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BC deveria voltar a subir os juros, diz economista

03/11/2015 às 10h45


Mesmo sendo as incertezas fiscais as principais responsáveis pela onda de deterioração de expectativas, o Banco Central deveria dar uma resposta e voltar a subir a taxa de juros, na opinião do economista-chefe da Garde Asset Management, Daniel Weeks. Para ele, a Selic teria de subir mais dois pontos percentuais para 16,25%, portanto para que a inflação não estoure o teto da meta no ano que vem e convirja para o centro em 2017. Dado o discurso do BC, entretanto, Weeks diz acreditar que a autoridade monetária deve manter a Selic estável durante todo o ano de 2016.


"Acho que seria correto subir mais os juros e, com a inflação convergindo para a meta, seria possível cortar a Selic no fim do ano que vem, coisa que eu acho que o BC não vai conseguir fazer", diz.


Integrante do ranking dos "Top 5" de inflação de médio prazo do Banco Central, Weeks também está entre os economistas mais pessimistas em relação à evolução da inflação: ele prevê uma alta do IPCA de 10,04% este ano, de 7,10% em 2016 e de 5,70% em 2017 com viés de alta. Isso a despeito da expectativa de contração do PIB de 3,5% este ano e de 2% no próximo.


"Ao não reagir, ao mostrar que tem uma política monetária passiva, o BC dá espaço para uma deterioração adicional das expectativas, o que vai piorar ainda mais o cenário dele de inflação", afirma. Por outro lado, Weeks diz acreditar que uma nova alta de juros poderia dar uma mensagem positiva ao mercado que, hoje, opera sem referências fiscais, em meio a um cenário político extremamente desorganizado.


"Assumindo que ele é independente em suas ações, o BC deveria subir os juros para dizer: a parte da inflação, que é o meu objetivo, eu vou entregar. E se o fiscal for pior, vou ter que subir mais os juros", defende. "O problema é fiscal. Mas, dado que o fiscal você não consegue resolver por causa do político, vai ter que sobrecarregar o monetário."


Sem resposta nem do lado fiscal amarrado pelas questões políticas nem do monetário, o economista diz que o risco hoje é que a inflação acabe saindo de controle. "Se o fiscal não acontece, nem o monetário, tem uma chance muito grande de deixar a inflação desgarrar. É complicado ficar nesse cenário totalmente passivo. Você está jogando um jogo sem goleiro", afirma.


Embora o fiscal seja o grande ponto de deterioração da confiança dos agentes, Weeks afirma que as expectativas também reagem à baixa credibilidade do BC, após sucessivos descumprimentos das metas de inflação.


"O fato dele ter pouca credibilidade acaba ampliando esse efeito. Você piora o 'tradeoff' entre atividade e inflação. Não é à toa que estamos com uma inflação tão alta, mesmo com atividade tão fraca", afirma. "A crença de que o BC vai perseguir o 4,5%, por si só, já ajudaria e você não precisaria sacrificar tanto a atividade. Mas o BC com pouca credibilidade é obrigado a subir mais os juros para obter o mesmo resultado."


O economista observa que o risco de um novo rompimento do teto da meta de inflação no ano que vem como contempla sua projeção de inflação é algo para se preocupar. "Para qualquer BC, romper as bandas é algo que preocupa. Este ano, a gente já rompeu de longe. No ano que vem, romper de novo, é gravíssimo. Você perde referência", diz. "Ele tem que mostrar que o sistema de metas de inflação não está abandonado."


Ele lembra que, embora a meta de inflação fosse 4,5%, o mercado passou a trabalhar com uma meta implícita, de 5,5%. "E a inflação continuou subindo e a gente começou a achar que o BC aceitaria qualquer coisa abaixo de 6,5%.


Agora, não ter nem esses 6,5% de referência é algo muito ruim." Por isso, em sua visão, é difícil convencer o mercado de que a convergência, enfim, ocorrerá em 2017. "Um BC que justifica todo ano que teve choques, é complicado", diz. "Ele tem que fazer um meaculpa: minha política monetária foi mal feita, ou porque acreditei em um fiscal que não foi entregue ou porque minhas hipóteses foram muito otimistas. Mas o fato é: os números não mentem, o BC fez um mau trabalho esses anos todos."


Ao defender novos aumentos de juros, Weeks diz partir do pressuposto de que o país não está em dominância fiscal. Ou seja, não há limitação do lado fiscal para um novo aperto monetário. Ele diz que, embora seja muito difícil definir antecipadamente se há um quadro de dominância fiscal, a reação dos mercados sugerem que isso não está ocorrendo.


Do lado fiscal, observa, não é a taxa Selic a grande responsável pelo aumento dos juros nominais. Por isso, o economista diz que o BC não pode se "autoinfringir" a dominância fiscal. "Subir os juros em um quadro de dominância fiscal é um erro. Mas deixar de subir, sem estar nessa situação, também é um erro grave. Ainda mais partindo no ponto de 10% de inflação este ano, com as expectativas piorando bastante para 2016 e 2017. Pode perder a âncora da inflação, criar um sentimento de descontrole da inflação. É um cenário pouco provável, mas que ganha peso."



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