O Carrefour, maior rede supermercadista do país, está tirando do papel um antigo projeto de operar um banco. Seu propósito é vender crédito pessoal, capitalização, seguros, cartões de crédito e até, no futuro próximo, crédito imobiliário. A estratégia mercadológica que está por trás de tudo é o desenvolvimento de um varejo com soluções globais, ou, como é chamada essa tendência no jargão do setor, one stop shop. E seus executivos garantem que, com isso, a rede não sai de seu negócio principal - o varejo. Ao contrário, torna-se ainda mais competitiva.
Depois de obter, em agosto de 2006, a licença do Banco Central para atuar nessa área e de cessar a atividade de 15 anos da Carrefour Administradora de Cartões de Crédito, a CAC, a empresa lança no mercado o Banco Carrefour. A sociedade, da qual a rede detém 60%, tem como parceira a Cetelem, processadora de cartões francesa e associada ao Carrefour internacionalmente. O capital inicial do banco é de R$ 260 milhões e ele funcionará nas 164 lojas do grupo.
O gigante francês começou a atuar em nichos de mercado no Brasil há apenas dois anos, área da qual colheu no ano passado R$ 2 bilhões de faturamento. Por essa lógica de concentração das compras em um único ponto de convergência, o consumidor, além de comprar gêneros alimentícios, tem a possibilidade de suprir-se na Drogaria Carrefour, decidir as férias de sua família na Turismo Carrefour e abastecer o carro nos Postos Carrefour. E agora também encontra "soluções financeiras".
"O banco é apenas o instrumento legal necessário, a razão social", explica Carlos Henrique Bandeira de Mello Jr., há cinco meses no cargo de diretor-presidente do Banco Carrefour. Aliás, banco não. A rede preferiu chamar esse serviço de Carrefour Soluções Financeiras. O nome-fantasia, digamos, serve exatamente para não confundir os clientes que têm uma imagem negativa dos bancos, associada à burocracia e inacessibilidade. Seus horários com atendimento pessoal serão mais flexíveis que os de banco, acompanhando o funcionamento das lojas.
Ao bolar essa estratégia, o Carrefour mira na base da pirâmide social brasileira, não bancarizada e de baixa renda. Seu maior concorrente, e agora o segundo no ranking dos maiores supermercadistas, o Grupo Pão de Açúcar, informa haver entre os 4 milhões de cartões de loja emitidos pela rede, 60% de pessoas sem conta em banco. No Carrefour, há 7 milhões de cartões de loja, e, embora não seja revelado o percentual de clientes sem acesso a bancos, todos eles, ativos e inativos, já receberam a comunicação por carta, da criação do novo serviço. Em breve receberão também informações dos novos produtos e serviços financeiros. A mudança, segundo Bandeira de Mello, vai ser percebida aos poucos, ao longo do segundo semestre. Neste período, em cada uma das 146 lojas Carrefour, o estande do Cartão Carrefour será transformado em Carrefour Soluções Financeiras, pela nova comunicação visual. Além disso, a inauguração de 20 lojas está contemplada no plano de expansão deste ano.
Os 7 milhões de cartões próprios (leia-se cadastros que mapeiam hábitos de compra, freqüência e tíquete médio de cada um dos consumidores) e a capilaridade de sua rede, fizeram o Carrefour Brasil a terceira operação mundial, a optar pela criação do banco. Mas o supermercadista não é o único a decidir-se pelo binômio loja-banco. Do exterior, ele segue o modelo da matriz e da subsidiária espanhola do Carrefour. No Brasil, a varejista de vestuário C&A, proprietária da maior lista de private label, o nome em inglês para cartão de loja, é também dona do banco Ibi. Sua base de 16 milhões de cartões próprios se aproxima do número de correntistas de alguns dos maiores bancos do país. |