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Altas da Selic beneficiam mais privados

28/01/2014 às 11h44

 

28/01/2014 às 00h00

Altas da Selic beneficiam mais privados

Por Fernando Torres e Carolina Mandl | De São Paulo

Um período de oito meses de altas consecutivas da taxa básica de juros será um importante combustível para os grandes bancos privados recuperarem - ou pelo menos manterem - participação de mercado no crédito a partir deste ano.

Desde a crise financeira de 2008, os bancos públicos vêm ganhando espaço no estoque de empréstimos do país, e a expectativa do Banco Central é que as instituições oficiais tenham encerrado 2013 com uma participação de 50,8% do saldo, ante 36% em 2008.

Esse ganho de participação ocorreu não apenas pela maior disposição de emprestar, mas também porque os bancos públicos lideraram os cortes de taxas desde abril de 2012, quando a presidente Dilma Rousseff lançou sua campanha de redução dos spreads.

Com a volta da Selic para 10,5% ao ano, executivos de bancos privados avaliam que as instituições públicas vão perder parte desse diferencial. Por causa da elevação dos seus custos de captação, Banco do Brasil (BB) e Caixa Econômica Federal (esta última em menor grau e mais para pessoa jurídica) estão subindo o preço que cobram nos empréstimos dos clientes.

Em seis linhas de pessoa jurídica acompanhadas sistematicamente pelo Valor, o BB fez repasse acima da Selic em cinco, e a Caixa, em duas. Já entre os bancos privados, que não reduziram tão intensamente as taxas no passado, a expectativa é que os repasses de juros sejam mais moderados agora. "Se corrigirmos muito, a tendência seria de as instituições públicas continuarem ganhando mercado", diz o diretor de um banco.

Ou seja, as instituições privadas vão continuar a ter taxas maiores que as públicas na maior parte das linhas, mas a diferença entre elas tende a diminuir ao longo deste ano.

Em recente entrevista ao Valor, o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, chegou a dizer que "seguramente em 2014, 2015 os bancos privados vão ganhar fatias de mercado".

Existe outro fator que pode impedir que o repasse da Selic para os juros seja muito intensivo por parte dos bancos privados. Um executivo avalia que, diante de uma atividade econômica mais fraca, altas de juros mais severas poderiam reprimir ainda mais a demanda.

Outro diretor de instituição financeira privada lembra que a competição entre os bancos está muito acirrada. "Aquele movimento de 40 milhões de pessoas que migraram para a classe média já aconteceu. Agora é disputar a clientela que existe", diz.

A alta de juros acima da elevação da taxa básica entre os bancos públicos se justificaria por dois motivos. Um deles é que os juros futuros, que servem de referência para as taxas cobradas em empréstimos de prazo mais longo, subiram 1,5 ponto percentual mais do que a Selic de março a dezembro. Além disso, como a curva de juros toda subiu mais do que as instituições antecipavam quando concederam crédito ao longo do ano passado, essa defasagem de margem estaria sendo recomposta agora.

Esse descasamento ocorre porque os bancos captam pagando taxa pós-fixada e emprestam quase sempre com juros fixos. Quando eles concedem o crédito, trabalham com uma projeção de quanto será o custo médio de captação ao longo do período. Mas, se os juros se comportam de forma diferente do previsto, eles podem ter uma margem maior ou menor que a projetada. No caso mais recente, está menor, o que justificaria as elevações.

Apesar de a projeção central dos bancos privados indicar recuperação da participação de mercado a partir deste ano, existe um cenário alternativo que contempla um avanço ainda maior no crédito dos bancos públicos. Se a atividade econômica der sinais de maior fragilidade, executivos de bancos avaliam que as instituições públicas podem voltar a adotar uma postura mais agressiva na concessão de empréstimos (CM e FT). 

 

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