Isso porque pode se tornar um estímulo para pegar mais e mais empréstimos. Em outras palavras, para fazer novas dívidas. Em maio, a presidente Dilma tinha derrubado uma proposta parecida e argumentou que poderia aumentar o endividamento e a inadimplência das famílias.
A mudança na regra do crédito consignado vale para trabalhadores da iniciativa privada, servidores públicos, aposentados e pensionistas. Juntos, eles já pegaram R$ 58 bilhões emprestados este ano só nesse tipo de financiamento. Os juros do consignado são baixos, 27,2% ao ano, em média, enquanto em outros tipos de crédito pessoal passam de 100% ao ano.
A partir de agora, o limite da prestação poderá ficar um pouco maior: aumenta de 30% para 35% do salário ou aposentadoria, mas o valor extra só poderá ser usado para pagar despesas com cartão de crédito.
Economistas e consultores de finanças temem que a mudança acabe estimulando o endividamento das famílias, especialmente dos aposentados. Números do Banco Central mostram que eles já vêm recorrendo mais a esse tipo de empréstimo. Enquanto o volume total de empréstimos consignados caiu 12% este ano, o crédito para os aposentados do INSS subiu 2% entre janeiro e maio.
Os idosos estão com dificuldades para pagar as dívidas. A inadimplência subiu mais no grupo de pessoas que têm acima de 61 anos, passou de 11,8% para 12,2%, como aponta pesquisa do Serasa Experian.
O professor de Finanças avalia que o aumento do limite consignável pode ser um perigo para pessoas mais idosas e que não tem muito esclarecimento sobre as regras e riscos de comprometer mais de um terço da renda com empréstimos. “São pessoas mais vulneráveis, mais suscetíveis a por exemplo algum problema de saúde e outros tipos, inclusive de ocorrências”, afirma Marcos Sarmento Melo.
Ele também lembra que o assédio dos bancos aos aposentados costuma ser grande. “Se alguém lhe concede a possibilidade de tomar mais recursos e você sempre tem a necessidade e a possibilidade de gastar mais dinheiro em outras necessidades, é claro que a pessoa até pela facilidade de se obter esses recursos acaba tomando dinheiro emprestado”, ressalta.
Aposentado pelo INSS, seu José Custódio de Melo tem 30% da aposentadoria comprometida com o pagamento de consignados e conta que é difícil se livrar deles. “Quando estava quase vencendo um, as meninas me ligavam e me ofereciam e eu pegava, estava precisando do dinheiro. Espero não fazer, se eu fazer vai diminuir mais o salário, já é pouco e vai diminuir mais”, diz.
Essa foi a segunda mudança feita nas regras do crédito consignado para os aposentados e pensionistas. Em setembro do ano passado, o Conselho Nacional da Previdência Social aumentou o prazo para o pagamento dos empréstimos de 60 para 72 meses.