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Banco renegocia dívida para conter inadimplência

15/12/2015 às 11h25

 

A "Black Friday" brasileira teve um participante inusitado neste ano. Na onda das promoções (nem sempre das mais vantajosas) feitas pelo varejo país afora, o Banco Santander inventou seu próprio saldão: 15% de desconto aos clientes que desejassem renegociar suas dívidas, além de 120 meses de prazo para pagar. Válida para pessoas físicas e para pequenas e médias empresas, a "Black Friday Bancária" é um pitoresco exemplo do esforço que os grandes bancos têm feito em 2015 para repactuar as dívidas de seus clientes e evitar um avanço maior dos índices de inadimplência.


Do fim de dezembro de 2015 passado até setembro deste ano, o estoque de operações de crédito renegociadas pelos quatro grandes bancos de capital aberto cresceu 18,43%, somando R$ 54,95 bilhões, entre operações repactuadas de companhias e de famílias. No mesmo intervalo, a carteira de empréstimos dos quatro avançou apenas 5,79%, mesmo com a ajuda da desvalorização do real.


No Banco do Brasil, que registrou o maior avanço nas repactuações, o estoque de operações cresceu 64,36% ante o começo do ano, somando R$ 16,6 bilhões, ou 2,3% do estoque de crédito do banco. Em dezembro, essa fatia era de 1,5%. A relação, porém, é inferior à de Itaú Unibanco (2,8%) e Bradesco (3,3%). Já no Santander, a carteira de renegociação é 4,9% do estoque total, mas caiu 8,3% na comparação com dezembro.


A Caixa Econômica Federal divulga os dados de renegociação de forma diferente dos demais, mostrando apenas os fluxos renegociados em determinado período e não o saldo das operações. Mesmo nesse critério houve crescimento substancial. Nos nove primeiros meses de 2015, o banco renegociou R$ 9,29 bilhões em empréstimos, volume 21,7% superior ao do mesmo período do ano passado.


O incremento nas renegociações acendeu a luz amarela entre analistas e virou tema recorrente nos questionamentos aos bancos. A preocupação é se o que foi renegociado nos últimos meses vai apenas adiar um aumento da inadimplência.


"O que temos percebido são os bancos agindo de maneira mais pró-ativa na renegociação, mesmo de clientes que estejam ainda em dia", afirma Claudio Gallina, analista da Fitch Ratings. A agência de classificação de risco tem pedido aos bancos mais dados sobre essas operações e vem monitorando se os créditos repactuados preventivamente se mantêm em dia.


É essa estratégia proativa que adotou o Banco do Brasil. "No segundo trimestre deste ano passamos a agir de forma preventiva, renegociando empréstimos em vias de atrasar", diz Walter Malieni, vice-presidente de gestão de riscos do BB. Segundo o executivo, o volume de renegociações do banco se concentrou na faixa de empresas de médio porte pelo critério do banco, com faturamento de até R$ 150 milhões por ano. "É fundamental manter o relacionamento com o cliente para um momento de recuperação econômica".


Ao perceber que muitos clientes se dirigiam a órgãos de defesa do consumidor antes de sequer procurar o banco para renegociar suas dívidas, o BB decidiu criar um portal na internet para facilitar esse contato. Metade dos acessos ao site hoje vem de pessoas que ainda não estão inadimplentes.


Malieni afirma que o banco exige o pagamento da primeira parcela para considerar uma dívida renegociada, o que reduz a exposição do banco àquele cliente. Segundo o executivo, a repactuação envolve, na maior parte dos casos, um alongamento da dívida, para cerca de três anos, em média.


Em um relatório recente sobre o Banco do Brasil, a agência Moody's calcula que o índice de inadimplência do banco público, hoje perto de 2%, seria próximo de 3,7% caso a instituição não renegociasse empréstimos em atraso.


A conta só é possível de ser feita porque o BB divulga o índice de inadimplência dos empréstimos renegociados, o que não é comum entre os demais bancos. Em setembro, o BB tinha 15,3% de atrasos acima de 90 dias nesse portfólio.


Na divulgação de resultados do terceiro trimestre, o Itaú abriu os dados da carteira de renegociação desde 2010 para sinalizar que os indicadores atuais estão abaixo da média histórica. Entre janeiro e setembro, o saldo de operações renegociadas no banco cresceu 16,4%, para R$ 13,5 bilhões. Parte desse aumento, contudo, está relacionado à variação cambial, afirmou Eduardo Vassimon, vice-presidente executivo e diretor financeiro do Itaú, durante teleconferência de resultados. No Bradesco, as renegociações avançaram 12,1% neste ano, para R$ 12,1 bilhões. Procurados, os bancos não comentaram.



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