A Cabal, uma bandeira de cartões de crédito que nasceu na Argentina em 1980, chegou a outros países como Uruguai, Chile e Cuba, aposta agora no mercado brasileiro. Com 500 mil plásticos no país, projeta expansão de 30% este ano e acaba de entrar no mercado de cartões de benefícios. A meta é emitir 100 mil unidades neste segmento em 12 meses.
Como a Cabal, outras bandeiras de cartões regionais vêm crescendo e ganhando mercado pelo país. Estima-se que há 24 milhões destes cartões - considerando apenas os que podem ser usados em vários estabelecimentos (e não só na loja emissora) - segundo cálculos de Boanerges Ramos Freire, consultor da Boanerges & Cia, especializado no mercado de meios de pagamento. Em 2005, eram 18 milhões.
As bandeiras, pequenas ou grandes, somam mais de 70 e estão em praticamente todos os Estados. Costumam não cobrar anuidade e algumas focam na baixa renda. O principal exemplo é a Hipercard, que nasceu no Nordeste, como um cartão da rede de supermercados Bompreço. Cresceu tanto que deixou de ser regional. Está no Brasil todo e conta com 7,5 milhões de plásticos. Em alguns locais do Nordeste, como Recife, é mais conhecida e usada que as tradicionais Visa e MasterCard. O cartão é aceito em 250 mil estabelecimentos e devem movimentar R$ 9,5 bilhões este ano.
Segundo Ivo Vieitas, diretor da Hipercard, a meta é ser a "terceira ou segunda" força relevante no mercado de meios de pagamento brasileiro. "Estamos crescendo o dobro da velocidade do mercado, entre 30% e 40% ao ano", afirma. O setor de cartões cresce a taxas de 20%. Quando o Unibanco comprou a bandeira, em 2004, eram 70 mil estabelecimentos e 2,3 milhões de cartões. Segundo Vieitas, entre os diferenciais estão a ausência de anuidade (e demais taxas) e dois limites de crédito, um para compra à vista e outro para o parcelado.
Além da Hipercard, há outros casos de sucesso, como a Sorocred, com origem em Sorocaba, interior do Estado de São Paulo. A bandeira deve chegar este ano a 130 mil estabelecimentos afiliados, 3,5 milhões de cartões e volume de vendas de R$ 1 bilhão.
A Sorocred também chega a ser mais usada na cidade e região de Sorocaba do que a MasterCard. Em uma pesquisa recente, só perdeu para a Visa, conta José Tadeu Chiozzi, diretor regional da bandeira. Há pouco mais de 2 anos, o grupo decidiu levar a bandeira para o Nordeste. Agora já atua desde o Rio Grande do Sul ao Mato Grosso. De 2000 a 2007, o número de cartões emitidos passou de 500 mil para 3,5 milhões. Para incentivar o uso do cartão, a Sorocred criou o produto "Gold". A cada dez compras feitas e pagas, o limite de crédito é aumentado.
Já a Cabal chegou ao Brasil em 2001, por meio de uma parceria com o Bancoob, o banco das cooperativas de crédito. Na Argentina, a bandeira também nasceu graças às cooperativas. O plano agora é aumentar a presença no mercado brasileiro. Segundo Marcos Vinícius Viana Borges, superintendente geral da empresa, a bandeira negocia parcerias com outros bancos e está entrando no mercado de vales refeição e alimentação, por meio da "Cabal Vale". A bandeira tem 25 mil estabelecimentos credenciados, em Estados como Minas Gerais, Paraná e Rondônia.
O crescimento destas bandeiras tem despertado o interesse de grandes investidores. A Gávea Investimentos, que tem como sócio o ex-presidente do Banco Central, Arminio Fraga, comprou 25% da Policard, bandeira de Uberlândia (MG) e 2 milhões de cartões. Outro ex-Banco Central, Gustavo Franco, também entrou na área. A gestora Rio Bravo, da qual é sócio, criou a bandeira Unik, com mais de 600 mil plásticos.
Apesar de não contar com investidor estratégico, uma das bandeiras que mais crescem, principalmente na grande São Paulo, é a Cred-System. Focada na baixa renda, já emitiu 3 milhões de cartões. A empresa foi para a periferia procurar pequenos lojistas, supermercados e padarias. "Temos conseguido crescimento consistente nos últimos anos, mas que os 20% do setor", afirma Fábio Monteiro, gerente de marketing. A empresa nasceu há 10 anos, para fornecer crédito a lojistas e há sete resolveu entrar no mundo dos cartões.
Boa parte do crescimento destas bandeiras se deve a GetNet, empresa gaúcha especializada em credenciar estabelecimentos comerciais. São 114 mil pontos cadastrados, em 3,4 mil municípios. A meta é encerrar 2007 com 200 mil.
Aura, Cabal, Unik, Good Card, Cred-System e Sorocred estão entre os clientes da bandeira. O POS (a máquina leitora dos cartões) da GetNet é aberto. Ou seja, uma mesma POS pode ser usado pelas diferentes bandeiras. Em média, são 20 milhões de transações por mês.
A GetNet planeja agora expansão para outros países da América Latina e está investindo US$ 60 milhões este ano. O projeto começa por México, Chile e Colômbia. A meta é estar em toda a região até 2010, conta José Roberto Hopf, diretor presidente da empresa.
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