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Imprensa
Rumo da Selic em 2021 gera divisão entre analistas

Diante de um cenário ainda bastante turvo quanto aos rumos da economia brasileira neste ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne na próxima semana, em um encontro que deve manter a taxa básica de juros inalterada nos atuais 2% ao ano. Essa é a expectativa unânime de 90 instituições financeiras e consultorias consultadas pelo Valor nesta semana.
 
Esse alto nível de conformidade entre os analistas, porém, não se espalha para outros pontos, como a definição sobre se o “forward guidance” (prescrição futura) continuará em vigor no comunicado da decisão da semana que vem ou se já será retirado. Além disso, uma divisão ainda maior entre analistas se dá na avaliação dos cenários para a política monetária ao longo do ano. No levantamento, o ponto médio das estimativas aponta para a taxa em 3,25% em dezembro. No entanto, há instituições que projetam a Selic em 5%, enquanto uma parte dos analistas vê o juro básico inalterado ao longo de todo o ano.
 
“Se o risco de baixo crescimento se concretizar, a taxa de desemprego deve se manter em nível relativamente alto e o ritmo de crescimento da população ocupada deve ser lento, afastando o risco de pressão inflacionária forte o bastante para desancorar as expectativas de inflação, sobretudo para 2022”, afirma o economista-chefe do banco Fibra, Cristiano Oliveira. Para ele, inclusive, o risco de elevações na Selic está “bastante atrelado” ao processo de recuperação da economia brasileira.
 
Em sua avaliação, a retirada da prescrição futura da comunicação não indica um aumento imediato da taxa básica de juros e nem mesmo na reunião seguinte. “Significa apenas que voltará a valer a estrutura anterior: analisar a cada reunião as projeções dos modelos do BC, se as estimativas do mercado estão ancoradas, a postura fiscal etc”, afirma.
 
A continuidade ou retirada da prescrição futura nesta reunião é um dos pontos mais discutidos entre analistas. A economista-chefe do Credit Suisse Brasil, Solange Srour, afirma que a sinalização fornecida pela ferramenta já não é mais efetiva, ao apontar que o próprio Copom ressaltou desde dezembro que o ano-calendário de 2021 perderá relevância ao longo dos próximos meses, ao mesmo tempo em que projeções e expectativas de inflação de 2022 já estão em torno da meta.
 
“Nossos modelos indicam uma defasagem da política monetária em torno de nove meses. Assim, na reunião de março, o Copom já deveria considerar o ano de 2022 com um peso majoritário na tomada de decisão. Manter o forward guidance em janeiro não traz efetividade em guiar as expectativas a respeito da política monetária para os próximos meses”, diz. Ela lembra, ainda, que a ferramenta foi implementada em agosto, em um cenário onde a expectativa de inflação era de 1,6% para 2020, 2,9 pontos percentuais abaixo do realizado, e de 3,0% para 2021, 0,34 ponto inferior à expectativa atual.
 
O cenário básico do Credit Suisse aponta para a Selic em 4,5% no fim deste ano, inflação acima do centro da meta e não contempla flexibilizações no teto de gastos. “Temos IPCA de 4,20% para o ano e já estamos com a inflação acima da meta há algum tempo devido aos efeitos da inércia, repasse cambial, alta das commodities e retomada do setor de serviços", ressalta a economista.
 
A Genoa Capital é outra casa a apontar que a retirada da prescrição futura na semana que vem é justificável, diante da proximidade entre as expectativas de inflação de 2021 com o centro da meta. O economista-chefe da gestora, Igor Velecico, inclusive, diz acreditar que a decisão sobre a queda ou a continuidade da ferramenta “se tornou mais discricionária” diante do cenário estabelecido.
 
“Entendemos que há maior probabilidade de o ‘forward guidance’ ser retirado já. No entanto, como atualmente 2021 ainda tem peso relevante no horizonte do BC, pode ser que o Copom deixe para fazê-lo em março”, pondera Velecico, cujo cenário básico aponta para um IPCA de 3,3% neste ano e de 3,5% em 2022, o que é compatível com um processo gradual de elevação da taxa básica de juros, que chegaria a 4% no fim deste ano.
 
O economista-chefe da Verus, Rafael Sabadell, espera a derrubada da prescrição futura na semana que vem, ao analisar o cenário macro recente, diante dos indicadores mais recentes de inflação e de um quadro fiscal ainda preocupante. Em linha com o que tem sinalizado há bastante tempo, no entanto, o comitê deve pontuar que isso não significa uma alta imediata dos juros, o que deve ocorrer apenas no meio do ano no cenário da Verus.
 
“O BC vem emitindo sinais de preocupação adicional com a situação fiscal, além de dados recentes de inflação terem cedido menos do que os agentes esperavam. Os dois pontos devem servir como justificativa para a remoção do instrumento. Apesar disso, como explicitado pelo próprio BC, o abandono do ‘forward guidance’ não implica automaticamente em alta de juros, afirma o profissional".
 
Há no mercado, porém, quem entenda que o forward guidance deve ser mantido na semana que vem. É o que defende o economista César Garritano, da Renascença, para quem o ponto central das discussões do Copom “envolverá a visão dos diretores a respeito de qual o momento ideal para a retirada”.
 
É possível, de acordo com Garritano, que o Copom deixe ainda mais claro que o momento de encerramento do instrumento se aproxima. “Nossas apostas apontam para a retirada deste dispositivo em março, sendo que o ciclo de aperto das condições monetárias deverá se iniciar em agosto, através de pontuais aumentos de 0,25 ponto”, diz Garritano.
 
O superintendente de pesquisas macroeconômicas do Santander Brasil, Mauricio Oreng, concorda com a avaliação de manutenção da prescrição futura nesta reunião, mas também acredita que a comunicação deve trazer “sinais de provável abandono em março”. O cenário básico do banco contempla, ainda, IPCA que termine este ano em 3,0%, embora haja um viés de alta nas projeções.
 
O Santander também espera que a Selic comece a ser elevada somente em outubro e termine o ano em 2,50%. Oreng aponta que o banco conta com a manutenção do compromisso com o teto de gastos e não considera a criação de despesas “por fora”, de forma “que eventuais aumentos ou extensões temporárias de auxílios emergenciais ou gastos sociais seja compensado por cortes de gastos obrigatórios.

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