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Bancos e consultorias projetam queda de até 3,5% no PIB em 2016

27/10/2015 às 11h11


Em pouco menos de quatro meses, os principais bancos e consultorias do país abandonaram as apostas em recuperação da economia no ano que vem e passaram a estimar um cenário bastante sombrio para 2016, de queda de até 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Com elevada incerteza sobre o ambiente político do país e dificuldade para aprovação do ajuste fiscal no Congresso, a recessão será mais longa e mais intensa do que se esperava, argumentam. Ao mesmo tempo, a necessidade de mais impostos e a desvalorização do câmbio devem manter a inflação pressionada ao longo de 2016, o que manterá taxas de juros em níveis altos por mais tempo.


"Sem nenhum consenso político em vista, nós acreditamos que o governo vai enfrentar desafios para aprovar medidas fiscais no Congresso", diz o Bank of America (BofA) Merrill Lynch em relatório. "A incerteza política permanece alta, deprimindo a confiança e inibindo o investimento. Nós esperamos que a renda real disponível caia ainda mais, dada a inflação elevado, o mercado de trabalho fraco e a elevação de impostos, enquanto a disponibilidade de crédito continua a ser apertada."


Nesse cenário, o BofA considera improvável uma virada na atividade até o quarto trimestre do ano que vem, e por isso o banco passou a projetar que a recessão vai se intensificar em 2016. A instituição manteve a estimativa de retração da economia de 3,3% neste ano, mas reduziu a previsão para o ano que vem de queda de 1,4% para um tombo de 3,5%.


Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Fibra, também cortou sua estimativa para a economia brasileira no ano que vem. De uma queda de 1,2% no cenário anterior, agora Oliveira avalia que a contração da economia em 2016 deve ser de 2,6%. Para 2015, ele manteve estimativa de recessão de 3,1% do país, mas a falta de reação da economia deve deixar um carregamento estatístico muito negativo para o ano que vem. Isso quer dizer, explica, que mesmo que a economia se estabilize em 2016, uma queda de 1,6% do PIB já está contratada.


No entanto, ele ainda projeta recuo do PIB no primeiro semestre de 2016, quando só então a economia atingirá o fundo do poço.


Para ele, a piora das expectativas está em linha com a deterioração acentuada do cenário nos últimos meses. "A essa altura, não imaginava mais esse grau de incerteza política. Estamos em outubro e não sabemos a meta fiscal de 2015, imagina a de 2016".


O auge desse processo, diz, foi a perda do grau de investimento pela Standard & Poor's, gestada nos últimos cinco anos. "Essa decisão [da agência] tem implicações óbvias para o crescimento potencial da economia brasileira, já que o país passa a ter taxas de juros de equilíbrio mais altas", afirma.


Outra variável importante que piorou foi a inflação. "Há alguns meses, não esperava inflação de 10,6% neste ano e nem de 6,2% ano que vem". A manutenção do IPCA em dois dígitos por um período mais longo vai ter impacto negativo sobre a renda e a massa salarial, afetada também pela queda da ocupação. Como o investimento deve ter mais alguns trimestres negativos, a absorção doméstica deve encolher 4,7% em 2015 e 4% no ano que vem, projeta. Além disso, a confiança de consumidores e empresários permanece muito deprimida, diz.


No Boletim Macro deste mês, o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) destacou que, em setembro, a confiança dos consumidores e dos quatro grandes setores monitorados pela FGV atingiu, pela primeira vez, o mínimo histórico de maneira simultânea.


"Na melhor das hipóteses", dizem Viviane Seda Bittencourt e Aloísio Campelo, do Ibre, o índice de confiança sairá do nível de extremo pessimismo em quatro meses, isso se setembro ficar marcado como fundo do poço. O Ibre cortou projeção de PIB para o ano que vem para retração de 2,1%.


Marcelo Carvalho, economista-chefe do BNP Paribas, também piorou a estimativa para o crescimento brasileiro no ano que vem, de uma queda de 2% para contração de 2,5%. Para 2015, ele manteve sua projeção em 3%.


Em relatório, Carvalho argumenta que motivos para pessimismo não faltam. "Confiança despencando, estoques altos, aumento rápido do desemprego, contágio mais espalhado pela economia das investigações da Operação Lava-Jato, ambiente político conturbado, continuidade das conversas sobre impeachment da presidente e aumento das preocupações sobre a execução da política econômica doméstica, sem falar em ventos contrários vindos do cenário externo, conspiram para deprimir o crescimento econômico brasileiro".


Apesar da deterioração da atividade, a inflação deve se manter elevada no ano que vem, com alta de 7,5%, diz Carvalho, por causa dos aumentos de preços administrados, como energia e gasolina, e do repasse da desvalorização do câmbio para o IPCA. Diante desses elementos, o Banco Central só terá espaço para reduzir a taxa básica de juros, hoje em 14,25%, no fim do ano que vem, para 13,75%.



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