento, e que consiga dialogar e firmar alianças com a classe política, para que suas propostas tenham chance de aprovação quando chegarem ao Congresso Nacional.

E não adianta criticar os deputados e os senadores e chamá-los de irresponsáveis porque não aprovam todas as medidas de ajuste fiscal, por exemplo. Eles votam politicamente, e não há como ser diferente. Precisam ser convencidos de que os sacrifícios muitas vezes exigidos por políticas de austeridade serão recompensados mais à frente, não em longo prazo, porque no longo prazo, como dizia John Maynard Keynes, estaremos todos mortos.

Que o eventual novo ministro não venha com esse discurso único de ajuste fiscal, porque isso é depressivo e só leva o país para o buraco. O equilíbrio das contas públicas não pode ser uma política de governo. É uma responsabilidade básica de qualquer governo.

As pessoas normais entendem isto muito bem: ninguém pode gastar durante todo o tempo mais do que ganha e isso vale para indivíduos, famílias, empresas e governos.

A atuação de um ministro de país emergente deve ir além do compromisso com o equilíbrio fiscal. Precisa incluir um plano de crescimento da economia, investimentos e criação de empregos.

Além disso, o ministro tem a obrigação de propagandear seu plano, mostrar que acredita nele, para transmitir e sonhar confiança. Nos momentos difíceis, muito mais do que em épocas de bonança, é necessário adotar um discurso otimista, de fé no crescimento econômico e no desenvolvimento.

Essa palavra –confiança– há algum tempo desapareceu dos discursos oficiais


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