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Anatomia do desastre financeiro do Brasil

24/09/2015 às 10h56

O Brasil está passando por uma repetição do tipo de desarticulação financeira de um mercado emergente que muitos esperavam que tivesse sido deixada para trás na década de 80 e começo dos anos 2000. Se não for reprimido por um "circuit breaker" referência ao mecanismo das bolsas que interrompe as operações em momentos de oscilações muito bruscas , esse ciclo autossustentável poderá ganhar força, expondo o país a choques econômicos que afetarão de maneira particularmente dura os pobres e contribuirão para a disfunção política.

Em resposta a uma saída de recursos dos fundos de investimentos e a aceleração da fuga de capital, os três principais mercados financeiros do Brasil estão presos em um processo de reforço mútuo de destruição de valor. O resultado é uma combinação terrível de grande desvalorização cambial e aumento de custos de empréstimos externos e do juro doméstico.

Essas tendências exacerbam a ameaça de dois ciclos viciosos adicionais. O primeiro liga o governo ao setor corporativo. Quanto mais os bônus soberanos e a moeda são pressionados, maior a ameaça de contágio para o setor corporativo.

O rebaixamento da nota de crédito do Brasil ao grau especulativo pela S&P já reduziu as classificações de empresas do país, aumentando os custos dos empréstimos a refinanciamentos de forma generalizada. Enquanto isso, o escândalo da Petrobras, a maior empresa do país, desperta temores de que o Estado poderá ser forçado a intervir com um socorro financeiro, contribuindo para o desconforto com a situação financeira do país.

O segundo ciclo liga o setor financeiro às perspectivas econômicas. Quanto mais os mercados financeiros forem perturbados, maior o risco para a economia como um todo, que já está lutando contra uma recessão e a inflação elevada. Esse ciclo poderá levar à disparada dos custos de produção, queda da atividade, aumento do desemprego, queda dos salários reais, diminuição do consumo e aceleração da fuga de capital.

Quando não se faz nada, esses tipos de ligações se alimentam de si mesmos, expondo o país ao que os economistas chamam de um "equilíbrio múltiplo": o risco de em vez de reverter para a média (encontrar-se o caminho de volta à estabilidade), a economia do Brasil se deteriorar ainda mais, aumentando o risco do deslize para um resultado ainda pior.

O Brasil precisa desesperadamente de um "circuit breaker" para eliminar a crescente ameaça de consequências negativas em cascata. A melhor maneira de conseguir isso seria através de uma série de decisões oficiais definidas pelo governo e aprovadas pelo Congresso, que restabeleçam a dinâmica de crescimento, contenham a deterioração fiscal e revertam as crescentes pressões inflacionárias.

Tais medidas levariam a uma normalização bem rápida dos mercados financeiros, resultando em uma valorização cambial e uma redução notável dos custos dos empréstimos, doméstica e internacionalmente. Com isso em mente, o governo submeteu uma série de propostas fiscais ao Congresso Nacional. Infelizmente, a disfunção política do país torna as perspectivas de uma aprovação plena nada animadoras.

A história nos mostra que quando um país adia a implementação de um "circuit breaker" doméstico, essa função em potencial é transferida pelo menos parcialmente para atores externos, incluindo organizações multilaterais lideradas pelo FMI. E quanto mais demorar para essa combinação de medidas externas e domésticas se aglutinar, mais duras terão de ser as reformas a serem aceitas pelos líderes políticos e a população do país.

Sem a rápida implementação de "circuit breakers", uma estabilização das condições financeiras do Brasil dependerá do reengajamento em grande escala do capital externo e do retorno do capital em fuga. Isso não deve acontecer enquanto os preços dos ativos brasileiros e o valor de sua moeda despencarem para níveis ainda menores e isso ofereça a investidores estrangeiros e domésticos retornos ajustados aos riscos que sejam interessantes. Esta foi a situação no quarto trimestre de 2002, quando tais circunstâncias quase provocaram um caro "default" do país.

Para aqueles que acompanham de perto o Brasil, o momento evoca esperança e ansiedade. A esperança é baseada no conhecimento de que com uma melhor governança, não seria preciso muita coisa para recuperar essa economia promissora. A ansiedade envolve a possibilidade de mais uma vez a classe política deixar de servir os cidadãos de maneira adequada, provocando sofrimento para os segmentos mais vulneráveis da população.



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