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Cadastro positivo atrasa e retarda a redução dos juros

14/02/2007 às 22h38

jornal DCI 14/02/2007 - Wellington Miyazaki                              

Analistas recomendam que os tomadores de crédito façam pressão em relação ao cadastro positivo, que pode reduzir os juros em até 20%, com queda da taxa de 6% para 5% ao mês no comércio, por exemplo. Eles lembram que os tomadores de crédito podem pressionar o Legislativo ou o Executivo para aprovação de propostas para adoção da medida.

O cadastro foi anunciado em setembro de 2006 e já deveria estar em vigor. A medida visa melhorar o nível de informação do sistema financeiro em relação aos clientes que têm um bom histórico de pagamento. Uma vez aceito, as instituições financeiras terão de enviar para o Banco Central informações sobre bons pagadores, facilitando a aprovação do crédito. Contudo, alguns analistas dizem que o cadastro poderia taxar injustamente de mal pagador quem não estiver inserido em seus arquivos.

O diretor do Comitê de Economia, Banking e Finanças, da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Andrew Frank Storfer, diz que o cadastro positivo oferece a facilitação da aprovação de crédito, contanto que se tenha um bom histórico.

“O cadastro positivo será um instrumento importante para que as instituições pressionem os altos juros. O consumidor aceita um valor agregado excessivo em muitos produtos por ludibriar-se com um grande parcelamento. Falta educação financeira no País”, diz Storfer.

O gerente executivo de micro e pequenas empresas do Banco do Brasil (BB), Ketson Macedo, acredita que o risco da operação poderá ser melhor dimensionado com o cadastro.

“O BB decidiu estender as contratações da linha de crédito Recebíveis Cartão a Realizar para micro e pequenas empresas com faturamento anual superior a R$ 500 mi”, conta Macedo.

A economista sênior da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Ana Paula Higa, diz que a implementação do cadastro positivo pelo governo colaboraria para expansão do crédito, pois traria mais conhecimento sobre os clientes.

“O cenário econômico está favorável. A redução da taxa Selic para 13% está dentro das projeções de mercado e há expectativas de que ela chegue a menos que 12% ao final do ano”, afirma.

Em dezembro de 2006, a inadimplência atingiu 5% da carteira total de crédito do sistema financeiro em comparação a 4,2% em dezembro de 2005. Por modalidade, a inadimplência das pessoas físicas ficou em 7,6% e de pessoa jurídica ficou em 2,7% em comparação a 6,7% e 2% em dezembro de 2005, respectivamente. O aumento da inadimplência no período pode ser explicado, entre outros fatores, pela expansão mais acelerada das operações de crédito na economia em comparação ao aumento da renda.

“O cadastro poderia ajudar também na redução da inadimplência, que cresceu em 2006 por conta do aumento de crédito. Contudo, existem fatores macroeconômicos que contribuem para a inadimplência e que não seriam afetados pelo cadastro, como desemprego”, diz Ana.

De acordo com a superintendente, os principais fatores para a expansão do crédito em 2006 foram a redução da taxa de juros e de empréstimos e o alongamento dos prazos.

“Para 2007 projetamos uma expansão do crédito de 19,7% na carteira total, de 22,5% para pessoa física e 17,2% para pessoa jurídica, que são números interessantes”, conta Ana.

Desigualdades

O economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Marcel Solimeo, diz que a escassez de informações acarreta desigualdades na cobrança da taxa de juros. “O cálculo da taxa de juros é feito sobre um mesmo risco de inadimplência para todos, enquanto que os maus pagadores são minoria”, afirma.

Solimeo acredita que a implantação do cadastro positivo faria com que aumentasse o volume de crédito em 2007, pois seria reduzido o risco para sua concessão. “O cadastro positivo seria um avanço para o sistema de informação do mercado. Ele já funciona em muitos países, inclusive da América latina e na China”, diz.

Segundo o diretor o sistema não fere a privacidade das pessoas porque os dados são acessíveis apenas a quem pede crédito.

“O crédito só será negativo para o cliente negativo. Nós da ACSP colaboramos com o projeto de lei elaborado pelo Ministério da Fazenda e vemos a necessidade do crédito ser feito no Brasil”, conta.

A medida ganha importância pelo crescimento do crédito. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Sebrae no Estado de São Paulo, nos últimos cinco anos, apenas 36% das micro e pequenas empresas tomaram empréstimos bancários.

Outro indicador é o crescimento do mercado de cartões de crédito registrou faturamento de R$ 13,9 bilhões em janeiro, crescimento de 16,6% em relação ao mesmo período do ano passado. Este desempenho foi resultado de 141 milhões de transações a um valor médio de R$ 91.

O volume total de empréstimos do sistema financeiro saltou de R$ 607 bilhões em dezembro de 2005 para R$ 732,8 bilhões em dezembro de 2006, o que representou um crescimento de 20,7%. Esta taxa de variação ficou ligeiramente acima daquela projetada pelas instituições financeiras que apontavam para um crescimento de 19% na carteira total de crédito, segundo a pesquisa de projeções da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) de dezembro de 2006.

O diretor comercial do Grupo Kade, voltado para gestão empresarial, Auderasmo Reinaldo de Carvalho, acredita que o cadastro positivo será vantajoso principalmente para os profissionais liberais e autônomos.

“Estamos no mercado há sete anos e acredito que medidas como essa são importantes para proteger bons pagadores”, diz Carvalho.

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