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Imprensa
Mercado passa a ver mais altas da Selic em 2021

Após ser surpreendido com um aumento de 0,75 ponto percentual na Selic pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), o mercado começa a calibrar as expectativas e se movimenta para níveis mais altos do que os estimados anteriormente para a taxa básica de juros no fim deste ano. Em pesquisa conduzida pelo Valor entre quinta e sexta-feira com 72 instituições financeiras e consultorias, a mediana das projeções coletadas apontava para a Selic em 5% no fim deste ano. Antes da reunião do Copom, o ponto médio das estimativas indicava o juro básico em 4,5%.
 
A indicação do Copom de que deseja fazer um ajuste parcial da política monetária neste ciclo, inclusive, foi deixada de lado por alguns agentes. Assim, ganhou força no mercado a interpretação de que talvez o BC terá de levar a Selic a níveis superiores aos 4,5% indicados para este ano.

“Pelo modelo, faz sentido falar em normalização parcial, porque o BC não tem um cenário de inflação tão ruim quanto o nosso”, afirma o economista-chefe da Garde Asset, Daniel Weeks, que trabalha com o IPCA em 5,5% neste ano e em 3,7% em 2022. “Estamos com um cenário mais desafiador e, por isso, nossa projeção tem uma normalização completa”, diz o economista. Para ele, o BC deve averiguar ao longo do tempo a necessidade de se levar a zero o estímulo. Na visão da Garde, a Selic deve encerrar este ano em 6% e chegar a 6,5% em 2022.

Entre os que se moveram em direção à mediana das projeções, está a Rio Bravo Investimentos. “A decisão do Copom foi surpreendente em todos os lados, não apenas em relação ao número principal, mas também ao tom — em especial, a preocupação com a possibilidade de a inflação deste ano acabar contaminando as expectativas para 2022”, diz o economista João Leal.
 
“Ainda não vimos isso ocorrer no Focus, mas pode ser que comece a aparecer nas próximas semanas. Diante dessa questão, entendemos que o BC precisará elevar a Selic mais do que o antecipado, justamente para impedir que a inflação estoure o teto da meta neste ano e também que influencie o próximo”, afirma Leal. A Rio Bravo espera que o Copom conceda mais uma alta de 0,75 ponto em maio, seguida de três elevações de 0,50 ponto. Com isso, o IPCA terminaria 2021 em 4,80% e 2022, em 3,50%.

Apesar da sinalização do Copom de que irá conceder aumento de igual magnitude em maio, a curva de juros tem apontado para um caminho mais agressivo. No fechamento dos negócios de sexta-feira, ela indicava aproximadamente 65% de chance de uma elevação de 1 ponto percentual no próximo encontro.

A economista-chefe do Credit Suisse Brasil, Solange Srour, enfatiza que, com um ciclo que já começa com uma alta de 0,75 ponto, “dificilmente o BC terá como desacelerar o ritmo, a não ser que a expectativa de inflação desacelere rapidamente”. O cenário da casa contempla mais cinco altas de 0,75 ponto, levando o juro básico a 6,5% em outubro.

“O risco é a Selic ficar acima disso porque a incerteza fiscal é grande”, alerta. O nível de 6,5%, na visão da economista, seria o conhecido como juro neutro, o qual ela julga adequado hoje em razão do risco fiscal e da necessidade de ancoragem de expectativas de inflação, em meio à aceleração da atividade com o progresso da vacinação.

No levantamento do Valor, os agentes também informaram projeções para a inflação medida pelo IPCA neste ano e no fim de 2022. A mediana para a inflação em 2021, extraída de 66 respostas, ficou em 4,76%. Já em relação ao fim do próximo ano, o ponto médio de 65 projeções coletadas ficou em 3,60%, nível ligeiramente superior ao centro da meta de 2022 (3,50%).
 
O economista Rafael Ihara, da Mauá Capital, aponta que a reação mais agressiva do BC “teve como objetivo, justamente, evitar a desancoragem das expectativas”. A avaliação da Mauá é que o BC “foi mais agressivo do que os fundamentos indicavam”, mas deixou alguns pontos mais inclinados à manutenção dos estímulos e que devem ser observados.

“O modelo do BC projeta a inflação de 2022 na meta de 3,50% com a Selic indo a 4,50% neste ano e um câmbio de R$ 5,70 por dólar. Como essa resposta inicial foi mais dura do que o esperado, a tendência é que o câmbio aprecie um pouco. Além disso, há expectativa de votação da reforma administrativa, o que deve contribuir com alguma redução do prêmio de risco e apreciação cambial, ajudando na dinâmica inflacionária”, afirma Ihara. Na semana passada, o dólar acumulou queda de 1,54%.

O economista lembra, ainda, da segunda onda da covid-19, cujos efeitos na mobilidade devem levar a um enfraquecimento da atividade econômica. “Não temos dúvida de que o impacto será desinflacionário”, afirma o profissional, notando que modelos do próprio BC com simulações sobre uma segunda onda apontam para a retirada de até 1 ponto percentual da inflação. A Mauá, assim, trabalha com um cenário de Selic em 4,5% no fim deste ano.
Atento à piora na atividade, o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, concorda que o ciclo deve ser interrompido quando a Selic chegar a 4,5%. “O BC não estava satisfeito com o nível extraordinariamente estimulativo do. Como o problema está no estímulo extraordinário, revisamos nossa projeção para 4,5%.”

A Ativa também passou a trabalhar com um cenário de menor pressão inflacionária em 2022, ao cortar a projeção para o IPCA de 3,2% para 3,0% no ano que vem. “O BC quis mostrar um comunicado bastante duro para aplacar as expectativas. Sabemos, contudo, que a elevação mais célere do juro faz com que a atividade não seja tão estimulada assim”, afirma Sanchez.
 
Já o economista-chefe da AZ Quest, Andre Muller, enfatiza que o Copom mostrou um comprometimento maior com a inflação. “Isso deve permitir que, no ambiente desafiador atual, as expectativas sigam ancoradas.”

Muller enfatiza, porém, que o BC deve manter aberta a opção de, eventualmente, até acelerar o passo caso o cenário se deteriore ainda mais. Para as próximas duas reuniões, a AZ Quest trabalha com elevação de 0,75 ponto na Selic, que deve encerrar o ano em 5%.

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