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Cenário político leva mercado a ter dia de fortes perdas

14/10/2015 às 10h32


Após um breve período de trégua, a questão política voltou a perturbar o mercado local, que teve um dia de fortes perdas. O clima mais tenso em torno do andamento das ações de pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados acentuou o cenário de baixa da Bovespa e a pressão sobre o dólar, em meio a um ambiente de menor apetite por ativos de risco no exterior após dados fracos da economia da China.


A volta do feriado foi marcada por forte correção no mercado doméstico. O dólar teve expressiva valorização de 3,59% e terminou cotado a R$ 3,8926, na maior alta em um dia desde 21 de setembro de 2011. Já o Ibovespa caiu 4%, para 47.363 pontos, depois de subir mais de 12% em nove pregões seguidos. Foi o maior tombo da bolsa brasileira desde 1º de dezembro do ano passado, quando recuou 4,47%.


Os juros futuros acompanharam a alta do dólar e avançaram na BM&F. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com prazo em janeiro de 2016 subiu de 14,32% para 14,37%, enquanto o DI para janeiro de 2021 avançou de 15,65% para 15,94%.


O recrudescimento das incertezas no cenário político tende a levar os investidores estrangeiros a reduzir as posições no Brasil. Operadores relataram que, após uma sequência de elevados aportes em ações brasileiras, os estrangeiros mudaram o rumo e sacaram cerca de R$ 300 milhões no pregão de ontem. O dado oficial será conhecido na quinta. Segundo a BM&FBovespa, os estrangeiros aplicaram R$ 2,3 bilhões em ações brasileiras neste mês, até o dia 8.


"O mercado está tentando entender o que acontece em Brasília", afirma o analista da Clear Corretora, Raphael Figueredo.


Os mercados repercutiram ontem as três liminares concedidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) suspendendo o rito estabelecido pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDBRJ), para o andamento na Casa de um eventual processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. No entendimento do STF, ou Cunha acolhe o pedido de impeachment e dá encaminhamento o que inclui posteriores análises por comissão e votação em plenário para abrir o processo ou arquiva o pedido.


"O mercado reage mal à possibilidade de impeachment. Há muita indefinição de como seria esse período de transição, de como iriam se compor as forças políticas em um próximo governo. Além disso, há o risco de o quadro fiscal se deteriorar ainda mais com esse impasse político", afirma Rogério Braga, sócio e gestor da Quantitas. Entre as principais ações do Ibovespa, os bancos registraram perdas expressivas: Itaú PN caiu 5,34%, acompanhada de Bradesco PN (5,46%), Banco do Brasil ON (8,31%) e Santander Unit (8,90%).


O Credit Suisse rebaixou a recomendação para os grandes bancos brasileiros de neutro para "underperform" (abaixo da média do mercado). Petrobras PN e Vale PNA também devolveram ganhos recentes, recuando 7,61% e 7,87%, respectivamente, refletindo o mau humor doméstico e acompanhando a correção nos preços das commodities, após números fracos da balança comercial chinesa apresentados ontem.


A preocupação crescente com a possibilidade de impeachment e, mais do que isso, a percepção de que esse processo pode ser longo e incerto, alimentaram a busca por ativos e posições de segurança, e levaram os investidores a recompor os prêmios de risco nos ativos locais.


Depois de um alívio no movimento de venda dos ativos na última semana, com o dólar recuando para R$ 3,75 na sexta e o Ibovespa voltando para o nível de 49.300 pontos diante da melhora no cenário externo e a esperança de que a reforma ministerial poderia melhorar a governabilidade do governo Dilma, o mau humor voltou a dominar as mesas de operações.


O cupom cambial, que representa a taxa de juros em dólar e serve como um termômetro da liquidez no mercado de câmbio, subiu um pouco, o que pode indicar um fluxo mais negativo. A taxa do FRA de cupom para dezembro avançou de 1,53% para 1,65%, enquanto a taxa do contrato para janeiro de 2016 subiu de 2,15% para 2,31%.


O quadro de incertezas em relação ao cenário político e, por consequência, sobre o ajuste fiscal, tem contribuído para a deterioração das expectativas de inflação. O Boletim Focus divulgado ontem mostra um aumento nas expectativas de inflação não apenas para 2015 e 2016, como para os anos seguintes.


A mediana das projeções para o IPCA para 2015 subiu de 9,53% para 9,70%, e para 2016, de 5,94% para 6,05%. Houve um avanço também nas projeções de inflação para 2017 e 2018, com o mercado projetando uma convergência da inflação para o centro da meta apenas em 2019.


Apesar da piora das expectativas de inflação, a sinalização do Banco Central é a de que não haverá alta de juros. "Em tese, o BC teria que reagir à piora do Focus, mas ele tem indicado que não fará isso, o que ajuda a explicar a pressão sobre os DIs mais longos", afirma Daniel Weeks, economista-chefe da Garde Asset Management.



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