Em 2005, sócios do Morada, que sofreu intervenção em abril, informaram autoridade monetária de possível maquiagem
Suspeita ocorreu quando controladores venderam por R$ 80 mi empresa que valia R$ 1,5 mi ao ser criada
MARIO CESAR CARVALHO DE SÃO PAULO
Folha de S. Paulo - SP
O Banco Central foi avisado em 2005 de que havia indícios de que o Banco Morada praticava fraudes ou maquiava a sua contabilidade, de acordo com documentos obtidos pela Folha. No mês passado, o Morada sofreu intervenção do BC por ter um rombo cujo valor está sendo avaliado. O alerta ao BC foi feito pelos advogados da Haco Fios Ltda., empresa de Santa Catarina que é uma das maiores produtoras de etiquetas de roupas e era sócia dos controladores do banco. O Morada é um banco de pequeno porte, voltado ao crédito consignado. Ocupa a 107ª posição num ranking do BC de dezembro com 158 instituições, quando se mede o porte pelo volume de ativos (R$ 566 milhões). O valor, porém, deve estar inflado, segundo técnicos do BC. A estimativa é que o Morada tivesse R$ 110 milhões em caixa e que o rombo possa chegar a R$ 400 milhões. O Fundo Garantidor de Créditos, entidade mantida pelos bancos, deve cobrir parte do rombo.
SUMIÇO Os donos da Haco eram sócios minoritários dos controladores do banco numa empresa chamada Morada Empreendimentos e Participações S.A. -eles detinham 11,5% das ações. Essa empresa de participações, por sua vez, controlava a Morada Investimentos S.A., que controlava o Banco Morada, num esquema conhecido como "matrioska" -uma empresa sai de dentro da outra, como as bonecas russas. A suspeita de fraude ou manipulação contábil apareceu quando os controladores do banco venderam uma empresa, a Morada Serviços Financeiros Ltda., por R$ 80 milhões para a Finasa. A empresa vendida valia R$ 1,5 milhão quando foi criada. Dos R$ 80 milhões, R$ 73,6 milhões desapareceram por meio de manobras, segu ndo acusação da Haco em ação judicial que corre no STJ. Inicialmente, os controladores do Morada alegaram que os R$ 73,6 milhões haviam sido gastos com despesas operacionais. Como a alegação não era compatível com o porte do negócio, os sócios do banco recorreram a uma segunda explicação: os R$ 73,6 milhões foram usados para cobrir créditos podres. Os advogados da Haco dizem que os créditos podres não apareciam nos balanços anteriores. A empresa estima que tenha perdido R$ 40 milhões em valores atuais. A holding do banco, a Morada Investimentos S.A., também tem problemas, segundo a ação judicial. A sede da empresa não existe no endereço declarado, na rua Dr. Mattos, no centro de Rio Bonito, interior do Rio. O dono de um bar ao lado do endereço declarado diz que ali nunca funcionou uma empresa financeira ou algo do gênero. Outro vizinho, que promove festas, afirma que nunca ouviu falar em Morada ali. O aluguel de uma sala no predinho custa R$ 700 por mês.
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