Mesmo com o forte elevação do crédito nos últimos quatro anos, com aumento de 170% da carteira de pessoas físicas desde 2003, os bancos apostam em crescimento igual ou ainda maior para 2007 e já deram início ao avanço nos dois primeiros meses de 2007. O destaque fica por conta do financiamento de veículos, que já atingiu R$ 60 bilhões em fevereiro.
Segundo o presidente do Banco do Brasil, Antônio Francisco de Lima Neto, o avanço do crédito até agora está acima do esperado. "Normalmente o primeiro trimestre é muito bom no banco Brasil por conta dos financiamentos dos impostos e outros gastos de início de ano, mas está além do que foi nos anos anteriores tanto para pessoas físicas quanto jurídicas".
Ele explica que além do aumento da demanda, existe um aumento da atuação do próprio banco, com "aumento na força de venda". O banco, maior do País, responde por 16,5% do mercado de brasileiro e espera crescer novamente 30% a carteira. Em veículos, o avanço já é de 30%.
A linha de crédito ao consumidor foi a que mais cresceu na Caixa Econômica Federal, segundo o superintendente do banco, Laércio de Sousa. Em relação a fevereiro do ano passado, o aumento foi de quase 35%. "As instituições têm percebido que com as despesas de início do ano as pessoas têm se endividado muito nessa época", avalia. O crédito rotativo já subiu 15% neste ano.
"Não houve decréscimo da demanda e o crédito está aquecido. Antes havia uma parada da atividade no fim do ano, mas hoje não vemos mais essa redução", explica o superintendente executivo de middle market do Banco Real, Altair Assumpção.
Segundo o vice-presidente do Banco Votorantim, Milton Roberto Pereira, o ritmo do crédito está dentro do previsto. "Não vemos nenhum sinal negativo. Está absolutamente normal, com crescimentos importantes para nós", avalia. O banco, que está entre os dez maiores do país, espera crescer entre 40% e 45% no crédito para pessoas físicas.
O diretor-executivo do Bradesco, Ademir Cossiello, enfatiza o avanço do crédito ao consumo, com veículos e consignados muito aquecidos, mas ressalta que na carteira total ainda há um recuo no início do ano. "Apesar desses movimentos, não há mais o medo de que tudo recue com um tremor lá fora. Percebe-se uma continuidade e os projetos em estudo vêm tendo segmento".
Ele lembra ainda que os repasses do BNDES começaram com muita força no ano, segmento em que o banco é líder.
No Itaú, apesar do crescimento ainda não ser tão forte, a expectativa é otimista. "O começo de ano é mesmo mais fraco no Itaú porque dezembro a carteira cresce muito e em janeiro e fevereiro as pessoas estão mais reticentes", avalia o diretor de controladoria do banco, Silvio de Carvalho. "Isso deve melhorar nos próximos meses", completa o executivo.
A avaliação dos bancos está em linha com os dados do Banco Central para o sistema financeiro até janeiro. O crédito para pessoas físicas destinado por bancos públicos avançou 2,8% para as pessoas físicas, superior às instituições privadas, que destinaram 1,8%. Ambos estão acima do crescimento médio mensal do ano passado, que foi de 1,6%. Até o final de janeiro, o crédito total estava em R$ 740 bilhões.
O otimismo mostra a disposição dos bancos em ampliar a concessão de crédito. Para 2007, a previsão de crescimento médio das carteiras dos dez maiores bancos é de 26%, podendo chegar próximo de R$ 650 bilhões. No ano passado, o volume atingiu de R$ 513 bilhões, com elevação média de 26,8% em relação ao montante do ano anterior.
A aposta para este ano e destaque até o momento é o financiamento de veículos. Segundo dados da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi) a carteira de crédito para veículos atingiu R$ 60 bilhões no mês de fevereiro, com crescimento de 27% em relação ao mesmo mês de 2006. "A elevação da renda, a estabilidade econômica e a queda dos juros eleva o consumo, como o de bens duráveis", diz o chefe do departamento de análise da corretora Coinvalores, Marco Aurélio Barbosa.
"O veículo ainda é o principal alavancador do crédito, seguido pelo consignado", avalia o presidente da Acrefi, Érico Quirino Ferreira. Hoje o setor representa quase 35% do volume de crédito dos bancos, acima do consignado, que está na faixa de 30%.
Outra aposta das instituições é o crédito imobiliário, que não deve sofrer influência da crise que atinge o mercado americano. "Este é um segmento que está amadurecendo e não vejo correlação direta entre o mercado americano e o brasileiro", acredita o diretor-executivo do HSBC, Henrique Frayha. Os novos negócios já cresceram 67% no bimestre, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) e 2,6% e janeiro, de acordo com os dados do BC.
|