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BC está menos pessimista do que mercado sobre atividade econômica
14/12/2015 às 12h23
O Banco Central está menos pessimista do que os analistas econômicos não apenas sobre a inflação em 2016, mas também quanto ao crescimento da economia. Provavelmente não será possível evitar uma retração, que pode chegar a 2%, porque há uma contaminação estatística da recessão deste ano para o próximo. Mas o desempenho não seria tão ruim como as projeções de queda de até 3,5% que circulam no mercado financeiro.
Os economistas do Departamento de Pesquisas Econômicas (Depep) do BC defenderam, em encontros com os diretores da casa, que o consumo das famílias não será tão fraco como neste ano. As exportações líquidas também teriam papel mais importante para sustentar a demanda agregada do que supõem os analistas do setor privado.
O diagnóstico nos escalões mais altos do BC é que, hoje, a economia já teria pago o preço em termos de recessão necessário para corrigir desajustes dos últimos anos, incluídos aí o setor externo, a política fiscal, o realinhamento de preços administrados e inflação de forma geral.
Mas há uma queda adicional da economia ligada apenas a fatores políticos e não econômicos.
Dada a herança estatística deste ano para o próximo, uma eventual queda de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2016 poderá significar, na verdade, uma certa estabilidade da economia. O cenário de retração de 3,5% com que trabalham alguns economistas privados significaria retrações adicionais do PIB.
Mesmo em meio a tanta incerteza, avaliam os economistas do Depep, o consumo das famílias deverá garantir um nível de sustentação mínimo ao PIB. Isso porque, apesar do esperado aumento da taxa de desemprego, a massa salarial deverá se mostrar relativamente robusta em 2016.
Dois fatores devem contribuir. Um deles é o reajuste de dois dígitos do salário mínimo, que tende a puxar benefícios previdenciários e outros programas sociais e também os salários pagos por prefeituras. O mínimo tem ainda impacto forte sobretudo na renda do Nordeste.
Outro fator que deverá segurar a massa de rendimentos reais é a esperada queda da inflação. Mesmo na conta dos economistas do mercado, que são mais pessimistas sobre a inflação do ano que vem, haveria queda de 3,75 pontos percentuais no IPCA entre 2015 e 2016. O BC vai divulgar nas próximas semanas a projeção oficial para a inflação de 2016, que é mais otimista do que os 6,7% estimados pelos conjunto dos analistas econômicos no boletim Focus.
Do lado da demanda externa, o Banco Central tem chamado a atenção para a queda de quase 40% no custo unitário do trabalho na indústria, em dólares, desde o pico, observado em junho de 2014. Esse indicador mede a evolução do custo da mão de obra, expressa em dólares, de cada unidade produzida no país.
Num discurso na semana passada, o presidente do BC, Alexandre Tombini, disse que a queda do custo unitário do trabalho deverá incentivar a substituição de importações "com reflexos favoráveis não para a balança comercial, mas também para a atividade econômica".
A leitura no BC é que, depois da queda muito forte em investimentos da Petrobras e de empresas ligadas à cadeia do petróleo em 2015, por causa da Operação Lava-Jato, não haveria muito espaço para retrações tão fortes também em 2016.
Ainda assim, o BC acha que ainda não é possível imaginar uma recuperação do item de demanda que tem mais caído os investimentos até que a questão politica se resolva. Um ponto fundamental é o que acontece depois do impeachment, quando se espera uma redução do nível de incerteza, independentemente do seu desfecho.
Economistas do BC dizem que um certo grau de desaceleração da atividade econômica seria inevitável para corrigir desequilíbrios acumulados nos dez anos anteriores. Haveria um lado "austríaco" positivo em qualquer recessão uma referência à escola austríaca de pensamento econômico, que diz que períodos de juros muito baixo levam à euforia, maus investimentos e desequilíbrios, que devem ser corrigidos por períodos de recessão.
Para o BC, a dose de recessão paga pela economia, porém, já superaria a necessária para curar os males do Brasil. Se não fosse a crise política, provavelmente o país já estaria colhendo os benefícios do ajuste no setor externo e da correção relação entre os preços livres e os administrados inclusive com a baixa dos juros básicos, em vez de novos aumentos que vem sendo contemplados pelo Banco Central.
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