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Bancos brasileiros têm os maiores ganhos com crédito em seis anos

27/07/2015 às 11h38

O chamado "spread" bancário, a diferença entre os juros que os bancos pagam para captar dinheiro e o que cobram para emprestá-lo, atingiu em maio 29,9 pontos percentuais nas linhas de crédito livre, que excluem financiamento de imóveis e rural.

É o maior patamar desde os 30,5 pontos percentuais de janeiro de 2009, quando o governo Lula comprou uma briga com os bancos brasileiros para reduzi-lo, sob o argumento de que eram os maiores do mundo.

Naquela época, os juros do governo (Selic) estavam em 12,75% —1 ponto percentual abaixo dos 13,75% atuais— e em processo de forte redução.

O mesmo discurso foi adotado no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, que buscou derrubar os juros do mercado aumentando a concorrência através dos bancos públicos com taxas mais vantajosas. Segundo Luis Miguel Santacreu, analista da Austin Ratings, o esforço ficou para trás.

"Essa política deliberada de os bancos públicos crescerem suas carteiras de empréstimos com juros menores acabou. Os "spreads" dos bancos públicos aumentaram, e esse é um componente importante do mercado. Os bancos públicos conseguiram ganhar mercado, mas os "spread" voltou a subir", diz.

Segundo especialistas, agora os bancos elevaram os ganhos nos empréstimos para se protegerem contra o possível aumento na inadimplência, o principal custo embutido nos "spreads", que virá com a queda na renda e no emprego, e a alta de impostos e inflação.

Para o economista Roberto Troster, especialista em crédito, a diferença seria ainda maior se o Banco Central não tivesse mudado sua metodologia para o cálculo, o que diminuiu o tamanho do ganho. Quando se consideram só os dados revisados, que vão até 2011, o "spread" de maio é o mais alto da série.

Segundo Santacreu, a alta do "spread" assimila também a elevação da CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) dos bancos e possíveis medidas futuras do ajuste fiscal implementado pelo governo Dilma.

Para Miguel Oliveira, diretor de pesquisas da Anefac (associação dos executivos de finanças), o pessimismo em relação à economia tornou o indicador mais sensível às altas na taxa Selic.

A taxa de juros não só impacta no custo dos bancos para obterem dinheiro, como também influi na geração de emprego e renda, ou seja, na capacidade do tomador de empréstimo de pagá-lo.

"Em 2009, com o estouro da crise americana, via-se possibilidade de alta no desemprego, mas o cenário geral não era tão horrível", diz.

Para Oliveira, os bancos têm escolhido desde 2013 com mais cautela o destino de seus empréstimos. Ao mesmo tempo, empresas e pessoas físicas também têm sentido os sinais da economia e não estão pegando emprestado dinheiro que não têm certeza se poderão pagar.

Mesmo assim, a inadimplência das empresas nos empréstimos com recursos livres vem subindo desde dezembro e chegou a 4% em maio —em janeiro de 2009, estava em 2%, segundo o BC. A de pessoas físicas também tem subido desde dezembro e chegou a 5,4% no mês passado.

Procurada, a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) afirmou que não iria comentar o assunto.

 



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