As questões domésticas voltaram a pesar nos mercados de câmbio
e juros, apesar da melhora do apetite por risco no exterior. Ontem, o contrato
DI para janeiro de 2016avançou de 14,37% para 14,40% na BM&F, enquanto o DI
para janeiro de 2021 subiu de 15,2% para 15,48%. O dólar subiu 0,82%, a R$
3,875.
No caso do real, o alívio na pressão de alta do dólar vindo do cenário externo
e a trégua na tensão no cenário político local, após o anúncio da reforma
ministerial, duraram pouco. "Existiu uma calmaria no meio da tempestade,
mas não foi suficiente para mudar a direção. Os
problemas fundamentais ainda não foram resolvidos", afirma Daniel Tenengauzer,
chefe de estratégia de emergentes e de estratégia global de moedas do
RBCCapital Markets.
Para o economista para América Latina do Standard Chartered, Italo Lombardi, a
tendência é o real se descolar do movimento das moedas emergentes com os
fundamentos macroeconômicos ainda ruins no Brasil.
Ontem foi um exemplo típico desse movimento. Após abrir em queda acompanhando o
exterior, o dólar passou a subir com o anúncio do adiamento da avaliação dos
vetos às "pautasbomba". A moeda brasileira tem se descolado das
divisas emergentes mesmo com as atuações do Banco Central no câmbio. "O
real está correlacionado com a percepção do mercado sobre a situação política e
se existe um controle do governo sobre as contas públicas. Se essa percepção
piora, os mercado reprecificam os ativos brasileiros", diz Lombardi.
O banco mantém uma projeção para o câmbio a R$ 4,50 no fim deste ano e a R$ 3,50
no fim de 2016. O Standard Chartered considera nas suas projeções a
possibilidade de rebaixamento do rating do Brasil pela Moody's ainda este ano,
com o governo tendo dificuldade para aprovar as medidas fiscais. "O mercado
pode voltar a ficar tenso com a questão da aprovação do Orçamento para 2016e
votação da CPMF, que, se não for aprovada, o governo precisar achar uma nova
fonte de receita", afirma.
O estrategista do RBCCapital Markets também está com um viés negativo para o
real, prevendo um câmbio a R$ 4,50 no fim do ano, com o dólar atingindo o pico
de R$ 4,80 em março de 2016, considerando a probabilidade de novo rebaixamento
do rating soberano.
Para Tenengauzer, a maior probabilidade é que esse evento aconteça no início de
2016, mas há chance considerável da Moody's rebaixar o rating do Brasil para
grau especulativo neste ano se os dados fiscais piorarem. Ele lembra, no
entanto, que parte desse risco já está embutida nos preços dos ativos, assim
como o de um impeachment da presidente Dilma.
Além disso, os analistas veem a recuperação das moedas emergentes como frágil,
dadas a incerteza sobre a política monetária americana e riscos por parte da
China. "Se vier um número mais forte nos EUA ou o Fed indicar que a alta
de juros pode vir em dezembro esse bom humor pode mudar", diz Lombardi.
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