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Imprensa
Pressão inflacionária preocupa e intensifica dúvida sobre rumo da Selic

O choque rápido e intenso nos preços de commodities e a taxa de câmbio ainda em nível bastante depreciada fizeram com que a “folga” existente nas expectativas de inflação para este ano diminuísse em pouco tempo - e o mercado passou a se preocupar cada vez mais com as pressões inflacionárias. O debate agora se concentra em quando o ciclo de normalização da política monetária terá início - se em março ou maio -, no momento em que a curva de juros já embute em seus preços 69% de chance de uma elevação de 0,25 ponto percentual em março e 31% de possibilidade de alta de 0,50 ponto.
 
“Estamos mais preocupados do que a média do mercado com o cenário inflacionário”, diz o economista-chefe da Truxt Investimentos, Arthur Carvalho, cuja projeção aponta para IPCA em 3,8% no fim deste ano, ligeiramente acima do centro da meta. “O que aprendemos com a inflação recente é que o processo está um pouco mais forte do que o esperado e isso tem implicações relevantes para a política monetária”, afirma o economista, que projeta a Selic chegando a 4,5% até o fim do ano, em um ciclo que deve ter início em maio.
 
Diante de uma inflação que ficou acima do centro da meta em 2020 e com as expectativas de inflação em 3,6% no fim deste ano, “não há mais necessidade de um grau de estímulo extraordinário”, como sinalizado pelo próprio BC na ata da reunião de janeiro do Copom, afirma Carvalho. O economista avalia que “a barra para subir os juros em março é um pouco mais alta”, mas não descarta esse cenário por completo.
 
Em seu cenário básico, porém, a Truxt contempla elevações de 0,50 ponto a partir de maio, que levariam a Selic a 4,5% até o fim do ano. “Imagino que o BC pense que fará menos do que isso, mas acho que eles entregarão um pouco mais”, diz Carvalho.
 
A evolução das expectativas de inflação no mercado mostra uma aceleração gradual das projeções para este ano. Em 7 de dezembro, a mediana das estimativas do mercado para o IPCA no fim deste ano estava em 3,34% e, no Boletim Focus divulgado ontem, o ponto médio apontava para a inflação em 3,60%, com a projeção para o juro básico em 3,50% no fim do ano. Nos cálculos de Luis Laudisio, trader de renda fixa da Renascença, a curva de juros precifica a Selic em torno de 5,25% em 2021.
 
Há cerca de um mês, a Garde Asset enxergava o IPCA ao redor de 3% em 2021. Agora, a projeção da gestora está em 3,7%, praticamente no centro da meta para o ano. Já em relação à taxa básica de juros, a expectativa da casa é que o processo de normalização monetária tenha início já em março, com quatro aumentos de 0,50 ponto, que levarão a Selic a 4% - nível que será mantido até o fim do ano.
 
“Um mês atrás, a gente enxergava que o BC estava bem tranquilo, porque havia uma folga até a meta. Agora ela se foi. Todo o grau de liberdade que você tinha dessa folga para a meta foi consumido. Qualquer choque adicional, se o petróleo sair de US$ 60 para US$ 70 por barril, por exemplo, vai gerar pressão e a inflação, provavelmente, vai ficar acima da meta”, diz o economista-chefe da Garde, Daniel Weeks. “Perdemos o conforto de estar com essa folga.”
 
O economista acredita que se não houver uma alta Selic já em março, como está precificado no mercado, o câmbio pode reagir mal e a curva de juros deve ganhar um pouco mais de inclinação, além da possibilidade de haver um aumento da inflação implícita. “Só um comportamento muito ruim da atividade tiraria o aumento da taxa de juros de março”, avalia.
 
O economista-chefe da JGP, Fernando Rocha, defende que o início do ciclo de elevação de juros tenha início somente em maio para que o BC possa avaliar o desempenho da atividade neste início de ano. Ele, contudo, acredita que o encontro de março pode ser o escolhido para o começo do aperto monetário, a depender do cenário fiscal, por exemplo. De acordo com Rocha, o retorno do auxílio emergencial pode ser um dos fatores considerados pelo BC para elevar a Selic em março.
 
“De qualquer forma, o segundo auxílio será muito mais contido, o valor será menor... Tudo está bem nebuloso ainda. Ainda trabalho com quatro altas de 0,50 ponto na Selic a partir de maio”, afirma.
 
Para Rocha, um processo de normalização se faz necessário, tendo em vista que as pressões inflacionárias recentes e a desvalorização cambial. “A projeção de inflação está bem próxima à meta e o juro real ainda está negativo. O BC deve procurar normalizar esse cenário. Com o passar do tempo, se as expectativas de inflação se deslocarem para níveis acima de 4%, o BC pode elevar ainda mais os juros e de forma mais acelerada. Se as expectativas ficarem perto da meta, é possível que o BC leve a Selic a 4% no fim do ano.”
 
Cenário semelhante é defendido por André Loes, sócio e economista da Kairós Capital, que também vê o início das altas de juros em maio, com a Selic em 4% no fim do ano. Ele argumenta que o avanço dos preços das commodities tem sido um fator determinante para a pressões inflacionária, até mais do que a depreciação cambial, cujos efeitos ainda esbarram na ociosidade elevada da economia brasileira.
 
“Os bancos centrais, em geral, têm uma forma de mudar a direção do navio de maneira relativamente gradual”, diz Loes. O BC, no entanto, pode ser “atropelado pelos fatos”, afirma. Se a pressão inflacionária for maior, a autoridade monetária poderia começar a normalizar os juros em março, reconhece.
 
Uma sinalização para esse cenário deve vir dos próximos resultados dos núcleos de inflação. “O que você fizer agora em março ou maio não tem impacto no que vai acontecer na corcova de inflação do segundo trimestre, mas tem impacto em 2022. Se o BC vir condições piores, pode ter risco de subir até mais do que os 4% até o fim do ano”, diz.

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