São Paulo - Apesar da maior cautela do investidor estrangeiro para comprar títulos de empresas brasileiras, especialmente de bancos, o mercado interno vai continuar receptivo a novas emissões. E pelas boas condições para os bancos, a Letra Financeira deve disputar espaço com o Certificado de Depósito Bancário (CDB) como principal instrumento de captação para os bancos. Esse é o cenário traçado pelo vice-presidente do BicBanco, Milto Bardini.
"Acredito que haverá uma substituição de CDB por Letra Financeira. Não será total, o depósito a prazo continuará existindo, mas sem dúvida esse novo instrumento vai ganhar cada vez mais espaço como meio de captação", afirma o executivo. Um dos números apresentados ontem pelo BicBanco, em seu balanço do primeiro trimestre, revela um crescimento forte na captação doméstica. Foram 9,612 bilhões ao final de março, um crescimento de 35,9% em relação ao mesmo período de 2010. A captação no exterior também cresceu, mas em ritmo menor: 26,9%, para R$ 4,446 bilhões. "Na captação externa, apesar de todo o cenário de insegurança não só em relação ao Brasil, mas também a Europa, só houve queda no primeiro trimestre em relação ao final do ano passado porque nós exercemos uma opção de liquidação de uma dívida subordinada de US$ 120 milhões foi feita em 2006, e venceria em 2016", explica Bardini.
O executivo chama a atenção também para o cenário confortável quando se compara o prazo médio de captação com o prazo médio de suas operações de crédito. "Nossas captações estão com prazos de 774 em média, contra 286 dias nas operações de crédito. Estamos em uma situação confortável."
Todo este bom cenário de captação ajudou o banco a expandir sua carteira de crédito, e consequentemente, aumentar seus lucros. O BicBanco fechou o primeiro trimestre com lucro líquido de R$ 81,9 milhões, muito próximo do resultado conseguido no mesmo período do ano anterior, que foi de R$ 80,3 milhões. A carteira de crédito da instituição cresceu 33,1% em 12 meses, de R$ 10,601 bilhões para R$ 14,113 bilhões ao final de março.
Em relação ao crédito, Bardini chama a atenção para dois pontos importantes: o crescimento da participação do setor de infraestrutura na carteira total, e também a ampliação das operações de consignado, por conta da aquisição da Sul Financeira no ano passado.
No caso das empresas de infraestrutura, elas já representam mais de 10% do total de empréstimos em aberto no BicBanco. São R$ 1,526 bilhão até o final de março. A segunda maior carteira é a das usinas de açúcar e álcool, com R$ 947 milhões. "Até dois anos atrás, este setor não era líder de participação em nossa carteira. Mas as demandas do País, além das condições melhores para oferecermos linhas com prazos mais longos, nos ajuda a atender melhor estas empresas", conta Bardini.
Quando se fala da composição total por setor, indústria tem 44,3% dos créditos contra tados junto ao BicBanco, até o dia 31 de março. O setor de serviços tem participação de 32,8%, enquanto o comércio tem 14,1%. Pessoa física representa 3,5%, agricultura com 2,5%, setor público com 1,8% e intermediários financeiros, com 1%.
No que diz respeito a pessoa física, a participação também deve crescer nos próximos anos. A carteira de crédito pessoal e de consignado passou de R$ 279 milhões no primeiro trimestre de 2010 para R$ 484 milhões ao final de março deste ano, um crescimento de 73,5% em 12 meses. Segundo o relatório apresentado pelo banco, a Sul Financeira já opera com lucro, poucos meses após ser adquirida e incorporada pelo BicBanco.
Mesmo com as boas perspectivas, Bardini afirma que há um limite para o crescimento deste segmento de crédito. "Nós estabelecemos que o crédito para pessoa física pode chegar até a 10% da carteira total. Hoje, com 3,5% de participação, ainda há muito espaço para crescer". O executivo conta que já estão em andamento negoci ações de parcerias com redes de varejo, e também um programa de expansão, principalmente para o sudeste e o nordeste, já que atualmente, a atuação da Sul Financeira está concentrada em São Paulo.
Quanto ao desempenho da carteira de crédito este ano, Bardini afirma que, por ser um banco de números mais modestos que os gigantes do setor, o percentual de crescimento deve ficar novamente acima da média. "As projeções para o mercado este ano giram em torno dos 15%. Posso dizer que vamos crescer mais do que essa média", afirma.
Emissão de ações
Para fazer frente a este crescimento, o BicBanco provavelmente terá que aumentar seu capital. No primeiro trimestre, o Índice de Basileia do banco fechou em 15,6%, contra 16,2% em março de 2010. Apesar de estar bem acima do mínimo exigido pelo Banco Central, de 11%, o BicBanco já estuda uma emissão de ações. "Não descartamos fazer esta operação, mas ela pode acontecer somente no final de 2011", revela Bardini.
Renato Carvalho
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